photo by Dimitry Roulland
A ficha cai: a babaquice não tem mais volta. O jardim da
casa, a viagem, o show, a comida, o filho, a neta, o cachorro e o gato e a mãe, as amigas da mãe
- tudo, tudo tão maravilhoso,
inclusive o autor da foto, portanto porque não exibir aos “amigos”? Como somos excepcionalmente felizes, belos, ricos, inteligentes,
criativos, só gente do bem no feissiostentação!
Olha eu aqui muito melhor que você. Olhe onde estou! Olhe quem está comigo! Um
não-ter-o-que-fazer consciente da realidade formidável da vida da criatura. E dá-lhe autoelogio, curtidas, coraçõezinhos. Ó, porque agora poucos likes? O que fiz de
errado? Tudo tão raso. À superfície das postagens, nosso narcisismo ao
quadrado. Até um famoso selfiliza com alguém mais famoso ainda: olha nós aqui, dois
famosos! Minha mãe suspira. Parecem todos perfeitos e felizes. Nem acredito no que ouço. Mas, cidade
pequena é um ó. Olho para minha mãe e digo: abre essa bosta do teu face. Tem
inveja dessa criatura sorridente
que abandonou a mãe no asilo e nunca visita? E dessa outra aqui com uma linda paisagem
atrás? O filho tem vergonha dela e quase nega o parentesco. E esse? Esse mesmo com o cachorrinho no colo que
sequer veio para o enterro do pai? Tem inveja dessa família? Onde as duas
criaturas só moram juntas, nem transam mais? Para com isso – ela me diz. Não – respondo. Mais um pouco de felicidade: essa
odeia a sogra e o sogro. Esse não se dá
com os irmãos e as cunhadas. Rouba do contribuinte e não se dá com o pai. Odeia
a mãe e rouba das irmãs. Corno. Corna. Corna. Tem amante. Tem duas famílias. Cheira
tudo até talco Johnson. É tão louca que
pretendem internar e esquecer no manicômio. Separaram e dividiram cds, talheres
e livros. Tira caca do nariz. Esse é feliz porque é um porra de um alienado fascista. Essa também... Desliga isso e chega de mimimi.
Vamos plantar brócolis que a gente ganha mais.
cartoon by Ömer Çan/Turquia
