Lucía Sánchez Saornil nasceu em Madrid, em 1895.
Foi jornalista, poeta e militante do movimento anarcofeminista espanhola. E
cofundadora da organização e revista Mulheres Livres, em 1936.
Em algumas de suas publicações usava o pseudônimo de Luciano
de San-Saor.
Na batalha da guerra civil espanhola, leu seu
poema “Madrid, Madrid, mi Madrid”, na estação de rádio da capital em uma noite de
bombardeios ininterruptos:
Madri, coração do mundo!
- já não é o coração de Espanha -
como a túnica de Cristo,
os malfeitores despedaçam-te.
Oh, rondas da minha Madrid,
rios de sangue e lágrimas!
Suas noites não são noites cheias de luz até o
amanhecer;
São abismos aterrorizantes em cujas entranhas
negras
explodem frutos maduros e ardentes de uma raiva
antiga.
(...)
Madrid, dos subúrbios,
rio de sangue e lágrimas,
abre o túmulo aos teus mortos!
-Para nós, Malasaña!-
as mulheres vão rugindo,
tremendo de febre e ansiedade,
galopando num acesso de raiva,
com as mãos abertas
procurando nos campos do ódio
as papoulas da vingança.
Madrid, coração do mundo,
coração que sangra!…
(...)
Todas as horas do dia
são interrompidas por alarme.
Sinos correm pelas ruas,
sirenes agudas gritam
na noite da cidade
e contra um terror sombrio
os sonhos quebram suas asas.
Sob as estrelas cantam os aviões negros,
assobiam cobras da traição que intimidam até a
morte.
O berço que embala a criança não se salva
porque é um
berço;
e rangendo as raízes, muda de terror,
a casa alonga as escadas e aprofunda o seu
núcleo.
Contra o céu enegrecido, as chamas enfiam a língua!
Lucía morreu em 2 de junho de 1970
de câncer de mama.
Ela não deixou nenhum livro de memórias.
No seu epitáfio:
"Mas é verdade que a esperança
morreu?"
Hino das Mujeres
Libres
Punho ao alto
mulheres do mundo
aos horizontes
grávidos de luz
por rotas ardentes
os pés bem na terra
a fronte no céu azul.
Afirmando
promessas de vida
desafiemos a tradição
modelemos
a argila ainda quente
de um mundo
que nasce da dor.
Que o passado
se afunde no nada!
que nos importa o ontem!
Queremos
escrever de novo
a palavra MULHER.
Punho ao alto
mulheres do mundo
aos horizontes
grávidos de luz
por rotas ardentes
adiante, adiante
de cara à luz.
Lucía Sánchez Saornil
(1937)