Guardachuvadelaura
fevereiro 24, 2012
ANTONIN ARTAUD: O EXISTENCIALISTA DO DESESPERO
* Interessa? Procure na internet. Aqui, apenas algumas brevidades.
Escritor, ator, dramaturgo, poeta maldito e visionário, nos anos 30 concebeu um teatro onde não haveria nenhuma distância entre ator e platéia, todo seriam atores e todos fariam parte do processo, ao mesmo tempo.
Queria devolver ao teatro a mágica e o poder do contágio.
Queria que as pessoas despertassem para o fervor, para o êxtase.
Sem diálogo, sem análise.
Uma vez abolido o palco, o ritual ocuparia o centro da platéia.
Quem será que foi mais revolucionário: Che, Artaud ou Ghandi?
Artaud falava sobre a nossa insensibilidade desgastada. Então imagina hoje com a instantaneidade da informação?
Nada parece nos comover.
Nada nos faz empunhar bandeiras.
Ou bombas.
“... certamente precisamos antes de mais nada, de um teatro que nos desperte: nervos e coração.”
* Artaud pensava em revolução. Em mudanças sociais radicais e nada melhor do que o teatro para estas mudanças acontecerem.
“Se o teatro é o meio escolhido por Artaud, é por que ele crê ser o único meio que age diretamente sobre a consciência das pessoas, portanto, um instrumento ativo e enérgico, capaz de revolucionar a ordem social existente.” Felício.
* Mas na verdade, entre o teatro e a vida, um fosso um abismo uma fenda...
“Passei nove anos num asilo de alienados.
Fizeram-me ali uma medicina
que nunca deixou de me revoltar.
(...)
Se não tivesse havido médicos
nunca teria havidos doentes,
nem esqueletos de mortos
doentes para escortaçar e esfolar,
porque foi com médicos e não com doentes
que a sociedade começou.”
"Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria."
fevereiro 22, 2012
DO MEU BLOQUINHO...
. o mundo vai acabar. um outro planeta, maior que a terra, vai colidir contra esse. a imagem de melancholia, o imenso planeta de lars von trier, colidindo contra aquilo que entendemos por vida é deslumbrante. um pesadelo? uma metáfora? um exercício filosófico? a maioria vai odiar o filme, no mínimo, pertubador. eu, aos pouco iniciei um processo de perda de viço no sofá. e comecei a diminuir de tamanho. no fim restaram apenas minhas roupas entre as almofadas. levantei, fui até o quarto, liguei o split e meu espírito vulgar deitou-se na cama em confronto, e nu. com o travesseiro sobre aquilo que poderia ser minha cabeça, desatei em águas. acabei dormindo até o outro dia. logo eu que vivo uma insônia babaca. o meu mundinho, de tempos desmemoriados, é muito imprevisível e solitário mesmo. que tudo se explode - e fode - de vez.
O GUARDADOR DE REBANHOS
“Sou um guardador de rebanhos,
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.”
“Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?
Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?
Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram.
Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira.
E a mentira está em ti.”
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.”
“Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?
Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?
Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram.
Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira.
E a mentira está em ti.”
Alberto Caeiro
(vulgo Fernando Pessoa)