agosto 17, 2018

VALTER HUGO MÃE




"Um país que não se ocupa
com a delicada tarefa de educar,
não serve para nada.
Está a suicidar-se.
Odeia e odeia-se."

OBITUARIO


Desci na rodoviária.
Para quem não conhece as redondezas da minha cidade: em frente ao presídio, ao lado do cemitério.

(Escolha como quer desembarcar nessa vida...)

Na câmara mortuária, um velório. 
Pouca gente.
No proclama - João da Silva.

Sim, apenas, João da Silva.

Quantos Joãos da Silva nessa cidade? No país?

(Aproximadamente 122.000.000 resultados em 0,56 segundos)

Quantos Joãos da Silva você conhece?

Meu avô era João, meus irmãos, um filho, um neto, alguns amigos.
Nenhum João da Silva.

Prenome e sobrenome: remete à simplicidade, à suor, calos nas mãos, ranhuras na sola dos pés.

Morreu de morte morrida? 
Ou no corredor do Sus?
De desgosto, de desesperança?
Morreu de tanta ambição?
Morreu velhinho?

E se um João da Silva recém-nascido que a Natureza achou por bem salvar da fome, da hipocrisia e da crueldade social?

João da Silva. Ver o cpf.  Atestado de óbito. Carimba-se.
É tudo o que se sabe. Agora, descansa junto aos vermes. 

Estrelinha no céu, uma ova.


A DESTRUIÇÃO DE UMA CIDADE...

Tem quem goste...

RESPEITO


Às vezes impressiona:
como já perdi oportunidades
por não fazer parte da engrenagem...

agosto 16, 2018

JOSÉ DIAS COELHO

photo by Luis Bhering

"Fui feito no mar
para no mar andar.
Fui feito no céu
para no céu voar.
Fui feito na terra
para na terra lutar.
Em toda a parte 
há um pedaço de mim
que se quer dar."

MUSEU DO ALJUBE: SEM MEMÓRIA NÃO HÁ FUTURO

O Doi-Codi de Portugal  chamava-se PIDE.
Andando pelas ruas de Lisboa, 
descobrimos por acaso, próximo à Sé...

Um museu para honrar a Resistência 
contra o fascismo,
durante a ditadura portuguesa.
Inaugurado em abril de 2015.
Não deixe de visitar.
Visita guiada as 15 horas.

As fotos falam do meu assombro e emoção:
legendas dispensaveis.

A vista da Baixa:
Não me espantaria 
se o passado voltasse ao Brasil.


Composição gráfica  do rosto de Amável Vitorino
com fotografias dos rostos de centenas de presos políticos.



“Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo”

Sophia  Andresen, poeta portuguesa














Rua de Augusto Rosa, 42

E no Brasil?
Quando  será revelado
o que temos direito de saber?



POR QUE NÃO?


É tanta corrupção, tanta enganação, tanta gente morrendo nas filas dos sus e tanto descontrole que ... Socorro! Às vezes, penso em separatismo. Mas não ouso confessar.

MAMMA MIA: LÁ VAMOS NÓS DE NOVO!


Entro no cinema vazio. Sessão das duas. Minto, na ultima fila, na carreira da letra J, uma criatura e seu rosto iluminado pela luz branca de um celular. 

Tenho 10 min para descansar. 
Ou para ler o livro que acabei de comprar.

Cinemas deveriam ser como cavernas: escuras e silenciosas. Só que não: uma música irritante toca alto. Não consigo me concentrar. Nem descansar.

Entra um casal com um saco gigante de pipoca – aqui não, aqui não, aqui não, meu deus.

Entra uma senhora. Senta quatro  carreiras abaixo da minha. O cheiro do seu perfume chega até onde estou. É enjoativo.  Cheiros, cheiros, cheiros. Sou uma chata.

Entra uma excursão de meia-idade: 14 mulheres de algum clube suspeito escalam vagarosamente  cada um dos degraus iluminados. Sobem, sobem e param na fila G.  A minha.

Todo o cinema vazio e elas escolhem sentar justo na minha fila?

Educada, levanto para passarem com suas bolsas e sacolas, ruidosas e perfumadas como um bando de estudantes tagarelas.

Troco de lugar. 

O filme começa. ABBA foi brega e sempre será. O filme é uma bosta. Mas, vale rever Cher e  não havia outro naquele horário. 

Sou uma chata, mereço.

A BANDIDAGEM SOLTA