junho 19, 2014

JOÃO GUIMARÃES ROSA

ilustra by Alexander Jasson

"Nu chorando ele fechava os olhos, 
com vergonha da solidão. 
Medo. 
Esperou o de vir, pavor, era como os transes. 
Ele remexia no podre dos pensamentos." 
in Tutaméia

CHICO: 70 ANOS

Sinal Fechado. Música que marcou minha adolescência... Bons anos pra você, Chico, em Paris.

- Olá! Como vai?
- Eu vou indo. E você, tudo bem?
- Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro… E você?
- Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é, quanto tempo!
- Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios!
- Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
- Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
- Pra semana, prometo, talvez nos vejamos… Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é… Quanto tempo!
- Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
- Por favor, telefone! Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente…
- Pra semana…
- O sinal…
- Eu procuro você…
- Vai abrir, vai abrir…
- Eu prometo, não esqueço, não esqueço…
- Por favor, não esqueça, não esqueça…
- Adeus!
- Adeus!

- Adeus!

SELF-SE QUEM PUDER...


Navegando na admiração pelo meu particular estranhamento erótico justo nesse feriado de corpus christi, na copa das controvérsias ou simplesmente no assombro de um tempo para lamber sozinha os tumores íntimos e alguns ecos, confiro surpresa as mãos rachadas pelo frio, massageio o pulso dolorido, me pego rindo da sobrancelha mal feita, das novas e velhas rugas que se instalaram tão facilmente. Conformação com a própria versão acidentada de culpas.  Assim, busco lembrar da antiga e sempre válida lei de Narciso para sublinhar o espanto: “Quem muito olha para si mesmo sempre acaba se afogando.” Volto para o tanque, para o fogão, monto na vassoura e me vou...

RAIO X

photo by Helmuth Newton
.e se fizéssemos uma ressonância da nossa alma? mostraria nossa vaidade obsessiva? de ser vista, amada, com falsos propósitos aceitos e compartilhados? mostraria nossa alma anônima embutida de preconceitos que tentamos disfarçar? nossa alma distorcida? nossa alma delirante? nossa alma gananciosa, descomprometida com a vida ao lado? e se fizéssemos uma ecografia dos nossos tabus? mostraria nossa alma perturbada? com seus desejos secretos e permissivos? nossa alma mesquinha na procura de um sentido que justifique o ter – mostraria? “ninguém é tão estranho quanto nós mesmos.”  - onde ouvi? sim, somos estranhos até para nós próprios. não nos reconhecemos. minha alma é um misto de ossos duvidosos e sangue repressor. e o teu?