novembro 14, 2025

BRECHT

Henry Cartier-Bresson


 "Muitos sabem que é mentira,

mas afinal as mentiras

são verdades distorcidas,

e uma vez que se precisa das verdades

e não se pode obtê-las em nenhum lugar,

põe se a torcer mentiras em volta,

mas quanto é preciso torcer?"

 

CARTA ABERTA DE TÉIO AO EX-PREFEITO MARCELO CAUMO


 Marcelo,

Escrevo esta carta com a mesma angústia que tomou conta de milhares de famílias quando a água subiu e levou casas, histórias, móveis, documentos, sonhos. 

Enquanto o povo amanhecia apenas com um marmitex frio na mão, tentando entender como reconstruir a vida do zero, hoje nós amanhecemos com outra notícia: R$ 411 mil encontrados em um cofre ligado à tua família, um cofre cuja senha era tua, mesmo anos depois de ter assumido a prefeitura.

E eu te pergunto, Marcelo — como é que tu dorme à noite?


Como alguém que conhece o Direito, que teve salário de prefeito, estrutura, poder e confiança pública, consegue encostar a cabeça no travesseiro sabendo que, naquele mesmo período em que tu governava ao lado da então vice-prefeita, a cidade viveu uma das maiores tragédias da sua história… 

E agora vê teu nome no centro de suspeitas tão graves?

Tu diz que o dinheiro é “privado”, “particular”, “de terceiros”. Que “trabalhar com dinheiro vivo é legal”. Mas explica, Marcelo:

Por que esse recurso estava em um cofre cuja senha só tu possuía?

Por que R$ 411 mil em espécie enquanto tanta gente precisava de colchão, remédio, gás, comida?

Por que sempre respostas vagas quando o povo precisa de clareza?


Eu não estou falando apenas de burocracia, de contratos, de investigações. 

Estou falando de consciência. De humanidade. De moral.


Que tipo de coração consegue ver um Vale inteiro devastado, famílias inteiras dependendo de doações, mães com filhos no braço sem ter pra onde ir — e, anos depois, surgir envolvido em um episódio que revolta até quem nunca te conheceu?

Tu pode dizer que tudo será “explicado em juízo”. 

Mas enquanto a Justiça faz seu trabalho, eu te pergunto como cidadão, como vizinho, como alguém que vive a realidade que tu administrou:

Tu olha pra essa situação sem sentir vergonha?

Sem sentir o peso moral do que isso representa?

Sem lembrar das pessoas que perderam tudo enquanto tu guardava uma senha que agora o país inteiro quer entender?

Marcelo, tu pode até tentar justificar juridicamente.


Mas moralmente… Como é que tu encara o espelho?

Porque nós aqui, que enterramos gente, perdemos casa e recomeçamos do zero, seguimos olhando pra tudo isso com uma mistura de indignação, tristeza e revolta.

E tu?

Segue dormindo bem?

Atenciosamente,

Téio

Jardim do Cedro

 

novembro 13, 2025

MOISES MENDES

"Além dos R$ 125 milhões de Lajeado, quantos mais teriam sido desviados por prefeitos e empresários das verbas federais que deveriam socorrer desabrigados pela enchente do ano passado?

Qual a extensão desses desvios em toda a área que recebeu socorro do governo Lula?

A Polícia Federal, que a direita tenta amordaçar, vai nos dizer. 

A Operação Lamaçal está no começo."

https://www.facebook.com/moises.mendes.384835

GANÂNCIA & SOCIEDADE CONIVENTE


 "Marcelo Caumo não é mais secretário estadual de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano. De acordo com a assessoria de comunicação do governo do Estado, ele colocou o cargo à disposição nesta quinta-feira (13) e o pedido foi aceito pelo governador. 

Eduardo Leite deve decidir o nome do titular da pasta na próxima semana.

Na última terça-feira (11), a Polícia Federal deflagrou a Operação Lamaçal, com objetivo de apurar possíveis desvios de recursos públicos federais repassados à administração municipal de Lajeado, em razão das enchentes ocorridas em maio de 2024. 

Foram cumpridos 35 mandados de busca e apreensão e, dentre as diligências, os policiais encontraram R$ 411 mil em dinheiro vivo em um escritório de advocacia de familiares de Marcelo Caumo e do qual ele foi sócio até se afastar em 2017 para assumir a Prefeitura de Lajeado."

 https://sul21.com.br/noticias/politica/2025/11/investigado-pela-pf-marcelo-caumo-deixa-o-governo-leite/

Conheço o Caumo desde que era funcionário da prefeitura. Amigo do Fornari.  Duas pessoas que nunca me inspiraram confiança. Intuição minha, como eles devem ter a deles sobre eu. Nunca votei no Caumo.

Quando prometeu, em cartório, que não buscaria reeleição, lembra disso meu único leitor?

Mentiu, como sabemos. O que esperar de um sujeito com esse caráter?

E quando deu um corridão nas últimas famílias flageladas que ainda estavam sem onde morar e acampadas no pavilhão do Imigrante?

E quando permitiu que a Havan se instalasse numa area de APP? E abriu uma rua, asfaltou, só para apoiar o véio piriquito?

E a destruição da margem do rio Taquari?

Não teve ninguém com culhão para impedir aquela aberração contra o meio-ambiente.

O próprio Parque da Orla... Um banhado que secou para botar um chafariz chinfrim e que deve ter estragado com as sucessivas enchentes.

E o cimento na Décio Martins Costa? Saiu a terra, as árvores... Na contramão de todos estudos ambientais. 



Mudando de assunto:

"Ninguém rouba sozinho" - dizia meu pai. Que seja absolvido quem nada deve - digo eu.

O triste é saber que, como nas facções, um chefe é deposto para logo outro assumir e botar também a mão na bufunfa. Seja lá o partido que for. 

Quem disse isso?
"O amanhã é feito de escolhas diárias  
e é preciso coragem de agir para transformá-lo." 


novembro 10, 2025

LOU ANDREAS-SALOMÉ


 Ouse, ouse... ouse tudo!!

Não tenha necessidade de nada!

Não tente adequar sua vida a modelos,

nem queira você mesmo 

ser um modelo para ninguém.

Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.

Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la!

Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é,

aconteça o que acontecer.

Não defenda nenhum princípio,

mas algo de bem mais maravilhoso:

algo que está em nós

e que queima como o fogo da vida!

LOU ANDREAS-SALOMÉ

É russa, aquariana, filósofa, poeta, psicanalista. Viveu a maior parte de sua existência na Alemanha. Escreveu sobre sexualidade feminina na década de 1910!

Escreveu  A humanidade da mulher e Reflexões sobre o problema do amor

Sua filosofia e vida também foram fonte de inspiração para as pessoas que orbitaram ao seu redor, como o médico e filósofo alemão Paul Rée, a escritora Malwida von Meysenbug - que em 1901 se tornou a primeira mulher a ser indicada ao Prêmio Nobel de Literatura. Escreveu Memórias de um Idealista, publicado anonimamente em 1869 - Rilke e tantos outros.

Em 1882, Lou Salomé tinha 21 anos, morava em Roma e era considerada por muitos, a mulher mais perigosa da Europa. Não pela beleza, grana ou poder, mas porque era brilhante, nada convencional e porque se recusava a pertencer a qualquer homem.

Friedrich Nietzsche  tinha 38 anos quando a conheceu em abril daquele ano nas escadarias da Basílica de São Pedro. Com olhar penetrante, Nietzsche lançou a pergunta derradeira:

De que estrelas caímos um ao encontro do outro?

Mas Lou Salomé rejeitou Nietzsche duas vezes e ele teve um colapso avalassador. Ela propôs a Paul Rée e Nietzsche, um triângulo não sexual, mas intelectual. Que vivessem juntos em uma "comunidade livre de mentes." 

Três filósofos compartilhando ideias, livros, conversas. Sem casamento. Sem propriedade. Apenas puro companheirismo intelectual.

Para provar que falava sério, Lou arranjou uma fotografia com ela sentada numa carroça, segurando um chicote, e com Nietzsche e Rée puxando como cavalos.

A foto escandalizou a Europa. Uma jovem mulher com um chicote, a controlar dois dos homens mais brilhantes vivos?

Mas a experiência falhou. Porque ambos estavam apaixonados por ela. Mais tarde, desiludido com a vida sem Lou, Rée acabaria se jogando de um penhasco na Suíça, mas em 1901.


Nietzsche foi aquele que propôs casamento. Ela disse não. Ele a pediu em casamento, novamente. Ela disse não outra vez. Ele escreveu:

"Quero que cases comigo."  "Preciso de ti." 

Então, em desespero: "Estou ficando louco." 

O escritor acabou se refugiando nos Alpes, rompeu amizades, mergulhou na depressão. Dentro de um ano, escreveu Assim Falou Zaratustra - sua obra-prima, nascida da dor de perder Lou. Em seu livro Ecce Homo, Nietzsche reconhece a influência da mulher amada.

Mais tarde, quando Nietzsche ficou realmente louco (provavelmente de sífilis), alguns culparam Lou:

 "Ela o quebrou."  "Ela o deixou louco."

Mas Lou Salomé não se importava com o que o povo futricava e tocou sua vida em frente.

Rainer Maria Rilke e Lou Andreas Salomé 
visitando o poeta Spiridon Drojin na Rússia, 1900.

A relação entre Rainer Maria Rilke e Lou Andreas-Salomé foi intensa, marcada por um romance que começou em 1899, com Salomé (38 anos) e Rilke (23) morando juntos como amantes, e evoluiu para uma amizade epistolar profunda que durou até a morte do poeta em 1926. 

Salomé foi a musa inspiradora de Rilke e, por sua vez, a escrita de Rilke influenciou a obra de Salomé. 

O relacionamento deles é celebrado na coleção de cartas trocadas entre os dois e inspirou a produção artística e intelectual de ambos. 

Ela rompe com o poeta em 1901, em parte porque as depressões dele, a arrasavam.

 

Bem antes de Rilke, em 1886, Lou conheceu Friedrich Carl Andreas, um estudioso de linguística, de línguas persas - brilhante, mas não seu igual intelectual.

Apesar de sua oposição ao casamento e das suas relações abertas com outros homens, acabou acontecendo o casamento mais estranho da Europa.

Ele a pediu em casamento. Ela disse que não. Ele ameaçou suicídio e, literalmente, apontou uma faca ao próprio peito. Lou, irritada, concordou em casar com ele com uma condição: o casamento nunca seria consumado.

Eles viveriam separadamente. Ela manteria a sua independência. Ele poderia chamá-la de esposa, mas ela nunca seria verdadeiramente "dele". 

As pesquisas de Andreas na Europa se concentraram nas línguas e na música da Ossétia e das regiões fronteiriças indo-afegãs. De 1903 até sua morte, foi professor de filologia da Ásia Ocidental e do Irã na Universidade de Göttingen.

Salomé e Andreas permaneceram juntos até ele morrer de câncer, em 1930.

 

Em setembro de 1911, Lou Andreas-Salomé, aos 50 anos, conhece Sigmund Freud durante o III Congresso da Sociedade Psicanalítica Internacional, em Weimar, na Alemanha. A partir daí, passam a desenvolver uma longa amizade e intensa troca intelectual, baseada em correspondências frequentes sobre psicanálise.

Poucos dias antes de sua morte, Lou viu  sua biblioteca confiscada pela Gestapo  (segundo outras fontes, a biblioteca teria sido destruída por um grupo da SA, pouco depois da sua morte).

Motivos alegados para o confisco: o coleguismo com Freud, por praticar "ciência judaica" e possuir muitos livros de autores judeus.

Na noite de 5 de fevereiro de 1937, Lou Andreas-Salomé morreu de insuficiência renal, em Göttingen, enquanto dormia.

Louise Gustavovna Salomé, 16 anos. 
Ousou viver...

DO MEU BLOQUINHO


Comprei em 2007. Agora o professor abordou num encontro literário, e eu me cocei... Já li? Tenho? Sim. Não lembro mais nada. Por isso rabisco o que me chama atenção. Pelo menos sei que li. Coisas são inertes: só tem sentido em função da vida que faz uso delas - sublinhei na página 17. Dar sentido as coisas, medeus. A solidão é uma coisa. Ou um estado de espírito? Nada mais solitário que o alzheimer. Estão acontecendo coisas agora que vivo sozinha. Roupas esquecidas no sereno da noite, janelas abertas para os amigos do alheio. Um rol de esquecimento: leite fervendo, cama desfeita, academia sem destino, cobrança da corsan, o carro na lavagem e por aí vai. Uma estranheza. A mudez. O não reconhecimento. As palavras que somem. A fome que emperra as horas. A procrastinação. O medo. A urdidura das palavras ao esmo pode revelar a alma? Só não consigo esquecer que joguei no lixo seco 110 quilos de papel ou 40 anos de trabalho do Giba. 16 sacolas de livros doados. Não completou 72 anos. Gostava de andar de bicicleta, de ouvir os cds e vinil, às vezes jogar um tênis. Torcedor do Inter. Volto, volto,volto. Penso em Antonio Cícero. Em Walmor Chagas. Em Ana Cristina César. Em Torquato Neto. O plágio da solidão. 

BRASIL DE SANGUE


 Corpos exilados.

Corpos leiloados.

Corpos traficados.

Corpos chacinados.

Corpos escravizados.

Corpos comercializados.

Corpos contrabandeados.

Que mapa é esse?



ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS


 Fernanda Montenegro, Miriam Leitão, Ana Maria Machado, Lilia Schwarcz, Rosiska Darcy e agora a autora do romance histórico Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, a 13ª mulher a ocupar uma cadeira na ABL e a primeira mulher negra eleita para o quadro de imortais.

“Benção, mãe. Benção, pai.” 

Foi com essa saudação, e após palmas emocionadas, e em homenagem às suas raízes e à ancestralidade, que a escritora Ana Maria Gonçalves iniciou seu discurso de posse na cadeira número 33 da Academia Brasileira de Letras  no Rio de Janeiro, fundada em 1897 por Julia Lopes de Almeida, uma mulher que nunca recebeu o crédito, e por um negro, Machado de Assis.

A Academia já negou essa "glória" a Mario Quintana, Adélia Prado, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, Érico Veríssimo, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Cecília Meirelles... Optou por médicos, jornalistas, advogados e muitos outros fascistas.