SAMÁRIA ANDRADE *
“Ontem pude me sentir de alma lavada.
Fui orgulhosamente assistir à diplomação como vereadora
da amiga Rosane Cardoso, primeira mulher negra a assumir o cargo na Câmara de
Vereadores de Lajeado pelos próximos quatro anos.
Lá estava ela, altiva, radiante e poderosa, com aquela
dignidade que lhe é tão familiar.
Entretanto, para além da alegria de prestigiar o evento, o discurso do juiz eleitoral Rodrigo Bortoli me surpreendeu a ponto de eu olhar para os lados para ver se eu não estava ouvindo vozes da minha cabeça.
Mas não.
O silêncio e o desconforto eram tão palpáveis que me certifiquei que estava mesmo ali, cercada pelas mesmas pessoas que sempre aceitam e acatam passivamente a passagem da boiada.
Não conhecia Rodrigo Bortoli, mas lamento esse fato.
Ele foi cirúrgico em sua fala ao pontuar um a um os ataques à democracia e ao sistema eleitoral que ocorreram no país, e o desserviço que tais afrontas acarretaram e acarretam a toda nação.
Falou com todas as sílabas sobre as tentativas de golpes, sobre os golpistas, sobre a equidade de gênero e a importância de ajustar o equilíbrio em cargos do Legislativo.
E falou sobre aquilo que nunca se fala nas rodinhas de amigos, muito menos nos veículos de comunicação local: aqueles que circulam entre nós, em nossa cidade, com suas tornozeleiras como se não tivessem atentado contra a democracia em 08/01/23.
O que Peracchi Barcelos veio fazer em Lajeado?
Militar e da ARENA, golpista, foi o 25º governador do RS, entre
1966-1971 – época das grandes mentiras brasileiras. Época dos
torturadores. Época do sumiço dos
corpos. Época do governo fascista. E
tudo isso, a imprensa de Lajeado apoiou e ainda apoia, mas não é incrível?
Ta certo, a imprensa de todo país ainda apoia – alguns disfarçam.
Li que foi no período da ditadura, o jogo do bicho se
associou a agentes da repressão, e assim se fortaleceu o crime organizado.
Estou lendo “Ainda estou aqui”. Em carta aos filhos, nos
anos 60, Rubem Paiva escreve “... no nosso
país existe uma porção de gente muito rica que finge que não sabe que existe
muita gente pobre...” – Mas não é atual?
“O apagamento da memória coletiva das referências à
tortura, bem como sua banalização, potencialmente reforçam as chances de
naturalizá-la e ignorar a intensidade de seu impacto.
O esquecimento é, nesse sentido, em si, uma catástrofe
coletiva.”
Fico pensando que a Lajeado de hoje tá bem inserida nessa catástrofe coletiva de perda de memória...
E fazendo de tudo para apagar vestígios de sua história.
La divina "Maria". Os últimos dias da vida da soprano grego-americana, Maria Callas, cuja voz raríssima de soprano absoluto encantava o mundo. Produção da Netflix, vivida por Angelina Jolie, em deslumbrante interpretação. Estreia nos cinemas dia 16 de janeiro.
O filme é
inspirado na vida real de dois homens que sairam da Índia para trabalhar na
Arábia Saudita. A chegarem ao aeroporto de Jeddah, tudo complica.
É tão revoltante o que acontece no transcorrer do filme
que acabou proibido em alguns países do Golfo Pérsico, por sua crítica a situação
dos trabalhadores migrantes nos países da região.
Não é filme de Bollywood, porque o ator principal fala malayalam, a língua de Kerala. Na verdade, o cinema malaiala é conhecido como Mollywood.
“Vida da Cabra” é longo, mas vale a direção, a fotografia e a transformação dos atores.
Disponível na Netflix desde 19 de julho.
Embora a festa seja marcada justamente pela paz, pelo
amor, pelo desejo de irmanar, o "depois" sempre é desolador.
Mas, pasmem! O depois não é provocado pelos “diferentes”.
A confusão vem daqueles que observam de longe e manejam o ódio.
Homofóbicos, o que os incomoda tanto?
Será que vocês simplesmente não conseguem entender a felicidade, a ousadia de quem se mostra, de quem tem coragem de ser o que é?
Mas, a essas alturas, e em 2024 (século XXI, né, gente!) não tem por quê só falar.
Existem leis que devem ser utilizadas sempre que houver
discriminação de qualquer ordem.
E existem vozes de denúncia e elas já estão devidamente
mobilizadas.
É hora de ver se a coragem de ofender também se manifesta no banco dos réus.”
A gente passava no canal e podia curtir a natureza e as
crianças brincando no pátio do CEAT. Uma visão boa, alegre, animadora,
esperançosa. Hoje são frestas. Dou por
conta da segurança.
Mas não há como esquecer a frase pinçada do livro “Morte e vida nas grandes cidades” de Jane Jacobs:
“Muros são elementos que mais segregam do que
protegem.”
No vídeo de mais de dois anos atrás, o candidato a vice
na chapa derrotada no segundo turno da eleição presidencial de 2022 aparece
dizendo assim, na frente do Alvorada, a uma comitiva de pedintes de
“intervenção militar” contra a eleição de Lula, porque teria havido fraude nas
urnas eletrônicas:
“Vocês não percam a fé. É só o que eu posso falar pra
vocês agora”.
Ainda no vídeo, que foi citado no inquérito do golpe,
uma mulher reclama com Braga Netto que
“a gente tá na chuva, tá no sol”, numa referência às concentrações golpistas
que aconteciam desde o início daquele novembro na frente de quartéis do Exército
em todo o país. O general tentou reconfortá-la nestes termos:
“A senhora fica… Tenta… Tem que dar um tempo, tá bom? Eu não posso… conversar…”.
O vídeo foi gravado em meio à trama golpista que se desenrolava entre o Alvorada e o apartamento de Braga Netto em Brasília, entre outros setores civis e militares urbanos da capital federal.
Naquele 18 de
novembro, a empresária Daniela Duarte Marasca, postou no Twitter, e depois
deletou, dizendo que tinha filmado Braga Netto “tranquilizando os corações dos
brasileiros”.
Daniela Marasca é da cidade gaúcha de Venâncio Aires, que fica a 130 quilômetros de Porto Alegre, a 1.500 quilômetros de Brasília.
Em
Venâncio Aires aconteceuum dos primeiros bloqueios de rodovia após o segundo
turno das eleições de 2022, ainda na noite do dia 30 de outubro, no quilômetro
80 da RS-287, próximo a um restaurante.
Em outro vídeo, anterior, gravado no dia 3 de novembro de
2022 e publicado no Instagram, Daniela Marasca dizia-se “à frente das
manifestações que estão ocorrendo na nossa cidade” e pedia mantimentos e
dinheiro para o bloqueio:
“Nós estamos localizados ali na RS-287, em frente ao Casa
Cheia. Estamos precisando de ajuda para dar apoio aos caminhoneiros que
quiserem parar. Comida e bebida não vão faltar pra eles”.
A postagem no Instagram também foi deletada.
Naquele 18 de novembro de 2022, Daniela Marasca publicou em suas redes sociais, e também apagou depois, uma foto em que ela aparece abraçada a Braga Netto na frente do Alvorada. Além de Daniela, seu marido, Maciel Marasca, também aparece na foto, vestido com a camisa da seleção da CBF e também abraçado ao general.
Daniela Marasca é dona de uma loja de “camisas artesanais que exaltam a elegância feminina”.
Uma das peças à venda na loja, por R$ 444, é a “Camisa Patriota Verde/Amarelo”, com botões em zamac hipoalergênicos, “free níquel”, banhados a ouro 18 quilates.
Na última sexta-feira, 13, véspera da prisão de Braga Netto, Daniela informou no Instagram que leiloou uma “Camisa Patriota Verde/Amarelo” autografada por Jair Bolsonaro e que os R$ 13.500 arrecadados serão doados para a Apae de Venâncio Aires.
Maciel Marasca é vice-presidente e diretor de operações da Tabacos Marasca, empresa de fumicultura baseada em Venâncio Aires que é uma das 100 maiores exportadoras do Rio Grande do Sul, fornecendo tabaco para mais de 40 clientes em cinco continentes.
A empresa é uma das 14 associadas do
Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco, entidade que representa os
interesses do setor no Brasil.
Maciel foi candidato a prefeito de Venâncio Aires nas eleições de 2024, pelo PP de Arthur Lira, em coligação - “Endireita Venâncio” - com o PL de Jair Bolsonaro.
O empresário fumageiro não foi eleito. Como
Bolsonaro em 2022, Maciel ficou em segundo lugar.
Daniela Marasca também foi candidata. Ela concorreu a uma vaga na Câmara de Vereadores de Venâncio Aires com o nome de urna eletrônica Dani Marasca, com o número de urna eletrônica 11111.
Amealhou 756 votos nas urnas eletrônicas e tampouco foi eleita.
O vídeo na frente do Palácio da Alvorada citado no
inquérito do golpe foi gravado seis dias após Braga Netto entregar a kids
pretos uma sacola de vinho com dinheiro vivo para a execução da “Operação
Punhal Verde e Amarelo”, de assassinato do então presidente eleito, Lula, do
vice, Geraldo Alckmin, e do à época presidente da Justiça Eleitoral, Alexandre
de Moraes.
Foi o que disse, em delação, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Segundo Cid, e conforme
transcrição da PF, “o general Braga Netto afirmou à época que o dinheiro havia
sido obtido junto ao pessoal do agronegócio”.
Até agora, nenhum pessoal do agronegócio foi indiciado
por tentativa de golpe de Estado ou por incitação ao crime.
Em 1966, Lajeado tinha 25 mil moradores, fora o “interior”, e um cinema, o Cine Avenida, na Benjamim Constant, perto da praça do chafariz. Tinha 800 cadeiras de madeiras e não sei quem construiu ou data de inauguração. Nas matinés trocavamos revistinhas e fazíamos baderna batendo os assentos de madeira, atraindo o lanterninha...
Acompanhei a decadência do Avenida, morava bem pertinho, quando começou a “passar” faroestes mexicanos e bagacerices. Mas foi no Avenida que sonhei com "Marisol no Rio"...
Agora não sei se esse projetor é do Alvorada...
No Alvoradas, filmes oscarizados como “Tubarão”, dois meses em cartaz, e outras produções melhores de dobrar a fila na Julio. Foi palco para teatro, shows e formaturas até começar o prejuízo e fechar em 1992 com a projeção de pornôs. Por ironia virou igreja. Depois galeria.
O grupo
Benoit comprou e fez outra reforma horrorosa e deixou feito um elefante
branco... Tá pra alugar. Só para outra
igreja mesmo.
O jornal A Hora fez uma reportagem boa, no ano passado:
https://grupoahora.net.br/conteudos/2023/03/12/filmes-pecas-e-memorias-em-um-predio-historico/
Fotos: Arquivo Sebaldo Hammes
Joanne é inglesa e tem 59 anos. Sua cronologia é
interessante:
Aos 17 anos foi rejeitada na Universidade de Oxford.
Aos 25, perdeu a mãe.
Aos 27, casou com um português que a agredia. Com ele
teve uma filha.
Aos 28 se divorciou e foi diagnosticada com depressão
severa.
Aos 29, mãe solteira, precisou da ajuda da assistência
social inglesa para sobreviver.
Aos 30 cogitou o suicídio, mas começou a escrever.
Aos 31 publicou seu primeiro livro.
Aos 35, depois de 4 livros foi nomeada autora do ano
Aos 42 vendeu 11 milhões de “Harry Potter” no primeiro
dia de lançamento, uma marca global que hoje vale mais de 15 bilhões de dólares...
O conselho que dá?
“Nunca desista, acredite em si mesma e trabalhe duro. Nunca
é tarde."
* Infelizmente, seus comentários transfóbicos chamaram atenção de seus leitores e intelectuais e renderam muita discórdia na Europa e Estados Unidos.
Sim, ninguém é perfeito...
“Você não consegue ser um bom escritor sem ser um leitor
ávido. Ler é a melhor forma de analisar o que faz um bom livro”, explica a
autora.
Sua recomendação é prestar atenção ao que funciona nos
livros que lê, do que você gosta e do que não gosta (e por que).
No início, você provavelmente imitará seus escritores
favoritos, mas é uma boa maneira de aprender. Depois de um tempo, você
encontrará sua própria voz.”
“Momentos de pura inspiração são gloriosos, mas a maior
parte da vida de um escritor é, para adaptar o velho clichê, mais [relacionado]
à perspiração do que à inspiração.”
3. Seja paciente e aceite críticas com resiliência e humildade
Ainda que o feedback seja imprescindível para crescer – na realidade, em qualquer profissão - J.K destaca que a carreira de escritor pode envolver muita rejeição e crítica, principalmente por ser um “trabalho aberto ao público”. Por conta disso, é necessário desenvolver resiliência.
“O crítico mais duro frequentemente está dentro da sua cabeça”, afirma a escritora.
4. Tenha coragem
“O medo do fracasso é a razão mais triste da terra para
não fazer o que você deveria fazer. Finalmente encontrei a coragem de começar a
enviar meu primeiro livro a agentes e editores em um momento em que senti [ser]
um fracasso evidente. Só então eu decidi que tentaria uma coisa que sempre
suspeitei que poderia fazer e, se não desse certo, bem, eu enfrentei o pior e
sobrevivi.”
5. Busque conhecimento independentemente
“Tanto na escrita quanto na vida, seu trabalho é fazer o
melhor que puder, melhorando suas próprias limitações inerentes sempre que
possível, aprendendo o máximo que puder e aceitando que obras de arte perfeitas
são ainda um pouco menos raras que seres humanos perfeitos."
Daemon é a força inspiradora. Coisa de grego, uma divindade menor:
“Um ser espiritual pertencente a uma categoria intermediária
divino-humana.”
Minha curiosidade surgiu quando vi (na internet) essa escultura, com o
nome de Lipe (Λύπη), “o daemon da Tristeza”,
no túmulo de alguém, em um cemitério em Gênova.
Fui pesquisar, claro! Existem vários daemons: Sono, Amor, Alegria, Discórdia, Medo, Morte, Força, Velhice, Ciúmes
(Nesse período da vida, vivo o daemon da discórdia...)
Mas, quando retornei de um
velório esses dias, caraca, o daemon da
morte não saía da minha cabeça e acabou deitando comigo na cama. Então deixei
por escrito:
Quero meu velório nas câmaras municipais. Nada de
diersmann ou huwe.
Quero o meu caixão de pinho, bem barato, daqueles que tem nó na madeira como cantava João Nogueira:
Sou nó na
madeira, Lenha na fogueira que já vai pegar, Se é fogo que fica ninguém mais
apaga, É a paga da praga que eu vou te rogar, devagar...
Nada de deixarem meu caixão aberto com a minha cara murcha à vista.
Por favor, galhos de pitangueira, jabuticabeira, laranjeira...
Pelmordeus, não me cubram com flores! E não mandem coroas e toda essa cafonice
lúgubre.
Tragam mudas de árvores.
E não precisa ninguém me acompanhar até a cremação. Não quero show funesto.
Busquem minhas cinzas e adubem as árvores que imagino sejam plantadas em algum lugar, de preferência num parque, numa praça ao som de Rita Lee.
Obrigada. Só daí consegui dormir.