setembro 05, 2009

MIA COUTO

“A aranha ateia
diz para o aranho na teia:
nosso amor está por um fio.”

WALTER E O BUDA

"Com a assimilação indiscriminada dos fatos cresce também a assimilação indiscriminada dos leitores, que se vêem instantaneamente elevados à categoria de colaboradores.
(...)
A capacidade de descrever esse mundo passa a fazer parte das qualificações exigidas para a execução do trabalho. O direito de exercer a profissão literária não mais se funda numa formação especializada, e sim numa formação politécnica, e com isso transforma-se em direito de todos". Walter Benjamim, in “O autor como produtor”, 1934.

Incrível, não é? O filósofo alemão matou a charada dos blogs nos arcaicos anos 30 do século passado. E a gente achando que orbitar no ciberespaço é coisa de agora.

Pego meu buda e levo para passear, tomar um sol, curtir a primavera antecipada que chegou no quintal da minha casa...

agosto 31, 2009

FARNESE DE ANDRADE

“Joga-se tudo fora.
Até a vida inteira de uma pessoa.”

Resista, não respire...

Depois de tanta arte no Margs, de examinar cada Chagall, cada Miró, Guignard, Renoir, Portinari, Iberê... Depois de ver tanta gente “entendida” na frente de cada quadro importante, onde está a mulher pelada de Eugene Leroy? - quer saber uma menininha; também uma professora de algum liceu de artes provoca seus alunos - o que vocês acham que significa essa sombra?; depois de tanto os seguranças avisarem que nem o dedão do pé pode encostar na faixa de segurança amarela, enfim, volto para a rua e deparo com os camelôs na praça vivendo da arte da sobrevivência, no dilema do próximo minuto.

Fora do museu, a luz real, as árvores "de carne e osso", os sons e cheiros que fecundam a realidade e lá me vou aliviada e desimportante junto ao povo, que sou. E bem que Damien Cadio definiu num cantinho do quadro de Julien Beyneton, aquele contemporâneo que traz a figura de um grafiteiro francês: “on résiste, ne respire plus.” Sim, sim, sim. É o que tenho feito.

FARNESE DE ANDRADE

Descubro o artista plástico mineiro de Araguari, contemporâneo de Lygia Clark, Amilcar de Castro e muitos outros apresentados durante as bienais de Porto Alegre. Me reconheço no seu trabalho de tormentos, com imagens aprisionadas a espera de um indulto...


Olho as ilustrações no livro: justaposição de objetos criados para “relatar sua dor, sua solidão, seus rancores, seus complexos...” e é exclusivamente autobiográfica assim como foi a arte de Frida Khalo, Siron Franco, Leonilson...

“Em matéria de informação e cultura, confesso que só não sou um artista primitivo ou ingênuo porque meu inconsciente não permitiu.” Farnese


OFÉLIA (1985)

Suas criações incluíam resina de poliester, cabeças de boneca de porcelana, imagens sacras, fotografias antigas, destroços recolhidos do mar, no período em que morava no Rio de Janeiro.

Artista gay e não escondia de ninguém:

“Há um discurso pronto a respeito da ligação atávica que o menino homossexual tem com a mãe; contudo, neste caso, creio, o motor era justamente impulsionado por sua relação com o pai. Mesmo que comumente se interprete a mãe como a única mulher do filho-homem-homossexual, é frequente que o pai seja seu único e verdadeiro amor.


Exceto por alguns períodos de separação, Farnese viveu com sua mãe até a morte dela. Era o único filho solteiro, e sua relação com ela era turbulenta e bélica.”


AUTO-RETRATO (1982-1995)
Farnese morreu no dia 18 de julho de 1996, aos 70 anos. Morreu de enfisema pulmonar e de tristeza: “Nasceu e morreu como todos: só. Passou grande parte de sua vida em profunda solidão espiritual. (..) Há os que dizem que ele teria tido mais reconhecimento na Alemanha...”.

Em 2002, suas obras participaram da exposição coletiva “Apropriações e Coleções”, promovida pelo Santander Cultural em Porto Alegre.

Fonte: livro “Objetos”, Charles Cosac, da Editora Cosacnaify.