março 06, 2025

GUIMARAES ROSA


 “Calma.

É só aos poucos 

que o escuro fica claro.”

DO MEU BLOQUINHO

Encontrei por aí dois caras que há muito não via... Envelheceram bem, ambos.Voltei pra casa com a cabeça no fervilho: qual a vantagem de ser mulher nesse planeta? Carregar uma criança durante 9 meses, um desespero pra parir e depois ainda precisa ouvir “é a cara do pai!”. E as dores? Tirar sobrancelha dói, e pior, depilar dói muito. Termina a raiva da tpm, chega a insônia da menopausa e cadê a tesão que tava aqui? A mulher enche a cara de botox, de ácido hialurônico, e sai com aquele bico de pata, crente que ninguém nota a deformação. É, mas eles... Eles botam um bigode e um cavanhaque, as cãs não incomodam - um charme dizem, justamente elas. Se a gente não pinta, “Tu tá a cara da tua mãe!” (A mãe tem 90 anos) Se tu não faz nada, “se atirou”; se eles, “se manteve”. Se dá piti é “histérica”. Se eles, a Síndrome de Burnout. Antes que eu me esqueça, vtnc. Dias de revolta e angústia.

 

ANTES & DEPOIS

Foto de Laura Peixoto

Do mesmo ponto de vista: 
Morro de Cruzeiro do Sul.
Enchente de 2024.

Foto de Alício de Assunção



 

FISCHER ENTREVISTA ASSIS BRASIL

O escritor e professor Luís Augusto Fischer entrevista na revista eletrônica Parêntese, do sábado, 1º de março, o colega professor e escritor  “Luiz Antonio de Assis Brasil, romancista de larguíssima carreira (são vários romances, entre livros de outro teor, um dos quais resultantes de sua também vasta carreira como professor orientador da mais antiga oficina literária do país, na PUC, Escrever ficção) e sujeito com uma visão aguda das coisas, como não poderia deixar de ser.”


Fui aluna de ambos. Do Assis, na Oficina de Criação Literária, na Puc. Do Fischer, em Especialização em Literatura Brasileira, na Ufrgs.

A entrevista é uma delícia e traz revelações até sobre os leitores de Assis.

Veja aqui: https://www.matinaljornalismo.com.br/parentese/entrevista/uma-carreira-com-dois-comecos-entrevista-com-luiz-antonio-de-assis-brasil/

 Separei pequenos trechos:

Luíz Augusto Fischer – Que lembranças vivas tu tens da Porto Alegre da tua infância? Havia alguma rotina na tua vivência da cidade?

Luiz Antonio de Assis Brasil – Minha infância, até os 12 anos, foi em Estrela, zona de colonização alemã. Lá aprendi o “alemão” (dialeto do Hunsrück), e fazia vagens ao interior profundo da colônia, acompanhando compromissos profissionais do meu pai. Em certas casas, só se falava o “alemão”, e eu sabia tudo o que falavam, e eu mesmo sabia dizer algumas frases decoradas e outras, que com a passagem do tempo, eu inventava.

 Aliás, quando viemos para Porto Alegre fui estudar no Goethe-Institut, o que depois me valeu o prêmio de uma estada no Bayern, para aprofundar a língua, e principalmente para “corrigi-la” para o “verdadeiro alemão”.

Mas ainda na colônia: o que mais me valeu, depois da língua, foi o conhecer a “alma colona”, seu modo de pensar, seu amor à Bíblia (os evangélicos luteranos sempre a tinham, em casa), seu sentido de ordem, regularidade e respeito à autoridade. Depois, casei com uma descendente de colonos alemães.

Luíz Augusto Fischer – Cães da província (1987) é um marco na tua trajetória, em mais de um sentido, não? Foi um doutorado raríssimo entre nós, até então, e te habilitou formalmente a orientar pesquisas acadêmicas. O fato de lidar com uma pessoa real, como o maldito e amalucado Qorpo-Santo, terá sido uma diferença importante, certo?  (...)

Luiz Antonio de Assis Brasil – Meu interesse pelo Qorpo-Santo era antigo, mas no campo do folclore familiar. Meu avô materno, Octavio Vicente Pereira (nasceu em 1872), viveu a infância na Rua da Praia, e tinha 11 anos quando Qorpo-Santo morreu. Eram quase vizinhos. Ele me contava de um “poeta maluco”, muito estranho, que andava pela rua sem cumprimentar ninguém, “sem nem tirar o chapéu”, mas que parava para conversar com o pai dele (pai do meu avô), Nicolau Vicente Pereira, dono de loja na mesma Rua da Praia, e membro do Partenon Literário; tem colaborações (muito ruins) na célebre revista, é só ler.  Imagino que as conversas eram literárias, mas podiam ser sobre o preço dos tecidos.

(...) 

Mais um tempo se passou, e eu já tinha publicado alguns livros; quando surgiu a história da tese, eu precisava de algo novo, e houve alguém (deixemos assim) que me sugeriu escrever um romance sobre o Qorpo-Santo, e foi uma luz.

Achei que eu tinha com “legitimidade” para escrevê-lo, e então fui atrás de maiores informações, que eram raríssimas, conversei com o Damasceno, li a Ensiqlopedia, emprestada generosamente pelo Júlio Petersen (que depois foi adquirida pela PUC, junto com a biblioteca do Júlio); enfim, não foi “difícil”; o que faltava eu fiz como qualquer ficcionista faz: enchi com a imaginação.

*Malvina... “enchi com a imaginação”! Eu também. E pincei uma peça do Qorpo-Santo para um dos capítulos...



Luíz Augusto Fischer – Queria saber mais do caso de Videiras de cristal, que depois passou a ser publicado como nome do filme que o adaptou, A paixão de Jacobina: como tu encaraste essa espécie de missão, que te liga agora a Josué Guimarães, que tinha publicado com grande impacto, nos anos 1970, seu A ferro e fogo, com dois volumes, recriando a chegada dos germânicos no estado, e que, ao que se sabe, tinha a intenção de alcançar o episódio Mucker, base do teu romance? Tu te dedicas o livro a ele, certo? Foi difícil ter a sombra do Josué?

 Luiz Antonio de Assis Brasil – O assunto dos Mucker partiu de uma pergunta que me fez a Valesca [de Assis, esposa]: como será que esses alemães, tão ordeiros e respeitadores, se meteram nessa barbaridade?

Foi então que veio à cabeça a experiência que eu tinha acerca da colônia alemã, e que já contei. O conhecimento próximo da “alma alemã”, a língua, tudo.

Ocorre outro fato: a Valesca é neta do Dr. Christian Fischer (que ela conheceu, ele com 100 anos), médico alemão que chegou em São Leopoldo em pleno episódio dos Mucker. Claro, viria a ser personagem do romance. À busca de elementos concretos, visitei mais de uma vez o Ferrabrás, levado por um livreiro de lá, o sr. Arti Hugentobler, conversei e conversei com pessoas de lá. 


Quando o Arti dizia que eu era escritor e iria escrever sobre os Mucker, um deles me disse: “Mas para quê? Já tem o livro sobre os Mucker”. Ele se referia à obra parcialíssima e apologética do Padre Ambrósio Schupp S.J., Os Muckers.

Positivamente, meu livro não seria isso. Bueno: o Josué, de quem eu era amigo, tinha, como se sabe, previsto o fechamento da trilogia A ferro e fogo com um romance que seria Tempo de angústia, dedicado aos Mucker. Claro, o tema era dele. Caí em mim. Recolhi o meu cavalo, tirei os arreios e larguei no pasto. Subitamente, a Nídia avisa que o Josué está muito mal, no [hospital] Moinhos [de Vento]. Nem nos permitiu acesso ao quarto, e fez bem.

Depois da morte dele, e até em homenagem a ele, dediquei-lhe o Videiras. Na primeira na fila de autógrafos, livro em mãos, a Nídia, acompanhada pelo [Joaquim] Felizardo. Não acredito em nada, mas naquele momento era como se o Josué estivesse me abençoando. Agora fiquei sentimental.

Luíz Augusto Fischer – E como foi ver o livro filmado? Te frustrou? Te alegrou? As duas coisas? E outras adaptações para narrativa de cinema ou tevê, como tem sido?

Leticia Spiller como Jacobina...

Luiz Antonio de Assis Brasil – O filme? Horrível, uma fantasia sentimental. (...)

Luíz Augusto Fischer – O que vem vindo por aí? Planos? Como serão os teus 80 anos completos, do ponto de vista da criação? Teremos memórias também?

Luiz Antonio de Assis Brasil – Memórias não cogito, por irrelevantes... (...)

Hoje, os escritores têm seus empregos, vivem com certo conforto, vão à praia e levam os cachorros para espairecer. Isso nunca daria biografia e, muito menos, memórias. (...)

O que escrevo? Estou revisando (o que me ocupará todo 2025, não tenho pressa), um texto de forte cunho autorreferencial, em primeira pessoa (sem ser autoficção, claro), e que, mais uma vez, circula em torno da música. Chama-se, por enquanto, Sinfonia O Milagre.

 

Ultima publicação de Assis Brasil

 

DÉBORA VÁSQUEZ


  

"Porque não tenho um quarto só para mim. 

Porque, quando escrevo à mão, me custa entender minha própria letra. 

Porque ler é mais prático, quando a tipografia não é miúda demais. 

Porque prefiro me manter à distância de mim mesma e ver filmes no cinema. 

Porque minha caligrafia me dá desânimo. Se tivesse letra bonita, teria ideias melhores. Tenho inveja de quem coleciona cadernos caprichados, com desenhos. 

Porque odeio pensar que alguém possa estar lendo por cima do meu ombro. Não gosto que espiem meus defeitos, muito menos que os surpreendam. Para que ninguém tente me compreender e tenha compaixão de mim. 

Porque, se escrever os livros que levo dentro de mim, talvez perca peso e saia voando.

 Porque não quero ter que inventar profissões falsas cada vez que no café da esquina me perguntam se sou escritora já que faço anotações."

Por que não escrevo, um pequeno ensaio da escritora argentina Débora Vázquez.  Na Revista Piauí.

WIM WENDERS