março 11, 2010

JOSE SARAMAGO

"Felizmente há palavras para tudo.
Felizmente que existem algumas
que não se esquecerão de recomendar
que quem dá
deve dar com as duas mãos
para que em nenhuma delas fique
o que a outras deveria pertencer."

RILKE ME TRADUZ

"Só mais um momento.
Que voltem sempre a cortar-me a corda.
Há pouco estava tão preparado e havia já um pouco de eternidade nas minhas entranhas. Estendem-me a colher, esta colher de vida.
Não, quero e já não quero, deixem-me vomitar sobre mim.
Sei que a vida é boa e que o mundo é uma taça cheia,mas a mim não me chega ao sangue, a mim só me sobe à cabeça.
Aos outros alimenta-os, a mim põe-me doente;
compreendei que há quem a despreze.

Rainer Maria Rilke in "O Livro das Imagens"

CAINDO FORA

bebi duas garrafas de vinho medíocre, duas doses de uísque vagabundo e um prato de polenta frita virada em banha. trancei as pernas de bar em bar. no escuro, vultos que se sacudiam. no palco, uma banda e na banda um músico muito ruim fumando um baurete. não adiantava olhar ao redor, uma neblina no que restava do meu cérebro impedia o reconhecimento. alguém se aproxima não sei se macho ou fêmea. se galináceo ou quadrúpede. se otário ou cool. minha imersão alcoólica impede os reflexos e eu não sei de nada só que tudo aquilo é realmente o nada. vejo as pessoas com código de barra, listadas e não sei o preço delas. ni dieu ni maître talvez o diabo. sim, o ciúme - disse matias aires - fabricou os ferros, criou a escravidão do homem e agora a gente vive nesse cativeiro chamado lar. o que será mais obsceno? vício ou alienação? o que dói mais? a mentira ou a verdade? sem respostas saí daquele buteco enfumaçado e o ar inocente de fora acalmou minhas necessidades etílicas. tropeçando voltei para o carro. me tranco e ali durmo até o amanhecer pouco me lixando para essa cidade de merda. para esse pesadelo racional que embala todos e que graças a deus me exclui. um conta mentira para o outro e assim garantem uma sobrevida: o filho para o pai, o pai para a própria mãe, essa para o marido, o marido para a amante e segue a humanidade. eu também minto, mas bebo antes. bebo até fazer por merecer este fígado podre que me assombra.

março 09, 2010

BERTRAND RUSSELL

Acredito que quando morrer
apodrecerei
e nada do meu ego sobreviverá.

PIRAÇÕES



@ "...fico pensando se este teu jeito despojado, às vezes irônico, é de verdade (como dizem as crianças), ou é de mentirinha. Poucas vezes te vi assim -> meio recolhida. Nunca te vi cabisbaixa.
Pergunto: tu também tem tuas crises? Existenciais, profissionais, maternais... Me sinto estranha ao teu lado. Não sei se tenho um certo medo, se há um estranhamento porque talvez eu seja o oposto - discreta e cuidadosa com as palavras.
Quando estou contigo, tenho a impressão de que me vês como uma criatura meio sonsa com quem nem vale a pena perder tempo. Fiquei pensando nisso ontem...resolvi escrever - uma espécie de consultório poético, (tipo Fabrício Carpinejar).
Laura, sempre dá curiosidade para saber o que pensas... porque tantas vezes falas aquilo que pensamos e não dizemos. Ou, depois que falas, nos danos conta de que já havíamos pensado sobre aquilo. Muito estranho, mas é bem assim. Sempre leio o teu blog.
Deve dar um trabalhão...só mesmo muita paixão e desejo de socializar idéias pode justificar o empenho. Não é mesmo? Pirações de terça-feira. "
Dirce