outubro 25, 2025

LIEV TOLSTÓI


Revista Parêntese

"A glória militar é o pior dos enganos.

É um prêmio dado aos que matam mais."

 

TRÊS ANOS DO COLETIVO MACABÉAS

Em Outubro de 2022 a gente se encontrou para falar sobre literatura. E os interesses como fios cristalinos de água se dispersaram em confidências, em derrotas e conquistas.

Uma vez por mês. Com poucas ou com todas. Uma vez por mês.

 

Para eventos e casamentos: 51 9100-7833


Aspirações individuais existem mas um coletivo de apoio mútuo tem muitas nascentes que desembocam no mesmo rio. Ontem completamos 3 anos.

Pretexto para um encontro festivo e leituras dramáticas em uma homenagem às personagens femininas na obra de Érico Veríssimo, que completa 120 anos do seu nascimento: Ana Terra, Clarissa, Olívia, Silvia, Maria Valéria...

Érico "...moldou suas criaturas rigorosamente com a argila da vida e por isso as fez tão verossímeis." M. P. Soares.

As amigas e os amigos apoiaram com suas presenças queridas.

 A professora Cristine Vasconcellos nos honrou com seu violino.


Que venham outros encontros! 

“VÁ E VEJA”


 Vimos?  Eu já vi muitos filmes sobre a segunda guerra e o holocausto.

De memória, sem pesquisar A vida é bela, O trem da vida, A lista de Schindler, O menino do pijama listrado, O destino de Haffmann, O resgate do soldado Ryan, Patton, O franco atirador, Dunkirk, Adeus, meninos. O pianista, Resistência, Casablanca - que nem lembro mais, e os últimos  Zona de interesse e o Nº 24.

Assisti dias atrás, talvez, um dos mais impactantes e perturbadores. Considerado “o filme mais antiguerra possível”, por um site de cinema: 

“Vá e veja”, de 1985, do diretor russo Elem Klimov, falecido em 2003.

 A interpretação de Aleksei Kravchenko é espantosa para uma estreia em cinema aos 14 anos. Hoje o ator russo tem 56 anos  e é considerado uma ameaça à Ucrânia.  

Que ilusão pensar que o cinema ensina algo... O cinema não modifica governos, quiçá, olhares e consciência de alguns.

 


Em 1941, as forças alemãs invadiram a Bielorrússia. 

Spoiler, desculpe: 628 aldeias foram incendiadas e seus moradores queimados ou assassinados.

Assisti com uma antena ligada em Israel e Gaza, quando um militar alemão fala à resistência:

“O seu país não tem o direito de existir. Nem todas as raças tem o direito de existir. As raças inferiores propagam o contágio do comunismo. E nossa missão será cumprida.  Se não hoje, será amanhã.”

Tem no Prime e no Youtube.

 

GILMAR DE OLIVEIRA FRAGA


 "A Petrobras recebeu autorização do Ibama para perfurar um poço exploratório na foz do Amazonas.

A decisão reacende o debate sobre os riscos ambientais e as contradições do país às vésperas da COP30, que será realizada em Belém."

ZH

ABRÃO SLAVUTZKY *

Osijek, Iugoslávia, 27 de junho de 1937 

São Paulo, 25 de outubro de 1975


O Assassinato que mudou a história

O  jornalista Vlado Herzog estava muito preocupado com a violência da ditadura militar e decidiu conversar com Marquito, o editor do Jornal da Tarde. Ambos estavam sendo ameaçados de prisão, e Marquito disse: 

“Eu, de minha parte, vou me picar pra algum lugar no interior. E acho que você deve fazer o mesmo. Pegue a Clarice e os meninos e sumam, se mandem”. 

Eram amigos desde o colégio e depois na Revista Visão e na base dos jornalistas do Partidão, como era chamado o PCB. 

Marquito fez uma análise do aumento da perseguição política e da violência militar, e disse: “Como é, o que você acha de a gente se mandar daqui?”. 

A resposta foi rápida: “Eu fico. Não tenho nada a esconder. Não sou um criminoso”. 

O amigo sabia que não adiantava insistir. Despediu-se. 

No dia seguinte, dia 24 de outubro de 1975, uma sexta-feira, o DOI-Codi iniciava o arrastão do fim de semana. Cedo foram buscar Rodolfo Konder, e à tarde foram buscar Fernando de Moraes, que, avisado, desceu pelas escadas os quinze andares e fugiu, pois pensava como Marquito, que a situação era muito perigosa.

O DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), ligado ao Primeiro Exército, foi prender sexta-feira à noite Vlado Herzog. 

Ele trabalhava na TV Cultura como diretor de jornalismo, e lá decidiram que ele iria no sábado pela manhã para depor. 

Contou-me o primo jornalista Marcos Faerman, do Jornal da Tarde, que foi discutido se Vlado devia ou não se apresentar ao DOI-Codi.


 Aliás, foi assim que comecei a escutar essa história toda, pois eu vivia então em Buenos Aires e estava distante do que se passava no país. Marcos sofreu muito com a morte do amigo jornalista e esteve na Missa Ecumênica da Praça da Sé.

O assassinato ocorreu pelas torturas ao jornalista Vlado Herzog, que sendo criança havia fugido com os pais do nazismo. Sua família judia sobreviveu na Europa nazista, mas no 25 de outubro de 1975 não pôde fugir dos seus torturadores.

 Cinquenta anos após esse trauma nacional muito divulgado no mundo, é preciso, por dever de memória, lembrar o que foi a longa ditadura militar, que ainda tem simpatizantes. Todos os jornalistas ligados ao Partido Comunista Brasileiro já defendiam a luta pela democracia; não estavam de acordo com a luta armada.

A repercussão do assassinato de Vlado Herzog foi espantosa, e logo o Exército, com fotos forjadas, criou a versão de que ele havia se suicidado. 

Todos os jornais publicaram que ele tinha se suicidado, mas a reação dos jornalistas de São Paulo e do Brasil foi grande, assim como dos estudantes universitários. 

Não tardou por se decidir pela realização de um culto ecumênico na Catedral da Santa Sé, tendo à frente o cardeal Paulo Evaristo Arns. Integraria o culto o rabino Henry Sobel, depois veio o arcebispo Dom Hélder Câmara e outras lideranças. 

Dia 31 de outubro, na sexta-feira, a Catedral não lotou sozinha, como toda a praça da Sé, pois se calcularam 8 mil pessoas. Havia uns quinhentos policiais civis e militares, quase todos ao redor da manifestação, e tudo foi feito para impedir o ato. Foi o primeiro grande ato político contra a ditadura desde o AI5 em 1968.


O assassinato de Vlado Herzog entrou para nossa História, e vários documentários foram feitos, muitos livros escritos. Indico o filme Vlado – 30 Anos Depois, que conta a história do jornalista morto em 1975 durante a ditadura militar no Brasil. 

O documentário, dirigido por João Batista Andrade, foi lançado em 2005 e está à disposição no YouTube, vale a pena ver. 

O livro que li agora é do Audálio Dantas: As duas guerras de Vlado Herzog – Da perseguição nazista na Europa à morte sob tortura no Brasil. Audálio foi jornalista, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e deputado federal pelo MDB.

 Esse livro tem no seu final os depoimentos de Clarice Herzog, esposa de Vlado e mãe de seus dois filhos, de Dom Paulo Evaristo Arns, do rabino Henry Sobel, do empresário José Mindlin, que à época era secretário de Cultura do Estado de São Paulo, e de Márcio José de Moraes, que em 1978 deu a sentença de que a morte de Vlado foi responsabilidade do Exército.

 Ele disse na entrevista para o livro:

“A versão do suicídio era insustentável, de uma hipocrisia revoltante. Essa revolta moveu minha consciência e a de milhões de brasileiros. Foi um divisor de águas”.


Passou um mês inteiro lendo os autos do processo como juiz, e ficou chocado, pois Vlado se apresentou para depor e horas depois foi morto na tortura, e se perguntava que terror viveu o jornalista. O caminho até a sentença não foi fácil, tinha temor do que poderia ocorrer a ele e à sua família. A sentença foi a de responsabilizar a União pela morte de Herzog, o que atingiu o regime militar no seu âmago, pois ele foi morto num recinto militar. Foi ali, conclui, que o Estado repressivo se rompeu como um vaso que se quebra e não tem mais conserto.

Acredito que é preciso conhecer mais sobre a nossa História, e agora em 2025 recordar o jornalista Vlado Herzog. Cinquenta anos se passaram, e o País precisa manter sua memória para que não seja nunca mais seduzido por uma ditadura.

 Aliás, vivi na ditadura brasileira e depois na ditadura argentina de 1976, daí aprendi como a democracia é frágil. Precisa ser protegida, como ocorreu na mobilização do País no último 21 de setembro. 

É preciso conhecer a História, lutar contra a tendência humana a servidão voluntária, os amantes das ditaduras. Gratidão sempre a Vlado Herzog que seguirá presente na nossa História.

*psicanalista e psiquiatra

 Revista Parêntese

 

ANDRE TRIGUEIRO


 

HERANÇA DE 2019-2023?



2019 foi o ano que 55,13% dos eleitores fizeram arminha com a mão...

Armas liberadas, um grande incentivo, sem dúvida.

Conforme dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, de janeiro a setembro deste ano, 57 mulheres foram vítimas de feminicídio no Rio Grande do Sul.

Já o levantamento da Lupa Feminista, coletivo que acompanha os casos de violência contra a mulher, aponta um número ainda mais alto: 72 assassinatos de mulheres no mesmo período.

O tema foi discutido em Caxias do Sul nesta sexta-feira (24), durante a 13ª audiência pública da Comissão Externa da Câmara dos Deputados sobre os Feminicídios no Rio Grande do Sul.