julho 09, 2016

JEAN-FRANÇOIS LYOTARD

Eddie Obryan
“Pensamos que sabemos ver.
As obras de arte, contudo,
não deixam de nos mostrar 
o quanto somos cegos.”

EUGÊNIO KIRCHHEIM JR



Geninho, 1974

Na sala de exposições do SESC de Lajeado, uma mostra didática de cartuns.  
Na abertura, um garoto que gosta de desenhar e se aventura na arte gráfica, contou um pouco sobre seu trabalho para um jornal daqui.  

Na verdade, minha cidade nunca foi generosa com os cartunistas. Até se tentou  três edições de Salão de Humor e Salãozinho Infantil. Mas acabou sem apoio...  E o cartum continua sem valor na imprensa regional.

 Um aqui, outro dez anos, geração falha, surgia alguém se expressando por meio do cartum.
Sem dúvida o mais talentoso, se não o único, nos últimos 60 anos, foi um cara chamado Geninho. Olhos oblíquos ao cruzarem com Geninho na calçada: bonitão, outsider, vivia  na dele. Um talento no desenho. Se tivesse ido embora para um grande centro, alçaria vôo. Talvez, veio ao mundo  numa época errada. Com certeza, Eugênio Kirchheim Jr, viveu na cidade errada.

Guardo um catálogo do 13º Salão Internacional  do Canadá, de 1976, que traz em suas mais de setecentas  paginas, cartuns dos  melhores ilustradores do mundo nos anos 70. Em 1973 acontecia a XXI Olimpíada de Montreal e foi montada uma grande exposição do  Salão de Humor, em paralelo. 

À titulo de curiosidade, com uma olimpíada beirando a raia e o tatame brasileiro:
“Financeiramente os Jogos (Montreal) foram um fracasso, causando o maior prejuízo econômico da história do evento até Atenas 2004,  totalizando mais de 2 bilhões de dólares americanos em dívidas, levando a cidade a demorar mais de 40 anos para conseguir quitar as dívidas relacionadas ao evento. Seu ousado, caríssimo e problemático estádio olímpico até hoje permanece como um símbolo do fracasso desta edição.
No campo esportivo, mais uma grande decepção. Pela primeira e única vez na história dos Jogos, o país anfitrião terminou a competição sem conseguir conquistar uma única medalha de ouro.”  Wikipédia

Mas eu quero falar do Geninho...  Nosso cartunista aparece no catálogo ao lado dos premiados Santiago, Paulo Caruso, Edgar Vasques, Renato Canini e tantos outros brasileiros que instigavam a reflexão nos anos de tirania. Geninho morreu cedo. De tanta nicotina, suponho. Mas antes ja tinha largado o nanquim, talvez desiludido, talvez sem um apoio maior.  Uma pena.

Vale a pena você ir até o SESC conferir a exposição francesa, mesmo que em banner. Temas como corrupção, guerra, discriminação, racismo , infelizmente, nunca  desatualizam.

Até o final do mês. 

julho 06, 2016

O NOSSO LADO A

No jornal  Zero Hora de hoje, os lajeadenses Marcel Stürmer e Helen Rödel – ambos com trema! – são destaques. O campeão mundial da patinação conduziu a tocha olímpica de patins, ontem. E a estilista expande sua grife artesanal em tricô para França, Inglaterra e USA. 
Para os que roem a unha de inveja, saibam que nada cai do céu. Muito suor, muito trabalho. E muita, muita persistência.


DOMINGO TEM ARTE NA PRAÇA

“Três  coisas que você pode fazer 
para melhorar a vida na sua cidade:
Arrume uma bicicleta, 
plante uma arvore 
apóie e crie arte localmente.”


julho 05, 2016

SILVIO GALLO

“O mundo dos mortos é aqui,
quando sucumbimos à opinião generalizada.”

KARL OVE KNAUSGÅRD

É um escritor de best-seller internacional. Escreve uma série de "romances de não ficção", baseado nas suas próprias memórias:

“Quando comecei a escrever, parti  da premissa de que tudo ali teria que ser experimentado, teria que ser algo que eu vivi. Mas eu não fiz pesquisa alguma para isso, eu estava escrevendo sobre a memória, então há um grande número de detalhes que eu precisei imaginar. Eu posso não me lembrar o que fiz especificamente em algum dia de 1976, mas eu me lembro como era 1976.”

Digo eu:
Coincidências existem – asseguram  os esotéricos. Também vivi, vi, ouvi e estou escrevendo do que me resta da minha memória coletiva, e imaginando minhas histórias.”

Diz o escritor:
"Não, quando você escreve, não tem ninguém na sala. Escrever é se colocar numa situação de total liberdade. Era isso que eu tentava quando escrevi esse livro. (...) Escrever era como ler, encontrando um lugar onde se pode ser livre".

Digo eu:
Quando escrevo tem marido, filho, mãe, amiga, faxineira,  telefone... e tudo me aprisiona.
Ilustração: Desiree Hirtenkauf

Trecho do meu livro “Os Lacônicos”, ainda se recortando...

           “Há maneiras de perceber a vida com um olhar diferente. Talvez você seja uma vencedora", disse o padre Rodriguez. “Mas não existe isso de vitória ou derrotas. Somente histórias pessoais, baseadas nas experiências que valem a pena ser contadas, serem escritas. Porque são elas que alimentam nossa identidade e definem nossas escolhas, você entende isso?”
           Eleonora apenas sacudiu a cabeça com os olhos  perdidos no assoalho antigo da sala de aula da Escola Germânica.
           “Saber quem a gente é, qual o nosso lugar e qual o nosso valor nessa vida. Sim?”, a menina concordou  com lagrimas que rolavam até a ponta do nariz . “Em Lacônia do Sul, Eleonora, vive-se um silêncio silenciado. Conte sobre isso, Terremoto! Sua memória, sua história.”


LIVROS NA CALÇADA

Dez dias de livros ao ar livre.  Aos poucos, partem. Socializar a cultura rende um “bom-dia” mais alegre de pessoas que não conheço. Rende apoios silenciosos: uma coleção capa dura, antiga,  de políticos gaúchos, inclusive da minha cidade; uma coleção de lendas do RS, bem bacana; livros do Mario Quintana, Marta Medeiros... Esses gestos aquecem a alma. Os livros que partiram ainda não voltaram. Não sei se voltarão um dia.  Mas também não sei se voltarei um dia...

OS CORVOS


Quando vejo os prédios roubarem o  céu e o sol, penso  como o Dalai Lama:

"Os homens perdem a sua saúde para juntar dinheiro,
 depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro,
esquecem do presente de tal forma
que acabam por não viver nem o presente nem o futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer...
e morrem como se nunca tivessem vivido" 

Tem gente que não tem mais onde enfiar o dinheiro: 
o cu ta cheio. Mas as obras continuam.
Por que não constroem esses mausoléus sobre o proprio túmulo?


TOCHA NÃO ATOCHA

Daqui a pouco chega a tocha olímpica na minha cidade. Depois das notícias  dessa Olímpiada Corrupta, muito animador... Em todos lugares são escolhidos os melhores alunos, atletas de destaque, pessoas que fizeram de sua cidade um local  melhor para viver, para se orgulhar. Ainda bem que temos Marcel Stürmer, que merece crédito.

Li que a tocha segue pela  rua principal da cidade cheia de postes e àrida de verde,

passa pela Praça do Chafariz que bem poderia estar funcionando, segue pela praça da Matriz  - será que vão esconder os craqueiros e bebuns? - e Casa de Cultura – consertaram o corrimão da escadaria? - finaliza no Parque dos Dick. Graças a D’us que plantaram mais arvores. Mas só estão esperando a passagem da tocha para depois cortar os eucaliptos do parque - "um perigo para a segurança" - disse um fascista. Vai Tocha, segue teu destino...