Guardachuvadelaura
abril 13, 2018
PEDAGOGIA 2018
João Francisco, quatro anos,
anda as voltas com monstros e
mortos.
Quero ir no cemitério - vem pedindo alguns dias.
Pra que?
Pra rezar pro meu bisa. Quero ir de noite.
Pra que?
Pra ver a mula sem cabeça.
Não existe.
Existe.
Não tem.
Tem.
Eu quero ir no cemitério. Vou levar meu foco.
Fomos.
Em comitiva matriarcal,
quatro gerações
É aqui?
É.
E a foto?
Não tem.
Só o escrito?
É.
Aqui embaixo tá a pele?
Ta.
Os ossos?
Ta.
E o coração?
Sim.
E o que ta no céu?
O caráter.
A estrelinha?
É.
Vou rezar.
Ta.
(Meu horóscopo diz para fazer o que está ao meu alcance e
nada mais. Quando crescer JF vai tratar os traumas, desse fim de tarde, no divã.)
Atualizando:
João Francisco, fizeram rodinha na escola?
Sim!!
Contou para a profe e os colegas que tu visitou o cemitério.
...
Contou?
................. não.
Ué, por que não?
Fiquei com vergonha deles ri di mim.
Humm... Será? Acho que não iam rir.
JF não quis saber de conversa. Encolheu os ombros e foi brincar com seu mamute pré-histórico.
abril 12, 2018
MÚSICA "INOCENTE"
Nathalia
Ehl
As publicitárias Rossiane Antunez, Nathalia Ehl, Carolina
Tod e Lilian Oliveira criaram o projeto MMPB: Música Machista Popular Brasileira. Para revelar nesse estupefacto ano de 2018 do século
XXI o quanto crescemos ouvindo músicas preconceituosas que retratam de forma afrontosa, com cunho de violência e abuso, a mulher.
“A ideia é mostrar para as pessoas como a mulher é retratada
de forma bem questionável na nossa música há muito tempo. As letras são
sintomáticas de uma sociedade sexista”, diz uma das idealizadoras do site. A
intenção é uma só: provocar reflexão. O que essas músicas têm em comum? Por que
essas músicas incomodam - ou deveriam - incomodar muito mais?”
Velhas Virgens cantam “Buceta”:
"Elas falam demais.
Mas têm o que a gente quer.
E elas torram a nossa grana.
Mas tem o que a gente quer."
Carolina Tod
Tem desde Racionais,
Raimundos até Odair José. De Tche
Garotos à Bezerra da Silva. Vinicius de Moraes ao sertanejos Henrique e Juliano, Jorge e Mateus - sem faltar
o Lora, Burra de Gabriel, o Pensador.
Conforme Nathalia Ehl:
“Já passou da hora de esse cenário mudar. Espero que, com
esse projeto, possamos conscientizar as pessoas de que nas letras que cantamos
no dia-a-dia, na maioria das vezes sem nem perceber, a gente tá contribuindo
pra um comportamento que está enraizado na sociedade. A mudança está
acontecendo. A luta NUNCA vai parar. E sempre lembrando, galera, que juntas
somos MUITO MAIS FORTES.
“A ODISSEIA LITERÁRIA DE UM MANUSCRITO”
Certo dia de agosto de 1966, o colombiano Gabriel García Márquez foi até o Correio de San Angel, na
cidade do México, levar um pacote com quinhentas e noventa folhas de
papel comum, em espaço duplo, escritas à máquina, para despachar para o editor,
em Buenos Aires.
Pacote pesado, faltou dinheiro. A solução encontrada: dividir o manuscrito ao meio. Para despachar uma das metades, ele e a esposa
Mercedes acabaram empenhando o aquecedor, uma batedeira e as alianças de casamento.
Em meados de 1965, a família Márquez foi passar um finde e
Acapulco. Dirigindo o carro sentiu-se “fulminado por um cataclismo na alma, tão
intenso e arrasador, que apenas consegui desviar de uma vaca que atravessava a
estrada.”
Passou um finde inquieto e assim que voltou sentou em frente à máquina de escrever, para datilografar “a frase inicial que já não podia
suportar dentro de mim”:
Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o
Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai
o levou para conhecer o gelo’.
Gárcia Márquez escreveu 100 Anos de Solidão durante 18 meses,
todos os dias, das nove da manhã às três da tarde.
https://www.revistaprosaversoearte.com/os-segredos-da-obra-cem-anos-de-solidao-de-gabriel-garcia-marquez/
abril 11, 2018
UM CERTO BEIJO...
Foi um beijo. No rosto. Um beijo leve.
Rápido, um roçar de beijo, mas foi um beijo, sim, tenho certeza, um beijo na
face direita. Um beijo de gratidão? Um beijo apressado, meio escondido, mas por
querer, querendo talvez um passado. Um beijo inesperado, com cheiro de sol e
grama molhada. Um beijo conspirado? Foi com certeza um beijo repentino, que me
pegou de jeito, logo eu, que adoro surpresa, ganhei de presente um beijo
delicado.