Guardachuvadelaura
abril 11, 2019
ARTE NA PRAÇA: 5 ANOS!
COMPANHIA APRENDIZ AS 11 H
É nesse domingo, dia 14, se não chover,
que o Arte na Praça comemora
5 anos de teimosia...
ARTHUR SULZBACH AS 14 H
5 anos de persistência...
OS ALQUIMISTAS ÀS 15 H
5 anos convidando os nossos talentosos músicos-amigos
KIMBERLEY NELSON ÀS 16 H
5 anos buscando novidades...
VELHO ROCK ÀS 17 H
5 anos que a gente nunca pensou completar!
Obrigada ao SESC de Lajeado,
à toda imprensa que apoia divulgando
desde abril de 2014.
Obrigada aos artesãos e à comunidade
que prestigia!
abril 09, 2019
UM ESTUPRADOR SOLTO
X trabalha todos os dias, de manhã e de tarde, fazendo faxinas.
X tem duas filhas. Uma na creche municipal.
Outra, 14 anos, não pode mais frequentar o projeto de horário integral, na escola
pública.
X mora na periferia da minha cidade. Num bairro chamado de Olarias.
Ontem, às 15 horas, a filha de X saiu de casa para visitar a
avó, que mora não muito distante.
Um homem agarrou a filha de X. A menina gritou e lutou, mas o homem era mais
forte.
Só não estuprou e matou a filha de X porque uma mulher vinha
de carro com duas crianças e viu a cena. Parou o carro no meio da rua e avançou
contra o homem. As três lutaram.
O homem acabou fugindo. Antes de desaparecer na esquina, levantou
a camiseta e mostrou uma faca na cintura.
A mulher levou a jovem para casa. E chamou a brigada
militar.
E a pergunta: quem será a próxima vítima?
E vai ter alguém para socorrer?
Corrigindo: A brigada militar nunca apareceu para socorrer.
Corrigindo: A brigada militar nunca apareceu para socorrer.
DO MEU BLOQUINHO
“Die welt ist ler, Ich will nicht leben mehr” – o mundo
está vazio, não quero mais viver - disse a cantora operística Kathleen Ferrier,
morta em 1953, de câncer. Morreu de morte morrida, como diz uma amiga.
Por não querer viver, minguamos - como uma lua que se
despede do céu.
Não querer viver – um lento suicídio no quarto escuro.
Não querer viver - não há regresso do nosso fim.
Não querer viver - não há regresso do nosso fim.
Pensei nisso quando li que no Brasil há
um suicídio a cada 45 minutos; no mundo a cada 40 segundos. E se
matar já é a segunda principal causa de morte no mundo entre jovens de 15 a 29 anos.
Das 20 cidades brasileiras onde o número de suicídio é
mais elevado, 11 são gaúchas. Para ficar só na minha região: Forquetinha e
Travesseiro, ambas com dna germânico, ambas agrícolas, muito agrotóxico nas lavouras...
Desesperança, talvez, a base da solidão. É difícil
lidar com esse impotência.
A Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do
Suicídio foi aprovada pelo Senado e segue para sanção de Bolsossauro.
O texto prevê que hospitais, postos de saúde e escolas serão obrigados a
informar às autoridades sanitárias os casos suspeitos ou confirmados de
automutilação.
Ontem assisti ao filme Ella e John... Antes da decadência física e
degradação moral, o suicídio dos personagens como solução.
Dentro da
cabeça, uma hidra não nos deixa dormir. Por via das dúvidas, Donaren todas as
noites.
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES *
Os 80 tiros e a volta dos porões
"O homicídio do músico Evaldo Rosa dos Santos, no
domingo, no Rio de Janeiro, não comporta tergiversações:
trata-se de ação
brutal perpetrada por militares do Exército Brasileiro que fere a Constituição
e as normas mais elementares do Estado de Direito.
Impressiona a desenvoltura demonstrada pelo grupo
fardado, que depois de descarregar 80 disparos –80!– num automóvel ocupado por
pessoas pacíficas teria debochado da mulher da vítima, acompanhada do filho de
7 anos, do pai, também atingido, e de uma amiga.
“Muitos brasileiros orgulham-se de ter alçado ao Planalto
um candidato identificado com os porões da ditadura.
Bolsonaro nunca escondeu
quem são seus heróis.
É um apologista das armas e da tortura. E isso não é
bravata.
O crime contra Evaldo encena a volta dos porões nessa
espécie de pós-democracia, à luz do dia, sem receio de punição, sem temor de
transgredir regras legais e normas elementares de convívio civilizado."
* Colunista na Folha de São Paulo
EDUARDO GALEANO
Os Despejados de Candido Portinari, 1934
As pulgas sonham com comprar um cão,
e os ninguéns com deixar a pobreza,
que em algum dia mágico a sorte chova de repente,
que chova a boa sorte a cântaros;
mas a boa sorte não chove ontem,
nem hoje, nem amanhã,nem nunca,
nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte,
por mais que os ninguéns a chamem
e mesmo que a mão esquerda coce,
ou se levantem com o pé direito,
ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns:
os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns:
Os ninguéns:
os nenhuns, correndo soltos,
morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns,
que custam menos do que a bala que os mata.
* Lembrei desse texto, d' O livro dos abraços, quando soube do assassinato do musico Evaldo dos Santos Rosa, pelo Exercito Brasileiro.
Somos ninguéns. Mas uns são mais do que outros porque são negros, são da periferia, ou porque são índios, são pobres, ou porque sem-tetos, sem honra, sem carteira de identidade...
Os ninguéns são fuzilados. Cuide-se.