Guardachuvadelaura
julho 18, 2024
ROSANE CARDOSO
Um Castelo que não é de cartas...
Os anos de 1980 vão longe. De lá para cá, houve mudanças
significativas na cidade de Lajeado. Muitos prédios de arquitetura inovadora,
lojas para todos os públicos, apuro gastronômico, propostas de cidade
inteligente e parques, muitos parques.
Os anos de 1980 me trazem boas lembranças. Uma das
melhores são os tempos do Castelinho. Sim, o mesmo Castelinho que hoje grita
por socorro, a escola que nunca precisou do nome completo para ser reconhecida,
a escola que recebeu crianças e jovens de todas as classes sociais.
Na época, não havia ensino médio em Estrela, minha cidade
natal. Então, lotávamos um ônibus todos os dias e vínhamos “estudar em
Lajeado”. Era quase como ir para a “cidade grande”. Ali, encontrei um grupo de
professoras e professores cujos nomes e rostos recordo perfeitamente. Lembro –
e muito bem – da Dona Jeni, sempre atenta às nossas escapadas, na sua ronda
diária pelos corredores.
As tais escapadas nada mais eram do que sentar na
escadaria da Igreja ou na Praça da Matriz. Mas, o melhor mesmo era quando havia
grana para comer um cachorro quente do Carmelito, luxo de guria pobre.
Essas lembranças não podem ser varridas pelas águas que passam. E é preciso lembrar o passado. Povo que esquece o que se foi, mal sabe onde está.
Infelizmente, parece que o Castelinho pode desaparecer e não somente pela água que o maltratou profundamente no último maio.
Lendo as notícias sobre a possibilidade de fechamento da escola, acredito que as minhas lágrimas se somam a de muitas e muitas pessoas.
O Castelinho não é um nome, não é uma escola. O Castelinho é uma história.
Portanto, não deveria haver dúvidas, não deveria haver
debate, não deveria haver sequer a simples cogitação de que esta instituição
possa desaparecer. O Castelo não é um lugar que deva estar cercado de lixo e de
abandono. Não é um jogo de dados para ser lançado em mesas de políticas do
esvaziamento.
Não sei se alguém consegue imaginar Lajeado sem o
Castelinho junto à Praça da Matriz.
Eu não consigo.
HISTORIA DA LITERATURA
Milan Kundera conta
uma história bacana sobre Nietzsche, no seu livro "A insustentável leveza
do ser".
Em 1889, o filósofo estava saindo de um hotel em Turim quando viu um homem chicotear o seu cavalo. Nietzsche se aproxima do animal e o abraça pelo pescoço e chora aos soluços.
A partir daí, a “humanidade” declarou que Nietz estava
louco.
Kundera escreve:
“Mas, para mim, é justamente isso que
confere ao gesto seu sentido profundo. Nietzsche veio pedir ao cavalo perdão
por Descartes. Sua loucura (portanto,
seu divórcio com a humanidade ) começa no instante em que chora pelo cavalo. É
esse Nietzsche que amo...”
ERA UMA VEZ...
Esses dias, achei fotos do plantio de um Baobá, no Jardim
Botânico. Em 2021, acho. A prefa de
Lajeado convidou galera da umbanda de Bom Retiro, havia crianças, mulheres, a
paulista Sílvia Estanislau Lima como presidente do Centro de Cultura Afro-Brasileira
e umas metidas como eu, para prestigiar a ação ambiental e me deixar envolver pela rica cultura afro.
Cantaram, benzeram e plantaram o Baobá, a árvore da
vida e seus significados para alguns: suas raízes representam os
ancestrais e as memórias do povo negro enquanto o tronco representa as crianças
e os jovens em crescimento.
Pois bem, a vice-prefeita Schumacher levou as filhas
pequenas. No seu discurso disse que elas, no futuro, poderiam contemplar aquela
árvore e dizer que presenciaram seu plantio. E com isso ignorou as outras crianças. Insensível, é o mínimo que posso dizer. Não
sabia nada da questão cultural.
Óbvio: o Baobá não vingou. Era muita brancalhada ao redor e discurso furado. Mas rendeu vitrine na mídia, que era o desejado mesmo. "O que é paz cresce por si" - escreveu Guimarães Rosa. Só pra complementar...
“A ECOBÉ QUER SALVAR O MORRO GAÚCHO”
Elisabete Barreto Müller é sócia-fundadora da ONG Ecobé: “Vida
Longa para o Vale”.
Em entrevista à radio A Hora, destacou o papel fundamental da organização na proteção ambiental do Morro Gaúcho e na criação de uma unidade de conservação para a área.
Fundada em 2000, a preocupação maior foi a de preservar o morro gaúcho, em Arrio do Meio.
Para Bete Müller, a região não recebeu a devida atenção em termos de conservação, apesar de ser um dos remanescentes florestais mais significativos do Vale do Taquari.:
“O morro abriga uma rica diversidade de animais, plantas, córregos e nascentes, além de ser um ponto de encontro para diversas comunidades, incluindo o morro São José. O local rico em grandeza e potencial atrai apreciadores da natureza oferecendo espaço de lazer, passeio, além da prática de atividades esportivas”.
Ela enfatiza a importância de transformar o morro gaúcho em uma unidade de conservação, dividida em duas partes: Área de Proteção Ambiental (APA), que envolve todo o morro, e uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), destinada à preservação de características naturais únicas e à promoção do ecoturismo sustentável.
A preocupação da ONG é com a construção - horrorosa e cafona - do monumento no alto do Morro Gaúcho:
“A Ong Ecobé é contra essa construção. No campo das ideias somos contrários. Esse empreendimento causaria um grande impacto ambiental”.
Bete questiona a validade do projeto original, apresentado antes do desastre natural. “Queremos saber mais sobre essa aprovação da licença prévia, especialmente em relação à falta de assinaturas e à ausência de comunicação com o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Codemam)”.
E destaca a preocupação com a possível derrubada de 2.161 espécies de árvores nativas para a implementação do empreendimento - um arboricídio ambiental, digo eu.
A breguice prevê numa área superior a 60 hectares:
“Contará
com restaurante, hotel, arena multiuso e roda gigante, além de um parque
cultural alusivo à cultura gaúcha, com um monumento de 50m. O investimento gira
em torno de R$ 50 milhões. Um dos proprietários da área e idealizadores do
investimento é o advogado Gerson Zanchettin” – conforme o jornal O Alto Taquari.
GREGOR SAMSA & GRANDE IRMÃO
Dias desses, minha cunhada compartilhou uma reportagem da
Folha de São Paulo. Uma “aula” sobre Kafka e Orwell.
Quantas vezes já ouvimos alguém dizer:
- Ele é meio kafkiano...
Ou seja, um cara q leva a vidinha de forma meio absurda.
Para nossos parâmetros burgueses, claro. Um sujeito meio nadavê. Que trabalha com
coisas inúteis, que não levam a nada, sem objetivo. Sempre tem alguém q a gnt
conhece, né? Até na família.
E o personagem orweliano,
baseado no livro “1984”, de George Orwell? Escrito em 1949!
É sobre um personagem q se rebela contra o sistema, a
sociedade. Mas é esmagado por ela. Um fracassado. Esse é dos personagens mais
comuns por aí.
Quantos de nós trabalhamos e vivemos amargurados durante toda a vida, com um “patrão” vigilante, q nos massacra 24 horas por dia? Senão lá fora, dentro de nós mesmos?
Kafka
“1984” é um romance sobre uma distopia - para a filosofia significa “uma sociedade imaginária controlada de forma opressiva pelo Estado ou por outros meios extremos, de maneira que as condições de vida dos indivíduos se tornam insustentáveis.” É a antiutopia.
Uma sociedade orwelliana é manipulada em nome do
poder. Um regime orwelliano é poderoso,
invisível e vigia física, emocional e intelectualmente todos nós.
Por falar nisso, quem detém o poder vigilante no país? A
imprensa? A igreja católica? Os evangélicos? A publicidade? A maçonaria? O sertanejo? As milícias? Ou os ratos em Brasília?
Quem faz a lavagem cerebral de nossas cabeças?
A Globo? Bom... Não é por menos que o Big Brother tenha se
inspirado no “1984” e sucesso até hoje no Brasil depois de 20 edições - um
bando de orwellianos buscando seus minutos de fama e o povo kafkiano, assistindo.
Não é por menos que elegeram essa falácia chamada
Bolsonaro.
Talvez, sejamos um bando de fracassados... E o Brasil, um
pesadelo absurdo.
À PROPÓSITO: A
Fundação Orwell mantém uma riqueza de recursos sobre o escritor, de acesso gratuito
online dos ensaios e diários e até uma biblioteca de trabalhos sobre
ele e sua escrita.
julho 16, 2024
AH, O VARAL...
DO MEU BLOQUINHO
“A acepção de bruxa não corresponde exclusivamente à mulher de nariz adunco que pratica o mal através de poções mágicas feitas em caldeirões. As mulheres quietas, barulhentas, transgressoras, benzedeiras, cartomantes, ciganas, “bugras”, pretas, ruivas, canhotas, hereges, ambiciosas, já foram – e ainda são – chamadas, eventualmente, de bruxas.
Da mesma forma, a mulher que não satisfaz a determinados padrões de aparência recebe o epíteto: a bruxa é a que não “se cuida”, a idosa decrépita, aquela a quem lhe faltam dentes...”
Da introdução do artigo “Pra te comer melhor”: maternidade, desejo e fome nos contos de fadas”, da professora Rosane Cardoso, busquei na memória a tia Menina, lá de Vera Cruz.
Conta a lenda familiar que o marido a engravidou e fugiu. O delegado e a polícia correram por todos cafundós de Trombudo, Sítio, Rincão. Até o acharem no meio do mato e trazerem de volta pra casar.
Tia Menina era muito feia e a conheci velha. Não devia ter 45 anos!
Sua cozinha era escura, o fogão a lenha com panelas fumegantes ... E a tia Menina - como seria o nome dela? - encurvada, narigão, cabelos brancos destrambelhados, a própria bruxa. Botava medo nas minhas fantasias.
Mas era uma querida, sempre oferecendo algo bom pra comer e perguntando se meu pai continuava muito brabo e me surrando. Aquilo me derretia. Eu sentava no banquinho das lenhas e admirava os cheiros e os vapores que nublavam aquele ambiente mágico.
No seu artigo, Rosane Cardoso diferencia bruxa e feiticeira.
Fiquei encantada com as distinções. Nunca tinha pensado nisso. Foi daí que tomei Tia Menina por uma maga, que manipulava suas caçarolas e transformava a simplicidade em doces e salgados, sem nenhum grimoire para se basear. Avançando na leitura do artigo, Rosane escreve:
“...repare-se que, no contexto dos contos de fadas, uma
mãe não existe sem pertencer a um determinado constructo: a família ou, mais
objetivamente, a tríade pai, mãe e filhos. No entanto, o pai é uma ausência
quase unânime nos contos de fadas. Pode-se dizer, sem medo de errar, que as
narrativas pertencem a filhos e filhas, àqueles que ainda precisam construir um
caminho que, parece, o pai já teria cumprido.”
Acho que com isso, tio Déco também nem falta faria.
E A KOREA, HEIN?
Recordo, não sei como, no dia 1º de 2021 fomos passear pelo interior, aqui na
região. Fui conhecer uma antiga biblioteca em Linha Andreas. Lembro bem porque à noite,
uma notícia nas redes chamou minha atenção. O aborto na Coreia do Sul deixava
de ser crime ou prática ilegal:
“O direito à interrupção voluntária da gravidez, antes só aceito para vítimas de estupro ou em casos de risco à saúde da gestante, agora é extensivo a todas as mulheres.”
A lei que
criminalizava o aborto havia caído enquanto eu passeava por Linha Andreas,
interior do Vale do Sampaio. Algo contra... A taxa de natalidade sul-coreana
é a mais baixa do mundo. No entanto.... Tatuar é crime! Como pode?
A Coreia do Sul, ou Tigre Asiático, é conhecida pelo seu desenvolvimento tecnológico - importante produtor de chips - e pela banda BTS e várias bandas K-pop, ou seja, abreviatura de Korean pop, um fenômeno musical que vem conquistando o mundo... adolescente, diga-se.
Sim, há varias esculturas e estátuas para lembrar a importância dos livros. Seul tem dezenas de lindas bibliotecas na cidade e deve ter centenas de livrarias. Isso num país que desenvolveu os primeiros livros didáticos digitais no mundo, distribuídos de forma gratuita aos estudantes do ensino primário e secundário até 2013.
Então tá! Agora vou escrever uma carta ao governo sul-coreano e pedir uma passagem para conhecer o país.
CONSCIENCIA AMBIENTAL
Costa e Silva governava o Brasil, em 1968. Em plena ditadura, a criação da Floresta Nacional de Passo Fundo, pela Portaria nº 561. Foram salvos 1.328 hectares destinados ao uso sustentável da natureza, ao turismo e à realização de pesquisas científicas. Na época, a floresta pertencia ao distrito de Mato Castelhano, em Passo Fundo. Alguma coisa boa os milicos deixaram do tempo dos "desparecimentos" de quem era contra um governo tirânico.
Em 1947, o Instituto do Pinho (antigo IBDF), comprou uma área de terra de 1340 hectares para reflorestamento. Hoje, a Floresta Nacional de Passo Fundo, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e protege uma região do bioma pampa caracterizada pela transição entre os ecossistemas savana e floresta ombrófila mista.
Mato Castelhano virou cidade em 1992. Tem 2 543
habitantes, a maioria de descendência italiana, e é conduzida por um prefeito PP.
Minha curiosidade: a Floresta é um orgulho? Ou já gostariam de ver tudo transformado em pastagens e plantações de eucaliptos? Pergunto porque a cidadezinha é basicamente agrícola e tem no soja, no milho, trigo, pastagens, e na pecuária de leite e corte como suas principais atividades.
Mas, é em Mato Castelhano que localizaram a nascente do rio Jacuí, numa região chamada Berço das Águas, próximo às margens da BR 285. E é em Mato Castelhano que fica a barragem Capingui, local de lazer de muita gente.
Muita vontade de conhecer!
ERA UMA VEZ UM RIO
Pelo jeito Araucárias e Figueiras, pode. Que lei de merda, né?