junho 03, 2009

FERNANDO JOSE KARL

"Eu creio em poucas coisas, minha amiga;
eu apenas creio que Deus precisa de nosso pobre coração
para existir."

FRAGILIDADES

Esse acidente aéreo da Air France...

A imprensa explora de todas as formas a tragédia. Por pontos no ibope, por grades publicitárias. Um dia apareceu a repórter Sônia Bridi, direto de Paris, feito uma zumbi... De tão cansada, noite sem dormir, para que a Globo não perdesse um detalhe macabro. E os telesádicos também não. Verdadeira catarse coletiva no sudeste e no sul do país. Porque o nordeste não tá nem aí... Enchentes, fome, bolsa-família.

O que me deixou impressionada é como alguns lidam com a fatalidade se expondo em frente às câmeras para garantirem os cinco segundos de fama inglória fama.

E a sueca casada, mãe, que morava no Brasil? Por precaução, quando o casal viajava, cada um seguia em aviões diferentes. Ela morreu com sua filhinha de três anos. O marido embarcara um dia antes... Tenho medo dessas rasteiras.
Ouvi uma mulher dizer que quando ocorre tragédias como esta envolvendo um grupo grande de pessoas, o espírito desencarna antes da morte e a pessoa não sente nada, nem medo.

- Quem disse isso?
- Alan Kardec.
Não sei nada de espiritismo e guardo minhas restrições místicas.
Acho que sou muito covarde para acreditar em todo isso...
Lembrei que Ulisses Guimarães também foi esquecido no fundo do mar.

junho 01, 2009

DE COMO ME TORNEI PAPARAZZI...

...ou melhor: mamarazzi no vôo 1892.

Tão alheio ao meu olhar voyeaur, quando trocou de lugar para a 23F.
Seria inocente também?
Na careca, tufos de hieróglifos em relevo o denunciaram.
As unhas esmaltadas em sangue brown, confirmaram.


Bebeu de uma pepsi porque não era um momento coca
e engoliu uma pedra de gelo sem se engasgar.
Carícias leves na mulher sonolenta ao seu lado.
Aceitou as Sete Belo, de maçã verde, e não regurgitou,

apenas o encéfalo esquerdo pulsou compassado no trincar da bala.


Leu o jornal e quando a aeromoça teuto passou quis algo,
mas ela nem mesmo voltou
ignorando seu potencial metafórico.
Cochilou lendo o jornal e não percebeu

a poesia traiçoeira das nuvens lá fora.


No pouso de um vento minuano, o passageiro dos versos se foi
exibindo uma antiga camiseta colorada,
ignorando a indiscrição de seus velhos leitores...