Guardachuvadelaura
junho 11, 2011
AH, OUTONO...
Da série poesia na calçada. Na calçada do vizinho. Ainda bem que o outono nunca atropela o inverno. Ao contrário da primavera, aquela sim, tão hiperativa que se atraca no verão e a gente adianta o tempo dos picolés e ventiladores. A primavera é sempre assim: impetuosa, descomedida, de sangue quente.
Mas o outono não...
O outono é abandono.
Sossego.
POR DO SOL CINZENTO
Aírton Engster dos Santos, ambientalista e radialista de Estrela, mandou essa imagem da sua cidade. Parece que a fuligem do vulcão chileno Puyehue aterrissou também por estas bandas, encardindo telhados e varais... tapando mais a peneira de muita gente.
Quanto transtorno nos aeroportos. Ainda bem que viajei antes dessa natureza se manifestar.
O MESTRE DO TANGO MODERNO
Se vivo fosse, Astor Piazzola, o criador do nuevotango, teria completado em
março, 90 anos.
Partiu cedo, penso enquanto escuto o cd que trouxe de Buenos Aires.
Eu amo Piazzolla. E com uma garrafa de vinho amo mais ainda.

Aos nove o pequeno Astor ganhou seu primeiro bandoneon.
19 dólares, adquirido pelo pai numa loja de penhores.
Esse pai que seria homenageado com a mais linda de suas composições:
Adiós Nonino.
“Talvez eu estivesse rodeado de anjos. Foi a mais bela melodia que escrevi e não sei se alguma vez farei melhor.” – disse.
Escuto “Balada para um loco”, na voz de Amelita Baltar, a segunda mulher. Canção e música popular apresentada pela primeira vez em 1969, no Primeiro Festival de Música Ibero-Americana. Ficou em 2º lugar.
E a relação com Amelita não durou dez anos.
Não sei quando “descobri” Piazzola, mas foi ainda nos anos 80.
Tenho o vinil. Rodou muito no meu toca-disco. Muito mesmo.
Cada fossa, um trago de vinho e Piazzolla. Nada combina melhor. E eu saúdo Vicente "Nonino" Piazzolla, que incentivou o filho tão cedo no bandenon.
Piazzolla menino com Carlos Gardel e Tito Lusiardo
O compositor sequer imaginaria que um dia filmaria ao lado de Carlos Gardel: “El Dia Que Me Quieras".
E que sentaria ao lado de Jorge Luis Borges para confabular melodias: “El Tango”.
E ainda que tocaria com outros mitos como Aníbal Troilo, Gerry Mulligan, Tom Jobim e muitos outros.
Em 1987 realiza um concerto no Central Park de Nova York que traz um novo brilho a sua melodiosa biografia. Rende um disco bacana que nunca ouvi.
Foi Piazzolla que embestou de tocar bandoneon de pé, apoiado numa cadeira, criando assim um estilo, além de suas jazzísticas e inspiradas composições tangueiras.
Em agosto de 1990, em Paris, sofre um acidente vascular cerebral.
Mas é em Buenos Aires que o músico regressa para viver seus últimos dias.
Morre em 4 de julho de 1992. Tinha 71 anos.
Curiosidades:
Sua última esposa, Laura Escalada, e o antigo amigo Victor Oliveira, guardam um grande acervo de Piazzolla. Ela é presidente de uma Fundação Astor Piazzolla.
Ele, presidente do Centro Astor Piazzolla.
John Buckman:
“O bandoneon é parente do acordeão, e foi originalmente inventado como um substituto barato para os órgãos da igreja.
De lá migrou para o lado decadente da vida, boates e prostíbulos.
Piazzolla une estas duas tradições do instrumento, combinando a precisão e complexidade da música clássica com a paixão e a intensidade do bordel.”
Piazzolla compôs para o cinema. Inconfundível: no filme Sem Fôlego, a trilha “Tango Apaixonado” serve de pano de fundo para Jim Jarmusch e Harvey Keitel fumarem seus cigarrinhos.
Conforme seus biógrafos, Piazzolla teria escrito quase 3.000 peças, mas gravado apenas umas 500.
A mais famosa?
Fonte: http://www.piazzolla.org
MI BUENOS AIRES: SEGUNDO PROTESTO
Depois de algumas deliciosas media lunas e cafés bem quentes, depois de se perder nas ruazinhas do centro de Buenos Aires, voltamos à Plaza de Mayo onde tudo começa e termina, para que a Casa Rosada saiba que os porteños não se micham: protesto dos taxistas.
Pertinho do protesto, a vida é uma eterna espera. E o habito de ler é visível. Nos bares, no metrô, parada de ônibus...
... na Galeria Pacífico! Não é à toa que este ano Buenos Aires é a capital internacional do livro, título concedido pela UNESCO. Só na cidade, mais de 300 livrarias. E 28 bibliotecas públicas! Desconfio que as livrarias dão suporte aos protestos...
Na linda Galeria Pacífico, uma cúpula maravilhosa, afrescos bacanas, mas acabei esnobando as lojas e fui atrás do Centro Cultural Borges, no ultimo piso. Mais uma dica da Aline e do Cris. Cinema, show de tango e boas exposições.
Volto para rua, um frio de rachar, a umidade nos ossos, nos cabelos, e pensei que se eu já turistava fantasiada de peruana, uma touca completaria o figurino. E o tiozinho tinha várias, bem quentinhas...
Os camelôs reinam absoluto em todos os locais da cidade. Mas é na esquina desta que ao cair da tarde eles sindicalizam...
junho 09, 2011
VIVO NO DIA DOS NAMORADOS
Enviado pela Aline, que tem o blog mais bacana da cidade: http://www.pesadeloscoloridos.blogspot.com/
Demora para atualizar.
Mas assim é.
MI BUENOS AIRES: PRIMEIRO PROTESTO
Uma semana em Buenos Aires. O que eles tem que nós não temos? São mais patriotas e tem mais vergonha na cara do que os brasileiros. Por isso, as ruas servem também para se indignarem. Lavei a alma.
Uma centena de músicos porteños, de orquestras e diferentes grupos musicais, de outras províncias também, protestavam em frente a Casa Rosada, na Plaza de Mayo, contra a administração autoritária (e corrupta?) do Teatro Colón. Hino da Argentina.
O maestro regendo. O povo emocionado. As veias abertas... E as minhas também.
junho 08, 2011
SERIAM NOSSOS ÍDOLOS AINDA OS MESMOS?
Sabe aqueles ditos “você é o que você come, o que você lê, o que você assiste”?
A memória sacaneia, mas acho que já escrevi aqui sobre esse assunto.
Então, dias atrás uma pessoa contou que mandou emoldurar quatro personalidades para botar na parede do seu apartamento. E disse para eu descobrir quem eram pelas características:
Genialidade.
Talento e eficiência.
Caridade e humildade.
Otimismo e auto-estima.
Primeiro lembrei da música do Belchior...
Depois chutei no espaço e acertei: Einstein.
É que existem poucos gênios.
As outras qualidades são mais terrenas. E aposto como você conhece algumas pessoas que se encaixam bem nesses qualificativos. Talvez o mais difícil seja “caridade e humildade”, não é?
Ídolos. Você é quem você admira.
Li que se você prestar um pouquinho de atenção no décor do ap ou casa da pessoa que está visitando pela primeira vez, você pode descobrir um pouco da personalidade dela.Sim, os neuropsicólogos afirmam ser verdadeira a tese.
E eu acredito nesses caras.
Há tempos, os pesquisadores vem estudando as preferências dos indivíduos por pintura, livros, músicas, filmes e assim diagnosticando os fatores da sua personalidade.
Claro que precisa levar em conta a geração de cada um.
E a gente sabe que a estética muda conforme anda o cronômetro da vida.
Por isso achei interessante o meu amigo escolher quatro personalidades para botar na parede. Tem significado porque se identifica com o que eles representam. Ou admire. Não duvido que mais alguns anos e troca os ídolos na parede.
Sinceramente, eu me arrepio quando um desocupado na vida resolve belo dia pesquisar, bisbilhotar e escarafunchar até descobrir uma pagina cinzenta na vida dos meus ídolos.
Aí publicam a biografia e deitam por terra as nossas mais caras ilusões: são humanos nossos heróis, infelizmente. Foi assim com o Che Guevara e com o Ghandi.
Embora eu pense que ídolo é símbolo: da rebeldia e da paz, como esses dois e nada vai tirar essa áurea que envolve suas figuras.
Meu amigo escolheu Einstein, um jogador de futebol, uma religiosa e um político.
Quase caí dura e questionei essa última escolha. Ele apresentou os motivos.
Não me convenceu.
Então ele quis saber quem eu botaria na parede para ilustrar minha admiração.
Depois de muito pensar: John Lennon, Frida Khalo, Pablo Neruda e Che na sala.
Mandela, Érico Veríssimo, Tom Jobim e Irmã Dulce no quarto.
Não me perguntem o por quê.
Dêem pelo subterrâneo do espírito da gente que nem ouso entender.
Mas provocando: e para você, hein?
Quem são os ídolos que lhe inspiram, merecem moldura e reverência?
Cartas para a redação.