dezembro 03, 2011

PAULO LEMINSKI

ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo 

ele veio
meio a esmo
praticamente 
não disse nada
e ficou por isso mesmo 

TULIPA RUIZ

MEMÓRIA E FUTURO


A maior tirana da minha vida é a memória.
De que adianta pensamentos lúcidos se a gente não tem como guardá-los?
Quando se precisa deles é como procurar a tesoura, os óculos ou uma das meias que se escondeu da outra e que estão perdidos no caos doméstico.
E é por isso estou sempre escrevendo o que penso. E se às vezes não é porque esqueci onde guardei a caneta e o bloquinho.
Todos nós sabemos que não dá para guardar tudo na memória, do contrário ficaríamos loucos. Todas as horas e os minutos de frustrações, raiva misturadas as alegrias e prazeres, tudinho sempre na ponta da língua ou da memória - impossível!
Mas por que, por que meu Sinhô, não consigo gravar o nome das pessoas? Não consigo lembrar de situações que vivi aos 9 ou aos 17 anos? Não consigo nem lembrar de lugares que visitei há dez anos?
É uma traição, é uma vingança, uma humilhação das minhas sinapses? É isso?
“Somos o que nos lembramos” – ou algo assim, sempre tem alguém lembrando o que somos a partir da nossa fome, da nossa leitura e agora do nosso passado.

Então sou uma barata e acho que deveria reler “Metamorfose” do Kafka, só para clarear as idéias. A minha memória também é surreal. Parece que vive de contornos embaciados. “Talvez estive lá.... talvez era eu... talvez conheça ela...” Tudo é talvez e eu sou uma barata tonta às voltas com os vazios existenciais.
A única coisa que a memória ainda não me atraiçoou é quanto ao aroma e ao paladar.  O que me torna uma pessoa muito chata para perfumes e temperos.
Viram? Dificilmente levo vantagem.
Então: é a nossa memória que conta  as histórias das nossas vidinhas. Cada um com a sua maleta pessoal de recordações. Até podemos dividir lembranças, mas assim como a nossa impressão digital, ela é única de cada um, porque a impressão vivida, mesmo em conjunto,  é exclusiva de cada um de nós. É única, pessoal e intransferível – feito senha. A memória é uma aquisição individual. Até o sangue, a pele, o pulmão você divide, mas não a memória. Não existe outra idêntica a sua.
Só que, juntos formamos grupos, comunidades e vamos atrás de objetivos afins: gostamos de pescar, de fazer trilha, de cozinhar, de ler poesia, de jogar carta e apostar. Então aposto que juntos formamos uma cidade e logo criamos uma identidade.

Então, qual a identidade aí em Arroio do Meio? Em Teutônia? Encantado?
Ora, Santa Clara do Sul não pode ser só a terra da Shirley.
Lajeado não pode ser só a terra das oportunidades imobiliárias.
E Cruzeiro do Sul não pode ser só a terra dos Azambujas.

As cidades têm memória, tem uma história a preservar, assim como uma aldeia indígena, uma comunidade quilombola ou uma prainha de pescador. São costumes, tradições e hábitos que dignificam o estofo cultural de geração para geração e formam a  memória coletiva, nos orgulhando ou não.

 Mas, do jeito que o progresso se arma de cimento e asfalto, do jeito que o estresse toma conta dos governos híbridos; do jeito que os líderes andam se deprimindo e insone por suas falcatruas, ó, vou dizer enquanto ainda me lembro, essas coisas todas contribuem para a perda da memória. Qualquer médico confirma os sintomas e as causas.

Cuidem-se, afinal é sabido que o coração implora aos nossos bilhões de neurônios que eles se lembrem onde cada um de nós deixou ou escondeu  a passividade, o conformismo e a responsabilidade pelas coisas que hoje estão acontecendo nas cidades.
E com cada um de nós.

* Minha crônica nos jornais A Hora do Vale, de Lajeado  e Opinião, de Encantado.

novembro 28, 2011

EDITH PIAF


Não ... absolutamente nada ...
Não ... Não lamento nada
Nem o bem que eu fiz,
nem o mal - eu não me importo!
Não ... absolutamente nada ...
Não ... Não lamento nada
é pago, varrido, esquecido,
eu não me importo do passado!

TRILHA SONORA

BISTRÔ RURAL MENETRIER: GALÓPOLIS



Sabe quando você chega num lugar e a impressão que sente é de um cenário inspirador para passar o resto dos seus dias? Com as cores que você ama, as paisagens que emocionam e as pessoas que te inspiram? Pois é, nem trilha sonora falta. Este findi que passou, com o pretexto de um festival de  blues, chegamos na morada dos Menetrier, em Galópolis, ha dez quilômetros do centro de Caxias. 
Sempre querendo compartilhar os momentos, pensei em todos meus amigos íntimos que gostariam daquele cartão-postal. Não enchi uma mão. É poético, é rural e de muito bom-gosto. 

Na mata preservada, um palco. Sempre é hora de celebrar os amigos e as aventuras compartilhadas.  
A perder de vista  o pomar com pessegueiros, kiwi, pereiras, claro, as videiras, a horta, o lounge, a adega, os açudes. E dizer que tudo aquilo  não passou de um galinheiro e casa "mal-assombrada"...
Tudo transformado pelas mãos da Ju.

Que não tem paciência com os acomodados e faladeiros de plantão. Nada combina mais com a paisagem do que ela e sua energia para revelar as transformações da vida. Em sua própria vida e ao seu redor.
Colher e comer no pé feito café da manhã.
Como sobremesa depois do almoço.

Chegamos no final da tarde quente. 
Direto para o açude alimentar os lambaris 
e alimentar o nosso próprio espírito com uma champagne geladinha.

O antigo moinho de milho se transformou em adega 
e salão de eventos que pode reunir 100 pessoas. 
Ao lado, a velha baia virou um lounge rustico.
 No interior fresquinho, 
o  velho moinho serviu de palco de casamento 
e festa de 15 anos, com as 
grandes tinas de vinho se transformando em mesas.
Barricas menores viram bancadas mas também preservam 
o precioso vinho branco de Beto Menetrier.
 Vinho não à venda. Para sorte dos amigos e clientes do Bistrô Rural.
 Ju e uma referência aos antepassados do marido.
Silêncio e reflexões.
Conversas e risadas.
O nono e a mordomia.
Uma celebração à vida.
Descubra você também
o que te emociona
e o que te faz viver
com alma leve e em paz.