outubro 07, 2010

FERNANDA MONTENEGRO

Queridas Regina e Suzana com seus ingressos garantidos para dia 7 de novembro!


“Na interpretação não me interessa a verdade.

Nem Cristo soube – ou não quis afirmar- o que é verdade.

Acho que é porque não existe.

O que existe, para mim, é a sinceridade.”

Viagem ao Outro


MAIS UM DILEMA

Fiquei por segundos, hipnotizada, em frente a maquina.

Um fio, um sopro, um toque. O que mudaria no espaço ao redor?

Nada. Absolutamente nada. Seria isso pior que tudo? E tudo seria o que?

No entanto, nós ali, indefesa, eu. Provocadora, ela. Uma encarando a outra. Medindo forças?

- É a sua vez – ouvi um murmúrio.

Olhei para trás e não havia ninguém.

Seria a maquina?

Máquinas não falam garantiu minha lucidez e apenas lembrei do Chico Science: Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar. E lamentei sua morte prematura. E lamentei que um dia desapareceram com o meu cd Da Lama ao Caos:

Posso sair daqui para me organizar
Posso sair daqui para desorganizar


É o que espero das pessoas que sentem na alma, refletem na pele ou se confrontam nas suas escolhas sexuais e religiosas, dolorosamente, os inerentes prejuízos de uma sociedade preconceituosa.

- Coragem... ela incentiva - juro, escutei com clareza.

Tudo isso como num flash neuronial - se é que já inventaram isso. Vi e ouvi. Não estou ficando louca. E piorando as coisas:

Da lama ao caos, do caos à lama.

Um homem roubado nunca se engana

Nesse momento, apesar do frescor da manhã de Outubro, comecei a suar. Uma crise de fatalismo àquela hora? Além de nós duas na sala sem janela, mais algumas aguardavam por ali o momento do confronto. Sim, a hora decisiva.

A melodia do Chico nos meus ouvidos ressonando ao som dos tambores: da lama ao caos, do caos à lama, da lama ...

E agora bastava apenas me concentrar e tocar. Expressar meu desejo que também nem era desejo, era dor e humilhação. Nada mudaria, lembram? Ou teria realmente alguma influência no futuro?

Com a barriga vazia não consigo dormir
E com o bucho mais cheio comecei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar

No devir nada é perene. É o que me conforta. Então, se organizem para desorganizar.

Por precaução, mas com todas as dúvidas ainda sangrando, encarei a maquina e seu risinho debochado. Avante mulher sem fé!

E assim liberta do transe paranóico, votei.

Depois, saí arrastando minha consciência pelas calçadas sujas de homens que roubam e traem nossa confiança.

* Agora, por favor, devolvam meu cd.

** Crônica no A Hora e Opinião.

EITA MUNDO BÃO...

Prá que complicar?

TRÊS DIAS...

...dizendo por aí o que penso sobre essas eleições. Quase caí dura quando fui ver meus horóscopos no jornal. Acho que leio só pra me sentir mais confortável, mais segura da minha metralhadora verbal. Seguir a manada? Tô fora. Mas é impressionante como as pessoas querem fazer a cabeça da gente. Como se o mundo fosse mudar de endereço...