Guardachuvadelaura
julho 26, 2025
DO MEU BLOQUINHO
Ele era de Escorpião. Por aquelas coincidências da vida, a Astrologia avisava que a lua crescente entrava em Escorpião, enquanto ele partia. Admirador de Santo Agostinho e de John Lennon, recordava o filme “A primeira noite de um homem”, com Dustin Hoffman. Aquele cara que gostava de rock desde o tempo dos “The Ventures” assim como da bossa-nova desde Johnny Alf, aquele cara que curtia futebol e poesia, talvez nem tão dispare assim, aquele cara que tocava guitarra, encerrava seu Tempo justo na noite em que um holofote lunar iluminava Escorpião. A gente aprende na marra, não existe "depois". É hoje. É agora. Depois te falo. Amanhã vejo. Escuto no fim do dia. Em seguida... Perdeu-se o instante. E nunca mais. Como o passarinho em Guimarães Rosa: quando se debruça já tá pronto para voar. Tem remédio pra tudo: pra criar lágrima artificial. Pra não vomitar tristeza. Trancar soluço. Só pra saudade não tem. Não, não tem.
RESSONÂNCIA
Durante meia hora, uma britadeira, uma metralhadora das antigas, um toc-toc na porta do Paraíso e uma saraivada na porta do Inferno. Um carpinteiro que bate o martelo. Uma chacoalhada leve e por aí vai, parece nunca terminar. Nessa meia hora não abro os olhos, não mexo nenhum dedo. Quanto sinto um frescor no rosto, penso, tá terminando. Mas recomeça tudo e quase suspiro. Vai que detectam minha raiva e ansiedade e querem arrancá-la à força?
INSÔNIA INFELIZ E FELIZ
De repente os olhos bem abertos. E a escuridão toda escura. Deve ser noite alta.
Acendo a luz da cabeceira e para o meu desespero são duas horas da noite.
E a cabeça clara e lúcida.
Ainda arranjarei alguém
igual a quem eu possa telefonar às duas da noite e que não me maldiga. Quem?
Quem sofre de insônia?
E as horas não passam. Saio da cama, tomo café. E ainda por cima com um desses horríveis substitutos do açúcar porque Dr. José Carlos Cabral de Almeida, dietista, acha que preciso perder os quatro quilos que aumentei com a superalimentação depois do incêndio.
E o que se passa na luz acesa da sala? Pensa-se uma escuridão clara.
Não, não se pensa. Sente-se.
Sente-se uma coisa que só tem um nome: solidão.
Ler? Jamais.
Escrever? Jamais.
Passa-se um tempo, olha-se o relógio, quem sabe são cinco
horas.
Nem quatro chegaram. Quem estará acordado agora?
E nem posso pedir que me telefonem no meio da noite pois
posso estar dormindo e não perdoar.
Tomar uma pílula para dormir? Mas e o vício que nos
espreita?
Ninguém me perdoaria o vício.
Então fico sentada na sala, sentindo. Sentindo o quê? O
nada.
E o telefone à mão.
Mas quantas vezes a insônia é um dom.
De repente acordar no meio da noite e ter essa coisa
rara: solidão.
Quase nenhum ruído. Só o das ondas do mar batendo na
praia.
E tomo café com gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me
interrompe o nada.
É um nada a um tempo vazio e rico. E o telefone mudo, sem
aquele toque súbito que sobressalta.
Depois vai amanhecendo.
As nuvens se clareando sob um sol às vezes pálido como
uma lua, às vezes de fogo puro.
Vou ao terraço e sou talvez a primeira do dia a ver a
espuma branca do mar.
O mar é meu, o sol é meu, a terra é minha.
E sinto-me feliz por nada, por tudo.
Até que, como o sol subindo, a casa vai acordando e há o
reencontro com meus filhos sonolentos.
ONCE UPON A TIME IN THE WESTt
Filme de 1968!
A primeira vez que ouvi falar... Na voz de um professor de cinema, na Unisinos.
Devo ter assistido no Cine Alvorada, em Lajeado.
Ou no Baltimore, em Porto Alegre?
Agora, revejo na Netflix.
Como pode que Sérgio Leone e sua equipe filmaram com tamanha e impressionante riqueza de detalhes?
Consta no livro "1001 filmes - para ver antes de morrer" como "obra-prima de Sérgio Leone" que botou "a violência em um contexto verdadeiramente político."
Uma aula de cinema, esnobado pelo Oscar.
Ah, sim, o diretor era um italiano.
Ah, sim, um filme lento para os padrões hollywoodianos.
Mas é inacreditável que até hoje a maioria dos cineastas (e 'seriastas'),
diretores de novelas, não se atentem aos
detalhes que conferem veracidade a história filmada.
É só abrir uma fresta para as películas dos
clássicos. Ouro, ouro!





