novembro 29, 2024

MÁRIO QUINTANA

Foto de Gustavo Mansur

Canção da janela aberta

 

Passa nuvem, passa estrela,

Passa a lua na janela...

 

Sem mais cuidados na terra,

Preguei meus olhos no Céu.

 

E o meu quarto, pela noite

Imensa e triste, navega...

 

Deito-me ao fundo do barco,

Sob os silêncios do Céu.

 

Adeus, Cidade Maldita,

Que lá se vai o teu Poeta.

 

Adeus para sempre, Amigos...

Vou sepultar-me no Céu!

 

SEU MANOEL


 Aos poucos, as pessoas conhecidas e marcantes dessa província vão partindo. Todos nós iremos. Uns antes, outros mais tarde. Manoel da Silva nasceu em Vila Sério, em 1933. Era filho de José Caetano e Generosa Antonia da Silva. Casou em segunda núpcias com Enira, cohecida por todos como dona Moça. Foi pai de quatro filhos.Um pouco de sua história no livro "Um baile misturado: (sobre)vivências LGBT e negras no Vale do Taquari", de Jandiro Adriano Koch. 


Seu Manoel veio para Lajeado aos 19 anos. Começou a trabalhar abrindo valetas para instalar as tubulações da Corsan, no Morro dos Negros, depois bairro Hidráulica, e onde morou quase toda a sua vida.

Quando eu curtia o Bistrô Neruda, na Borges de Medeiros, em Lajeado, seu  Manoel aparecia seguidamente para invocar o passado e relatar causos do seu tempo, dos dois casamentos, do serviço na Ceee, da fundação da Escola de Samba Treze de Maio, dos Acadêmicos da Alegria, dos prefeitos (o melhor, o pior!), das promessas nunca cumpridas....

Um dos nossos ultimos encontros foi num carnaval de rua, no valão.  Tenho certeza, de que seu Manoel fez pela cidade o que muito babaca nunca  há de fazer. Ainda bem que tive a oportunidade de falar isso para ele nesses seus 91 anos de vida.

DO MEU BLOQUINHO

 

Estava lendo sobre a artista plástica, Louise Bourgeois. Ela crê no silêncio, como espaço fundamental para a criação artística.  

Só longe “...das distrações e do barulho externo, o artista encontra sua verdadeira voz, seus sentimentos mais profundos e as inspirações que levam à criação.” Até parece que Louise fala sobre literatura!  

Continua ela: “O silêncio é o território onde o artista explora seu mundo interior, suas memórias e emoções, permitindo que a arte surja como um reflexo autêntico de sua essência. Afinal, é nesse silêncio que a arte ganha profundidade, tornando-se uma janela para o que há de mais íntimo na alma.” 

Vero... Arte não é plasticidade ou movimento, dramaturgia ou escrita: “Arte é sobre vida. E isso resume tudo.” - afirma. 

Pois é... Volta e meia surge um convite para fazer uma oficina de escrita criativa que vai ensinar “como achar a própria voz”. Ahã... Já sei como é a minha própria voz. É antiga. É seca. É castrada. E mais não digo porque sempre terá alguém para pitacar sobre minha autoestima. A propósito, prefiro escrever sem musica, sem celular, sem ninguém por perto. Porque é muito fácil eu perder a minha voz...


TERESA CÁRDENAS

A Ong Cirandar, em Porto Alegre, busca ser referência na promoção de leitura e cultura para todas idades, com destaque para os saberes comunitários.

São três unidades em Porto Alegre. Essa é na Andradas, mas com os dias contados porque o dono pediu o espaço de volta. Isso que entrou 20cm de água na ultima enchente, estragando o pouco do mobliário e livros existentes.
A ong promoveu durante dois dias uma oficina com Teresa Cárdenas, 54 anos,  de uma nova geração de escritoras cubanas, e que já recebeu o Prêmio Casa das Américas e vários outros.



 O escritor Caio Riter foi um mediador atento na oficina.  Para mim, que sou fã da literatura de Teresa,  
- Cartas para minha mãe, Cachorro Velho, Awon Baba, Meu avô Tatanene, Mãe sereia - foi uma honra ouvir e aprender com ela sobre a invocação da memória ancestral  para transformar em literatura.

Fiquei me perguntando o que eu teria para furungar na minha ancestralidade branca?
Lembrei  da Marcia Tiburi dizendo que "as merdas" na família é ouro para o fazer literário. Se assim, eu teria um tesouro para compartilhar em páginas.

Teresa contou que fugiu de Cuba, esse semestre. Com seus três filhos. De avião, com "baldeação" em outros países, pagando coiote até chegar ao Brasil. Moram no Rio: "lindo, mas perigoso. Não saímos à noite."  Contou que muita gente está indo embora do país porque nunca foi tão dificil viver por lá. Os cubanos sofrendo com a fome, mas a casta militar por cima, não diferente do Brasil. Nem as doações chegam até o povo, que precisa pagar para receber o que os outros países enviam. Pensei nos conhecidos das redes sociais que postam fotos sorridentes em eventos realizados por lá. Sorrir não parece uma conveniência com a desgraça do povo? Ou com a ditadura castrista cujos seguidores continuam dando as cartas?  Sim, a literatura não deixa de ser uma denúncia.


HOTEL PRAÇA DA MATRIZ

É a segunda vez que me hospedo no hotel.

É como se eu atravessasse um portal de volta aos anos 40.

Era uma residência. Virou hotel.
Leia aqui sua trajetória em https://pracadamatrizhotel.com.br/historia/
 

Um patrimônio histórico preservado!

 Amo cada detalhe...

O segundo andar leva até um hall onde acontece uma exposição de arte do Coletivo Maresias, com as artistas Carmen Seibert, Karin Lange e Sheila Seibert Borba.

Arte? Olha a maravilha desse piso!


Um preço acessível, bons quartos, 
bom banho, bom café da manhã. 
E no centro histórico!
Ao lado da Biblioteca Pública que viu suas paredes restauradas há pouco tempo!
Tá linda, vale muito a visita. E dependendo o dia, você pode tomar fazer um happy hour na sacada do Teatro São Pedro, quase em frente. Aproveitei para  visitar os sebos e zanzar despreocupada nos arredores. A única coisa que esqueci foi almoçar no "Atelier das massas", na Riachuelo. Fica para a próxima.
É que preferi assistir  o filme "Retratos de um certo oriente", baseado no  romance (1989) do escritor Milton Hatoum, que acaba de ganhar o premio de melhor filme num festival na Espanha.
A gente só vê loas para o filme Ainda estou aqui, mas esse dirigido por Marcelo Gomes, rodado em preto & branco, com atores libaneses, é muito bonito e sensível, justo num momento de guerra entre Israel e Hamas e Líbano... Recomendo!  Vi no Cine Bancários, com todo conforto e silêncio.


MARCELO RUBENS PAIVA


 

FORÇAS DESARMADAS


 "O papel da arte é um pouco esse de recontar histórias que muita gente quer cicatriar, ou cicatrizar de forma errada. a arte acaba ocupando esse vazio da memória. (... )  ... 

A História -  Ela está sempre sendo reescrita, reanalisada, repensada. Ela é viva."

Marcelo Paiva na revista Cult, de outubro.