maio 07, 2009

Allan Stewart Konigsberg...

... ou Woody Allen

"Só aprendi que os seres humanos dividem-se em mente e corpo.

A mente abarca todas as aspirações nobres como poesia e filosofia.
Mas é o corpo que se diverte.”
in A Última Noite, de Boris Grushenko

maio 06, 2009

FRIEDRICH NIETZSCHE


"Não nos deixaríamos queimar por nossas opiniões:
não estamos tão seguros delas.
Mas, talvez, por podermos ter nossas opiniões
e podermos mudá-las."
in Humano, Demasiado Humano

ALMOÇO SOB OS PLÁTANOS

Para aguentar o marasmo da vida só bêbada. E esse céu de outono embriaga ainda mais os sentidos. Bêbada num dia de semana de outono é uma delicia. Olho p os plátanos e comungamos risadas. E o céu confirma: só bêbada. E meu amigo diz q ta com tanta tesão q o saco dói. Blue ball, já ouvi falar? Não. Nem quero saber. Um dia pesquiso no Google. Enche meu cálice, brother. Ele me olha desconfiado e eu me penalizo com a auto-censura. As portas estão com cupins, a cama quebrada, a geladeira estragada, a filha indignada, e eu bêbada escutando um cantor italiano chamado Paulo Conte. Até então o único que eu conhecia era o oftalmo. Esse cu de cidade a gente aguenta: mas bêbada e com trilha sonora. El cielo es azul. Ele me disse q a Dilma confiscou 200 mil na troca do embaixador. Só pra ela. The sky is blue. Depois ele disse que no MR8 não empunhou armas porque a garota só queria saber de transar. Achei muito inteligente da parte dela. Le ciel est bleu. Ele disse que ela gostava de apanhar na cama. Eu disse que pra ele calar a boca. Il cielo è blu. Ele disse que entre um velho de 80 e uma criança de dez a UTI apaga o de 80. Der Himmel ist blau. Ele disse que para suportar a solidão só bebendo. Sei. Na minha rua tem dois bêbados que entortam durante toda a semana. Terrível. Sou a das quartas.

AMIR HADAD

“Um verso bem dito como Shakespeare escrevia,
sempre é sucesso na rua.
Para o pobre, o verso fala à alma.
Para o burguês, não vale nada,
porque não vende.”

maio 05, 2009

ANTONIO JOSÉ FORTE

"Hoje alguém deu à manivela para nascer o sol"

Fantasmas sem memória

Não sei como a Clarice Lispector conseguia escrever em casa, com filhos e a louça na pia, cama por fazer, tulha entupida, casa bagunçada. Li que enquanto a rotina do lar respirava ela seguia escrevendo sobre os joelhos para não perder as idéias, o ritmo e o fio. Tento...
Sem vocação para Clarice me perco entre uma máquina de roupa suja e o varal, entre o fogão sujo de leite derramado e o telefone esquizofrênico, procurando meus óculos que caminham ou um rolo de barbante para amarrar um jasmim na antena parabólica - que é para isso que serve mesmo - e claro, não tenho a talentosa perspicácia clariceana de mundo.
No ano passado participei do Fronteiras e anotei uma frase do escritor Milton Hatoum, aquele que escreveu Dois Irmãos e que eu ainda não li:
“No fundo o que a gente escreve é a história de nossos fantasmas, dos espectros...”
É o que estou fazendo confusamente e sem saber onde chegar. Se é que vou descobrir um cais de regresso. Falo em ficção, mas enrustida por um fio original que trapaceia com o passado. É para alguns identificar suas alegrias, afinal, que graça tem não dividir o passado? Principalmente quando vivíamos tempos tão criativos sem internet e sem tevê à cabo e sem grana. Passando a régua, construímos uma identidade acomodada: do clube para casa, da casa para a pizzaria, da pizzaria para o trabalho e no final do dia uma passada na locadora de vídeo. Ou no super. Quem foi que disse que nossa identidade se define pelas escolhas que fizemos, pelas experiências que vivemos? Mas, assim amarrada ao pé da cama box...