Guardachuvadelaura
abril 10, 2009
NULIFICAÇÃO
Estávamos ali por vontade própria.
Um grupo grande reunido em uma espécie de jardim ou área verde. E todos vestindo uma roupa de Papai Noel. Um por um adentrava em uma sala. A Sala da Tritura.
Por um vidro podia acompanhar parte do processo. Mas só lembro de ver os corpos humanos passarem por uma máquina e sair por outra extremidade feito carne moída, gordurosa e vermelha.
Uma pessoa se aproximou e disse que eu poderia desistir.
Olhei ao redor e vi pessoas de todas as idades, inclusive crianças, ninguém conhecida. O ambiente, antes claro e bem iluminado, aos poucos foi se tornando sufocante, com a chegada de mais gente. Vi novamente os corpos triturados caindo em caixas pequenas. Embalagens. Foi quando desisti. Não me vi moída. Não queria aquele fim suicida. Alguém se aproximou e disse que eu poderia partir.
Comecei a procurar uma saída.
Alguém me ajudou e abriu uma porta e fui empurrada com força para fora. Pessoas estavam por ali, sentadas no chão. Aliviada reconheci uma menina e nos abraçamos e eu chorei.
Ela não era minha amiga, apenas um rosto conhecido. Acho que também era uma desistente.
Acordei.
A trituração foi tão vívida que custei a dormir novamente.
Se estamos na Páscoa, por que a roupa de Papai Noel?
abril 09, 2009
CAÇA PALAVRAS
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abril 08, 2009
EM SEGREDO...
Todos nós guardamos uma história. Secreta.
Acredite: você, eu e um prêmio Nobel de Literatura.
Penso nisso quando termino as últimas páginas do livro Nas peles da cebola, de Günter Grass, pela Editora Record.
Depois de lançado, causou certo mal estar na praia dos intelectuais europeus.
Aqui, não desencantou nem a tal “marolinha” presidencial. Talvez algumas linhas nos suplementos culturais dos jornais, meia página nas revistas e, como do outro lado do Atlântico os americanos preferem navegar por entre os best-seller$, nem se deram ao trabalho de conferir.
Taí um segredo meu: implicância com os americanos.
A pele da cebola foi a metáfora encontrada por Günter Grass para narrar suas memórias: a cada descamada uma revelação, uma lembrança, um mergulho longínquo no abismo que é a vida que se deixou para trás. Importa esfoliar cada derme por mais ardida que seja, por mais lágrimas que provoque. Grass revela sua participação pífia na segunda guerra mundial. Sem culpa, jovem que era. Pífia, mas na Waffen-SS. E isso consternou alguns de seus leitores. Não eu, que só o conhecia pelas lentes de Volker Schlondorff, no filme O Tambor, aliás, um dos meus favoritos.

“...uma ignorância afirmada e reafirmada não foi capaz de ocultar a minha compreensão
de estar inserido em um sistema que planejara, organizara e concretizara a aniquilação de milhões de pessoas. Mesmo que uma culpa ativa não me pudesse ser creditada,até hoje sobrou um resto não desgastado de algo, que é chamado de um modo demasiado corrente de co-responsabilidade. Viver com isso é certo que eu terei, nos anos que ainda me restam.”
Volver aos segredos. O seu.
Não se aflija. Você não é um Nobel. Na verdade, está mais para Big Brother...Com toda sua vida escancarada a cada vez que vai ao supermercado, as compras, ao clube. A cada vez que se reúne com as amigas e sua família. Ou não?
Ou quando você deita a cabeça no travesseiro, as dúvidas sobre seus atos e palavras, pairam como uma sombra plúmbea sobre sua cabeça? O homem e suas culpas insones.
Segredos: o que você roubou no seu emprego, a sua identidade sexual, a puxada de tapete com o colega, o sofrimento por abuso, o anel que comprou para a “outra”...
Segredos, quando divididos se perdem. Cuidado com o amigo, que um dia pode se tornar inimigo, alguém sussurou...
Agora, ele pode tocar sua vida adiante.
Agora, sem culpa. Agora, em paz consigo.
