Guardachuvadelaura
janeiro 13, 2011
FETICHE
Photo by Andrew Saint-George
EL CHE
antes do mito revolucionário
o homem
poderia cruzar minhas pernas entre as pernas dele
poderia me virar de quatro
faxineira, cozinheira, engraxate, escrava sexual
esse homem tem cheiro de homem
tem cheiro de mato
terra
álcool e gasolina
dinamite
esse homem faz parte do que entendo
por homem
meia-revolução
rum e chimarrão
na veia

me faz pensar

me pesca

me fuma

me chupa
e me dou por satisfeita.
QUERIDO KORDA
Alberto Korda capturou a famosa imagem de Che que se tornaria ícone publicitário. E da única vez que fui a Santiago do Chile (2006?? trouxe um pôster de sua autoria. Fiquei encantada com a imagem de solidão, de alienação blasé do cubano, daquela balança humana, algo entre será a revolução um bem? Emoldurei e tenho na parede atrás do meu computador para lembrar sempre se vale à pena espernear contra o sistema nesse cu de cidade onde vivo. Dizem que foi a última fotografia de Korda:
“Um momento do cotidiano cubano, provavelmente durante um discurso, milhares de pessoas se reuniram em uma praça e o fotógrafo encontrou este momento único. Neste trabalho o encontro entre o primeiro e o plano de fundo criam o efeito que impressiona. A massa de pessoas praticamente não apresenta detalhes, se tornando uma grande unidade visual, no meio dessa miríade surge nosso personagem, tranquilamente sentado sobre o poste. Korda consegue casar registro, humor e poesia neste trabalho. O fotógrafo apresenta a realidade e o empenho popular cubano, cria uma cena inusitada e apresenta a parte “lírica” da revolução. Korda realizou um grande trabalho em sua terra natal. Apresentando um grande processo histórico que mudou o caribe no século vinte. Korda soube não só apresentar como imprimir seu estilo nessa cobertura, justificando sua presença entre os grandes fotógrafos do séc. XX.”
janeiro 10, 2011
DO TEMPO DE HOMERO
Gosto muito de mitologia. Tema atraente e tão cheio de mistérios.
Seus tentáculos interligam-se com os da Filosofia, Psicologia, Direito, Antropologia, Poesia e outras ciências que vivem explicando a esquizofrenia do mundo via deuses e mitos irreais.
Também guardo uma teoria supositiva, ou melhor: achista.
Assim como o escritor Luiz Augusto Fischer, acho que o grande dramaturgo Nelson Rodrigues bebeu no maior de todos: Machado de Assis, que por sua vez se embebedou de Shakespeare, que sucumbiu às tragédias gregas e estas que se apoderaram da mitologia por inteiro, naqueles tempos de muita imaginação divina. Muita mesmo.
Houve uma época em que um camponês mal entrava numa floresta e já escutava sons estranhos, de tremer as canelas e logo via um duende ou uma ninfa em cima das pedras cobertas de musgos. E sem tomar nenhum alucinógeno.
Encantamento ou Terror - senão tudo que é tipo de magia. Coisa de mil anos antes de Cristo. E quem duvidaria?
Hoje, com 2011 se espreguiçando, alguém conta por entre suspiros que mais uma vez descobriu as sacanagens do marido na alcova de outra.
Vamos dar um nome ao traíra: Zeus ou Júpiter. A traída chorosa: Hera ou Juno.
Nas Comédias, a deusa representa a mulher ciumenta que volta e meia dá um jeito de frustrar as tentativas do marido aprontador se jogando para cima até das comadres. Tenho certeza de que o leitor, a leitora, conhece alguém bem assinzinho com o descrito, não é? Os mitos explicando a natureza humana.
Quase todos os seres mitológicos são fortes, belos e poderosos. E cruéis, vingativos. E como era preciso explicar a vida para o Homem naqueles primórdios da civilização, se fez uma tentativa via deuses e deusas.
Agora, ficou mais fácil explicar a vida desde 1998. Basta clicar e procurar no Google, o oráculo contemporâneo.
Esses dias me vi um ser mitológico, me vi uma Hidra, a criatura de nove cabeças.
Escrevia fervorosamente, compenetradíssima, quando alguém gritou imperativo: “Recolhe as roupas do varal porque vai cair a maior chuvarada!”
Uma cabeça foi nocauteada e se perdeu no que escrevia.
A outra cabeça espumou de raiva.
Uma terceira lamentou não ter um escritório longe do lar.
A quarta falou “vai lá dona de casa”. E deu uma risadinha.
Então a quinta, a mais poderosa delas, olhou para todas e disse: qual das babacas vai recolher as roupas secas antes do temporal? As oito se entreolharam na maior dúvida.
Acabou caindo uma chuvinha mixuruca dos céus e acabei desistindo de escrever o que vinha me abismando.
Quando comentei essa alegoria com um amigo, ele explicou que a Hidra representa tudo que temos de ruim dentro da gente, principalmente as vaidades e as futilidades. E que se a gente não dominar essas “cabeças”, elas continuam crescendo cada vez mais. Aliás, morre uma, nasce duas no local.
Mitologia: quando mais se aprende sobre, mais se descobre o segredo do sentido das coisas. Da gente e dos outros.
Agora imagina se todas as cabeças da Hidra se rebelam ao mesmo tempo?
* Publicado nos jornais A Hora, Opinião e http://www.regiaodosvales.com.br