DO TEMPO DE HOMERO
Gosto muito de mitologia. Tema atraente e tão cheio de mistérios.
Seus tentáculos interligam-se com os da Filosofia, Psicologia, Direito, Antropologia, Poesia e outras ciências que vivem explicando a esquizofrenia do mundo via deuses e mitos irreais.
Também guardo uma teoria supositiva, ou melhor: achista.
Assim como o escritor Luiz Augusto Fischer, acho que o grande dramaturgo Nelson Rodrigues bebeu no maior de todos: Machado de Assis, que por sua vez se embebedou de Shakespeare, que sucumbiu às tragédias gregas e estas que se apoderaram da mitologia por inteiro, naqueles tempos de muita imaginação divina. Muita mesmo.
Houve uma época em que um camponês mal entrava numa floresta e já escutava sons estranhos, de tremer as canelas e logo via um duende ou uma ninfa em cima das pedras cobertas de musgos. E sem tomar nenhum alucinógeno.
Encantamento ou Terror - senão tudo que é tipo de magia. Coisa de mil anos antes de Cristo. E quem duvidaria?
Hoje, com 2011 se espreguiçando, alguém conta por entre suspiros que mais uma vez descobriu as sacanagens do marido na alcova de outra.
Vamos dar um nome ao traíra: Zeus ou Júpiter. A traída chorosa: Hera ou Juno.
Nas Comédias, a deusa representa a mulher ciumenta que volta e meia dá um jeito de frustrar as tentativas do marido aprontador se jogando para cima até das comadres. Tenho certeza de que o leitor, a leitora, conhece alguém bem assinzinho com o descrito, não é? Os mitos explicando a natureza humana.
Quase todos os seres mitológicos são fortes, belos e poderosos. E cruéis, vingativos. E como era preciso explicar a vida para o Homem naqueles primórdios da civilização, se fez uma tentativa via deuses e deusas.
Agora, ficou mais fácil explicar a vida desde 1998. Basta clicar e procurar no Google, o oráculo contemporâneo.
Esses dias me vi um ser mitológico, me vi uma Hidra, a criatura de nove cabeças.
Escrevia fervorosamente, compenetradíssima, quando alguém gritou imperativo: “Recolhe as roupas do varal porque vai cair a maior chuvarada!”
Uma cabeça foi nocauteada e se perdeu no que escrevia.
A outra cabeça espumou de raiva.
Uma terceira lamentou não ter um escritório longe do lar.
A quarta falou “vai lá dona de casa”. E deu uma risadinha.
Então a quinta, a mais poderosa delas, olhou para todas e disse: qual das babacas vai recolher as roupas secas antes do temporal? As oito se entreolharam na maior dúvida.
Acabou caindo uma chuvinha mixuruca dos céus e acabei desistindo de escrever o que vinha me abismando.
Quando comentei essa alegoria com um amigo, ele explicou que a Hidra representa tudo que temos de ruim dentro da gente, principalmente as vaidades e as futilidades. E que se a gente não dominar essas “cabeças”, elas continuam crescendo cada vez mais. Aliás, morre uma, nasce duas no local.
Mitologia: quando mais se aprende sobre, mais se descobre o segredo do sentido das coisas. Da gente e dos outros.
Agora imagina se todas as cabeças da Hidra se rebelam ao mesmo tempo?
* Publicado nos jornais A Hora, Opinião e http://www.regiaodosvales.com.br
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