Guardachuvadelaura
agosto 07, 2023
CONFIDÊNCIA DA LAJEADENSE
Sabe, aquele poema do Carlos Drummond de Andrade? Confidência do Itabirano? Com alguma relação entre si, reescrevi - desculpe Drummond! - levianamente:
Alguns anos vivi em Lajeado
Principalmente não nasci em Lajeado
Por isso sou triste, decepcionada: da laje.
Noventa por cento de lajes nas calçadas.
Oitenta por cento de laje nas almas.
E esse alheamento do que na vida
é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Lajeado, de suas noites brancas,
sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança lajeadense.
De Lajeado trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta laje, futuro muro no Brasil;
este Santo Inácio do velho Fialho de Vargas
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Não tive ouro, não tive gado, não tive fazendas.
Hoje sou
jornalista aposentada
Lajeado é apenas
uma fotografia no computador.
Mas como dói!
BURACO CAUMO
A escritora Carolina Maria de Jesus, no seu livro Quarto de despejo: “Escrevo para não xingar”.
Nem se compara as minhas dores e raivas com as dela. Nunca! Mas, mas, mas, não é muito diferente comigo. A impotência também serve de motivo.
O prefeito Caumo deveria inaugurar o buraco no valão com o seu próprio nome. Já que essa é uma cidade machista que adora batizar parques e praças com nomes de homens. Impressiona que os vereadores não conseguem lembrar de Lélia Pinto, Zélia Abichequer, Lenira Klein, Carmem Regina, Tetê Tessmann, Beti Heemann... A estreiteza da visão é incrível.
Dia 5 de maio abriu, novamente, uma cratera na Av. Décio Martins Costa, em Lajeado, a smartcity, a cidade inteligente!
Um secretário de obras que atende pelo apelido de Medonho, não pode ser menos medonho do que um prefeito que inaugura praça de esportes para a elite, mas ignora o tamanho da encrenca a céu aberto há três meses. E a imprensa quieta.
No dia 10 de junho, um carro caiu no buraco, durante a madrugada. Zeus protege as crianças e os bebuns... – dizem.
Conversei com um cara da Corsan. “Esse buraco é da competência da Prefeitura” – disse. “Eles vão precisar abrir até a beira do rio e canalizar. Do contrário, vai abrir, novamente.”
Na cara do edifício imponente, aquela cloaca aberta e infestada de mosquitos – conforme morador. E o verão chegando com suas campanhas pífias contra a dengue. Governo hipócrita.
Escrevo para purgar. Senão, me enveneno.
ARTE NA ESCADARIA
MALVINA
Com olhos fixos, o casal avista uma elevação mais alta em frente. Malvina vê a singela torre de madeira da capela, debruada por nuvens cinzentas. Deus sempre dá um jeito de se apresentar.”
Minhas caminhadas acontecem à beira do Rio Taquari, na Bento Rosa, longe da aglomeração humana. Tem passarinho, tem o barulho das águas, tem o silêncio das manhãs depois que os pais levam os filhos para os colégios. E tem uma ciclovia.