Desde 1965, o
governo em Porto Alegre era da Arena. Tempo
da “q.i.”
Caio Fernando Abreu (1948-1996) escreveu em uma crônica
no Estadão:
“Toda vez que vou a Porto Alegre,
confirmo um negócio um tanto óbvio,
mas sempre curioso:
a loucura e a criatividade
– de alguma forma
não muito misteriosa –
estão sempre ligadas a decadência.
Digo isso porque todo mundo sabe,
o RS é atualmente o estado
mais decadente do país.
Decadente economicamente, ecologicamente
(o mais devastado, com desertos enormes no interior
– para ira minha e do Dagomir Marquez),
politicamente, moralmente, etcteramente.
Não falo por maldade, não.
Além de ser verdade, tão gaúcho quanto eu
só a estatua do Laçador ou chimarrão.
O que em absoluto impede
nem sequer nubla
minha virginiana visão crítica, certo?
Por estar tão decadente, Porto Alegre
– ou Portinho ou
Gay Port,
para os mais maldosos –
é tb a cidade mais punk do país.”
*Em 1986, a eleição. As urnas elegem Collares, pdt. Depois, Olívio, Tarso, Pont, Tarso.
Não é por menos que destruíram a casa do Caio, em Porto Alegre,
apesar de, em uma entrevista:
“Eu me sinto totalmente gaúcho.
Em Santa Catarina, me sinto em pleno trópico.
Sempre fui um estrangeiro em São Paulo e no Rio de
Janeiro.
Eu voltei há cerca de um mês da minha cidade natal,
Santiago,
e me senti tão revitalizado ao ver o pampa.
Eu sou platino, sou da região de Quiroga,
do Borges, do Onetti, do Cortázar.
E tudo isso é muito fundo.”