dezembro 23, 2023

MAHMOUD DARWISH

 

Photo by Luiz Bhering

“Vão!

E levem daqui

a morte de vocês!

Vão!”

MAHMOUD DARWISH


 Mahmoud Darwish  (1941-2008) foi um poeta palestino. Para Saramago, “Il più grande poeta del mondo”-  ao mesmo tempo um poeta da sua aldeia.  Ficou conhecido na sequência do seu poema 
Bilhete de Identidade:


"Escreve!
Sou árabe.

Roubaste os pomares dos meus antepassados
e a terra que eu cultivava com os meus filhos;

não me deixaste nada,
exceto estas rochas;
Para a sobrevivência dos meus netos
Mas o vosso governo vai também apoderar-se delas
… ao que dizem!
… Então
Escreve!

bem no alto da primeira página

que não odeio os homens

que eu não ataco ninguém

mas... se tiver fome

comerei a carne

de quem violou os meus direitos

e cuidado... cuida-te

com a minha fome

e minha raiva!"

 

 Primo Levi (1919-1987) é um escritor italiano. Escreveu "Isto é um homem?", a história de um cara em busca de um sentido para viver.  Antes, Levi foi prisioneiro no campo de concentração de Auschwitz. Será que ele apoiaria o extermínio dos palestinos realizado pelos seus "irmãos" hebraicos? É de se suicidar, mesmo.



 

 

 

BRAZIU DOS BRAZILEIROS


 Somos 203 milhões de brasileiros, destes:

31%  seguem os pastores

40% curtem música sertaneja

50% não lêem livros

60% só vêem filme dublado

Um terço da população segue o tiktok

Metade da população assiste BBB

Metade da população ainda apoia Bolsobosta.

Explicado o país?

É PRECISO OUVIR UM NÃO


 Roberto Bolaño, foi entrevistado não sei por quem:

- O senhor poderia  se referir, brevemente, ao seu próximo romance, 2666?

O escritor chileno, respondeu um enxuto:

-Não.

Há um tempo, vivi uma situação invulgar...

Também  expressei um simples e objetivo Não.

Um Não certeiro.

Um Não que surpreendeu quem presenciou o curto diálogo.

Um Não ao qual ouvi um Óhhh.

Um Não que deve ter gerado fofoca.

Um Não para aquele que não conhece as sutilezas da troca literária.

E foi isso. Um Não em dois momentos distintos, no mesmo evento.

A propósito:

O romance 2666 foi publicado postumamente em 2004.

Supõe-se que uma primeira versão tenha sido enviada ao seu editor antes de sua morte. 

Durante seus últimos cinco anos de vida, Bolaño se envolveu com a escrita de 2666. E quando lançado, o livro se viu objeto de acaloradas discussões sobre as intenções finais do autor.

 

 

 

 

LAJEADO CONTRA O VERDE

Essas mangueiras, em torno de dez ou mais, junto ao Supermercado Desco, em Lajeado, ofereciam uma sombra que não se encontra em lugar algum dessa cidade. Foram todas cortadas. Assassinadas. Não é esse o termo que usamos para o abate de um ser vivo? No fundo desse terreno existiam vários Flamboyans, tambem exterminados.

 
Construtor precisa de um investidor. Pense em gente ruim, em gente ganaciosa, que pouco está se lixando para uma comunidade. Pense. Quando vi a parede vazia do supermercado, foi como um soco no peito. Inacreditavel a visão. No mesmo instante desejei a morte de todos os envolvidos. Pensei em esquartejamento, crematório, em morte com dor. Como fizeram com as árvores. Olho por olho, dente por dente, galho por galho. Essa cidade vem destruindo tudo. E os vereadores? Nunca foram capazes de rever uma lei que proíba a destruição de prédios históricos. Sempre a favor dos construtores, que investem na suas campanhas. Se não protegem prédios históricos vão proteger árvores? Vão a pqp, vão arrancar prego com o cu. Gentalha. O único sentido da vida para vocês é a grana. Quero estar viva para rir na beira da cova de vocês: não conseguiram levar o dinheiro junto. Ministerio Público existe pra que, mesmo? Chega de me doer - como disse um dia Caio.


NOITE DE HOMENAGEM


No lançamento da coletânea "Das histórias que sabíamos e um pouco mais", Ed. Libélula, o homenageado, professor Jose Alfredo Schierholt, 89 anos, emocionado contou o início de sua trajetória em Lajeado. Casa cheia, mas sem ninguém da secretaria de cultura... Insólito? 

Nesse vazio cultural que vivemos, de netiflix, tikitoki e uatsapp, publicar um livro é um ato de heroísmo. Ou loucura.




 

SOBRE VOAR


 

dezembro 20, 2023

LUC FERRY


 “A humanidade precisa se reconciliar 
consigo mesma 

e com o seu planeta.”

#HOTEL LOBO

Garopaba é linda de noite. E de dia. 



É linda antigamente e hoje!

O centrinho histórico funciona como um ímã pra gente que curte a praia desde o final dos anos 70. 

 Tem a pracinha, antigamente, local para os artesões exporem suas peças. Na foto, ainda potreiro! E a capela dedicada a São Joaquim, padroeiro de Garopaba. 


Preservada!
 
Aliás, todo o centrinho foi restaurado e ainda criaram  avances charmosos para os turistas desfrutarem da brisa e da preguiça. O Hotel Lobo fica bem próximo da praia, nem uma quadra.


Na ultima vez que visitei Garopaba, agora em dezembro, a gente se hospedou lá. E no último dia, da sacadinha do quarto, avistei o senhor de óculos escuros, na cadeira de rodas. Desci.


- Seu Iris?
- Sim?
Apresentei-me. Antes que ele dissesse "e daí", emendei:
- Já venho no seu hotel desde os anos 70.

Ele sorriu e a prosa correu solta.


O Hotel Lobo deveria constar como patrimônio cultural de Garopaba como é a capela de São Joaquim e de quem meu entrevistado é devoto.

Seu Íris nasceu em Armação, hoje Governador Celso Ramos. O pai era pescador. Por volta dos seus 10 anos, a família se mudou para Garopaba. 

E aqui, conheceu dona Vanda, com quem se casaria aos  26 anos.  Dessa união, os filhos: Ivaldo, Ivânio, Ilton, Íris, Írlon e Maria Aparecida.


- A gente estica a perna conforme o cobertor - quando se refere aos negócios que desenvolveu na vida: bar, armazém, sorveteria, loja de ferragens, padaria, o primeiro posto de gasolina e o primeiro hotel de Garopaba.


- Nos anos 60, quando chegava alguém de fora, parava em frente a nossa casa e pedia pouso. Aí a gente emprestava um quartinho.  Com o tempo, veio a ideia do hotel. Em meados dos 80, pegou fogo. Reconstruímos e hoje o Hotel Lobo conta 60 anos.

Seu Íris foi vereador em 1963, quando Garopaba  foi  emancipada. É desse tempo a lei que salvou a cidade de virar uma Camboriú:


- Aprovamos um plano diretor que impedia construções com mais de 2 pisos e as ruas precisavam medir 10m de largura. Naquele tempo vereador não era emprego... No governo de Orestes de Araújo foi construída a  rua principal, com três carros de boi carregado de barro, porque antes era um caminho só de areia.

Lembrei-lhe q em 77 havia uma plaquinha de madeira, desbeiçada, para indicar a entrada na BR 101. Veículo que passasse mais rápido, nem percebia.

 


Nessa entrada, os moradores com carro de boi torciam por chuva. Era a forma de ganhar uns cruzeiros para desatolar os fucas e variantes que tentavam chegar até a beira da praia de Garopaba – conta um rapaz na recepção do hotel, que voltou a viver em Garopaba e já ouviu essa história do pai que ouviu do seu próprio pai. 


Quando falamos em governo, seu Íris lembrou Getúlio Vargas e o catarino Nereu Ramos que assumiu por brevíssimo tempo a presidência do país.

-Políticos são bons de ilusionismo, né?


Não deu ouvidos à implicância, e lembrou que gostava de dançar e de viajar:
- Fomos até Belém. E também ao Uruguai e Buenos Aires. Sempre de carro.


Seu Íris e dona Vanda já comemoraram Bodas de Ouro:
- Foi uma festa bonita, com mais de 400 pessoas, entre parentes e amigos.
- E como se comemora um casamento tão longo?
- Tem que ter paciência. E um sempre tem que ceder...


Íris Baldança Lobo, 99 anos, sabe da vida. Muito mais do que você e eu, juntos. Viu duas grandes guerras, cinco constituições brasileiras, oito papas, 28 presidentes - democraticamente eleitos, ou não.

Quero lembrar que só existe uma forma de apagar um nome: o esquecimento. Sei bem como é. Talvez um dia seu Íris vire nome de rua ou de praça ou de condomínio, que não param de brotar em Garopaba. 

O progresso derruba o mato, constrói em cima de área pantanosa, polui  as praias... No auge do verão, a população de mais de 23 mil alcança fácil os 140 mil, que se espalham pela praia do Siriú, a  minha preferida. Tem ainda a Ferrugem e a Silveira para surfista nenhum botar defeito.  E a pacata Vigia.

Tem dias de nordestão, tem dias lindos, tem o sorvete de butiá da Gelomel.


Visite antes que seja totalmente destruída pela ganância de construtores e investidores

que vão molhar as mãos dos políticos e liberar para construções de edificios.


PRESERVE!


DO MEU BLOQUINHO


 Na sociedade há uma penumbra tolerante para com as criaturas que realizam suas negociatas e atos corruptos. Sabemos quem são eles e o que fazem, e apesar de, compartilharmos do mesmo uísque, ou, da mesma cachaça, não somos como eles. Ou somos? Não se despreza quem nos paga o álcool. Por aqui, tem quem se ache da, inglesa, Ordem da Jarreteira. Mas é só tirar o capuz e se vê a qual ordem pertence mesmo... Tá mais pra facção. Como dizia o escritor Érico Veríssimo: 

- Ninguém é o que parece, nem Deus.

A espada do discernimento nos espera. 

TEMPO DE FÉ

 

Filippo Turati, uma figura importante do socialismo italiano, escreveu em março de 1891, no jornal Critica Sociale:

"Que alguns pioneiros vão longe, levados pelas asas do desejo, em direção à ilha encantada dos seus sonhos - Robinsons dá a idéia - está bem, nós não vamos querer censurá-los. Nós desejamos a eles ventos propícios e tenacidade na fé. 

Mas o nosso lugar, o lugar da grande maioria dos lutadores  é aqui, na velha civilização, em meio às suas dores, às suas vergonhas, às suas contradições, onde também arde a febre de renovação..."