fevereiro 22, 2024

CECÍLIA MEIRELES

 

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio tão amargo.

Eu não tinha estas mãos tão sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou retida
a minha face?

 

ANOS 30


 

Os pesquisadores em arte e literatura, entenderão... 

Inspirada, colada, plagiada da Klaxon:

 

A

berrante

guardente

rido

troz.

 

B

ucéfalo

ufo

elerofante

eijo.

 

C

erbéro

huva

humbo

aos

u.

SUPERINTERESSANTE


Na sala de espera em uma dessas caixas envidraçadas, com porteiro só no celular, elevador atômico, me dou conta que estou sem bateria no meu xinguling. Abro a bolsa, pego o livro. É10 lições sobre Hanna Arendt. Ganhei da minha amiga de juventude. A mais politizada. Será q ela também se decepcionou? Bom, são as ultimas páginas e logo termino. Suspiro. Olho para as e os pacientes... Cada um na sua bolha. Tédio.

Num canto, opa, o revisteiro!

Lembro q na época da Covid, todos revisteiros sumiram do meu horizonte.

Mas agora, pego um entocado, espremido entre duas poltronas. Pego uma revista. Sem capa. Folheio. Confiro o ano. I-na-cre-di-tavel! 2007!

Fim do primeiro governo Lula.
Ano do XV Jogos Pan-americano.
Brasil é confirmado como sede da Copa.
Papa Bento visita o Braziu.

Volto os olhos para a galera na espera. 

A secretária avisa que a doutora tá presa. No trânsito.
Conto 8 pessoas, sendo 2 crianças. Todas no celular, menos o menino q folheia uma revista e toma um segundo cafezinho. Cara de pau do piá!
Uma Gabriela fala bem alto dos seus problemas com alguém, ao celular.
Gabriela sem noção! Poderia ter anotado os problemas e jogado no feissi. Aquilo me irritou muito. Fuzilo a mulher. Com os olhos.
De repente... Graças a Deus, chegou minha vez.
Guardei a 2007 no revisteiro empoeirado e entrei sorridente na caverna médica.

 

 

 

 


JAGUAR

 

 A cada 4 anos, um dia extra no mundo. Quem nasce dia 29 de fevereiro, só comemora níver... de 4 em 4 anos!  Envelhecem devagarzinho. Descubro que desde 1582 existe o ano bissexto, e esse de 2024 é!

Dizem que a probabilidade de se nascer em 29 de fevereiro é de uma em 1.461bebês.

O Jaguar é o bissexto mais famoso que conheço! Fundador d’O Pasquim, o cartunista nasceu em 1932 e vive até hoje no Rio de Janeiro, aos 91 anos!

ASFALTO...


Só é bom para rodovias. E ninguém me convence que é necessário dentro de uma cidade onde não há  transito pesado. Ninguém me convence que é uma mão de duas vias pra época de eleição. Eu te ajudo, tu me ajuda...

O asfalto envelhece e se desintegra com rapidez. Precisa ser substituído após 10 ou 15 anos, e muito antes, a conta do desgaste: buracos e rachaduras que permitem a entrada de água. Em tempo de dengue, uma beleza!


Pode ser mais barato inicialmente do que outros materiais de revestimento, mas o corte de custos aparece.  Barato, uma ova! Ao longo do tempo, muito mais caro.

A gente anda pela cidade e vê os retalhos, os buracos no asfalto. Sempre q constroem um prédio, o asfalto logo é cortado. E sabe lá quando arrumado.  Talvez, em época de eleição.


Com paralelepípedos, a manutenção pode facilmente levantar pedras individuais para acessar o solo abaixo, que depois são substituídas quando terminam o trabalho.

Todo mundo sabe que o asfalto absorve muito mais o calor. Pode chegar até 14°C mais quente do que outras superfícies! É um horror caminhar em dias quentes por Lajeado. Especialistas dizem que o asfalto aquece até os edifícios próximos as ruas, aumentando a demanda de energia para o ar-condicionado.

O asfalto tem uma drenagem ruim, que repele a água ao invés de permitir que permeie o solo. Isso contribui significativamente para problemas de inundação, pois a água não tem para onde ir além de transbordar pelos meio-fios e se acumular em outros lugares, sobrecarregando bueiros e esgotos.  Lajeado, campeã das enchentes, vê as cimentadas e o asfalto represarem as águas, ágil para reter a enchente, demorando mais para baixar.


Ruas com paralelepípedos - os espaços entre cada peça permitem uma pequena quantidade de fluxo de ar, liberando as águas. E à medida q envelhecem, ficam ainda mais bonitos, dando um toque diferenciado e personalizado à rua, com musgo ou líquen que encontram lugar para se fixar.

O asfalto é feio, muito feio. Sem falar na poeira escura que libera. Olha o que minha cidade conseguiu fazer com essa ruazinha? Pelamorrr.... Em condomínios de classe alta tu não vê asfalto. Em bairros de ricos também não. Ninguém quer a sua rua com cara de rodovia. Só os toscos provincianos. E os prefeitos que lucram muito.

Ruas de paralelepípedos podem durar 150 anos ou mais. Taí a histórica Via Ápia, em Roma, com sua rua de mais de 2.000 anos! Sem falar que é muito mais bonito. Turistas adoram uma rua de paralelepípedos. E o cinema também!

Ó, sempre q você ver uma rua ganhando cobertura asfáltica, pense... Pense q alguém tá levando o seu.

Informações https://devonzuegel.com/


DO MEU BLOQUINHO

Tenho me mordido. A minha língua tá um farrapo. Os dentes rachados. A toda hora chupo um comprimido de magnésia bisurada. A azia tá me matando. Piro na insônia e só penso em partir. Mas daí o q fazer com a culpa? De não estar com a minha mãe num momento q ela mais precisa? Os filhos q se virem, mas e os netos e as netas? Não consigo mais ler os jornais. Não suporto assistir os telejornais. É decepção atrás de decepção desde 2019. Nunca me senti tão covarde. E tão revoltada. Frustrada. Enojada.  Pode ser pior? 

Pode. Cuida com a dengue.



 

fevereiro 19, 2024

NELLY SACHS

Photo Ricardo Stricher

 

"Nós, sombras, oh, nós, sombras!

Sombras de carrascos

Presas ao pó de vossos crimes –

Sombras de vítimas

Desenhando o drama do vosso sangue numa parede.

Oh, nós, desamparadas borboletas do luto

Aprisionadas numa estrela, 

que segue queimando em paz,

Enquanto temos de dançar em infernos."

“SÓ UM POUQUINHO, EU SOU A VÍTIMA”

Nesse ano, a Escola de Samba Vai-Vai trouxe no seu desfile de carnaval, críticas contra a polícia militar paulista. A entidade ficou putadacara e logo assopciou a diretoria da escola com o PCC.  Mas, as alegorias e o enredo dentro da realidade, né?  

Em Porto Alegre, os pedropaulo da Brigada Militar não conseguiram segurar a onda e disfarçar o preconceito:

Everton Henrique Goandete da Silva, um motoboy negro, fazia uma tele- entrega no bairro Rio Branco. Um homem branco avançou contra ele com uma faca e o feriu no pescoço. Everton se defendeu e chamou a BM, que ao chegar avançou contra ele. Não adiantou os populares gritarem que a vítima era justamente ele.  Mas não é asqueroso isso? Ainda bem q tem as redes sociais: logo divulgaram o fato com imagens fieis.

Em Brasília, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, se solidarizaram e  dizem ficar de olho no desdobramento do caso. Em PoA, ontem mesmo, uma galera se reuniu em um ato de solidariedade à Everton, no local da estupida abordagem policial.


Eduardo Leite mandou investigar... “Quem não teme o diabo não precisa mais de Deus.” - diz o abade Jorge de Burgos, personagem no livro “O nome da rosa”, de Umberto Eco.

E a Vai-Vai?  Com razão, o demônio solto nas corporações policiais e militares. O carnaval só referenda no sambódromo.


 

NAS REDES POR AÍ


 

MARQUE X


ITirinha de Fabiane Langona

  Luciano Hang. E tu?

ADÉLIA PRADO

Ilustração de Marilena Nardi
 

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não sou feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

— dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

...

DO MEU BLOQUINHO


 Procuro outras formas de existir. Escrever não basta. Quem sabe falar dos ventos em vez de árvores? Falar dos sonhos em vez de corrupção entre os políticos? Aliás, o ano eleitoral marca a correria deles atrás de mais poder e grana. Há 24 anos os políticos que defendem a ditadura, a tortura, que acreditam em criaturas como Bolsonaro, que fizeram campanha abertamente para sua reeleição, assim como a imprensa dessa cidade, repito, há 24 anos essa gente continua no poder na minha cidade. Conviver não basta.  Morder a língua? É uma máquina tão lubrificada essa que reúne empresários, construtores, a galera da “justiça”, que nada vê, que parece impossível a ARENA não se reeleger.  Repito: é grana, muita grana entre os tentáculos... Escrever não basta?  Uma secretaria estadual do desambiente q aprova a destruição da margem do rio e a hipocrisia das entidades que abraçam o rio... Sim, procuro outras formas de existir. De sobreviver espiritualmente. E não é aqui, mas parece que cadearam uma âncora nas minhas pernas. Escrever não basta. Embora seja a única forma de existir e resistir na qual me vejo.