ADÉLIA PRADO
Ilustração de Marilena Nardi
Com licença poética
Quando nasci um
anjo esbelto,
desses que tocam
trombeta, anunciou:
vai carregar
bandeira.
Cargo muito pesado
pra mulher,
esta espécie ainda
envergonhada.
Aceito os
subterfúgios que me cabem,
sem precisar
mentir.
Não sou feia que
não possa casar,
acho o Rio de
Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não,
creio em parto sem dor.
Mas o que sinto
escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro
linhagens, fundo reinos
— dor não é
amargura.
Minha tristeza não
tem pedigree,
já a minha vontade
de alegria,
sua raiz vai ao
meu mil avô.
Vai ser coxo na
vida é maldição pra homem.
Mulher é
desdobrável. Eu sou.
...
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