Guardachuvadelaura
agosto 08, 2010
MEU SANTO INÁCIO...
fui na missa. por penitência, expurgo e solidariedade. já entraram cantando sobre os q moram embaixo da ponte. duvido q os fiéis saibam, o padre saiba. du-vi-do. missa no salão paroquial pq a igreja ta em reforma. esse salão que outrora abrigou flagelados e apenados, hj os digníssimos membros católicos. era uma missa especial. impressionante como não se acha conforto sequer compreensão para momentos difíceis nessas celebrações. palavras vazias, cantorias ultrapassadas: os bem intencionados estão fora da realidade, mas deve ser por mando do seu bispo. “por nossas fraquezas humanas, Senhor, tende piedade”. não, não tenha, Senhor: aquele ali mandou derrubar um monte de arvores. aquele outro trai a mulher. aquela é fofoqueira. a outra, invejosa. e aquele paga e trata muito mal os funcionários. e por aí vai e eu não louvo o suficiente. mas tenho fé, juro. hj inicia a semana nacional da família, disse o padre. a família mudou, alguém avisa aí e favor não discriminar. de tudo gostei da frase “o tempo presente tem o peso da eternidade.” claro, não tem princípio nem fim. é intemporal. a gente apenas contempla misticamente. lembrei do velho na praça perguntando: viver depressa pra que? ai, jesus, não me ferra. a comunhão fica para uma próxima quando a alma mais branda e dadivosa.
VAZIO
O finito. O imponderável. Assim tenho consciência de que o fio vital é muito curto. E é também um desnorte eterno - alguém sussurrou ao meu lado, enquanto pingos cada vez mais grossos batiam no vidro da janela embaciada; enquanto o vento retorcia sombrinhas na rua e pessoas corriam buscando abrigo.
Mas, dentro daquele quarto do hospital, os primeiros sopros desencantavam para o mundo hostil através de um parto por cesariana. O primeiro ritual da vida, o primeiro compromisso do frágil ser humano que enche os pulmões com o ar contaminado do planeta. Arrancado das dobras seguras e mornas da mãe, a pequena personalidade reclamou aos berros e escancarou os olhos para a vasteza do mundo. Não deixei de admirar: daqui pra frente, uma incógnita. Vai se pintando de acordo com as cores dos pais. Vai se construindo conforme a família ao redor. Vai questionando ou se resignando com a sociedade organizada na sombra dos valores angustiantes e escassos dos dias de hoje. Assim será?