agosto 08, 2010

VAZIO


O finito. O imponderável. Assim tenho consciência de que o fio vital é muito curto. E é também um desnorte eterno - alguém sussurrou ao meu lado, enquanto pingos cada vez mais grossos batiam no vidro da janela embaciada; enquanto o vento retorcia sombrinhas na rua e pessoas corriam buscando abrigo.

Mas, dentro daquele quarto do hospital, os primeiros sopros desencantavam para o mundo hostil através de um parto por cesariana. O primeiro ritual da vida, o primeiro compromisso do frágil ser humano que enche os pulmões com o ar contaminado do planeta. Arrancado das dobras seguras e mornas da mãe, a pequena personalidade reclamou aos berros e escancarou os olhos para a vasteza do mundo. Não deixei de admirar: daqui pra frente, uma incógnita. Vai se pintando de acordo com as cores dos pais. Vai se construindo conforme a família ao redor. Vai questionando ou se resignando com a sociedade organizada na sombra dos valores angustiantes e escassos dos dias de hoje. Assim será?


* excerto da minha crônica nos jornais Opinião, de Encantado e A Hora, de Lajeado.

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