julho 08, 2010

TUNDAS DA VIDA

Na infância dos anos 60, criança que não se comportava, apanhava.
De cinta, de chinelo, de varinha de pitangueira, de correia de máquina de costura, de relho feito de cavalo. Até de vassoura. Até de pano de prato. Molhado.


Repetia-se a educação - no lombo - do aprendizado dos anos 40, 50. Um continuísmo.

Psicólogo e psiquiatra era coisa de louco e se o louco pulasse o muro gritando “fim do mundo, fim do mundo” amarravam pra choque.

Tá certo: criança não levava choque. Mas, surras.
E pimenta na língua para não dizer nome feio.
E castigo no quarto escuro e chaveado para aprender a respeitar os mais velhos.
Falar na mesa também não era aconselhável: criança não fala enquanto come. E come de boca fechada! – cutucavam.
Tanta repressão até que um dia a revolta se insurgia:
“Eu não pedi pra nascer!”
E toma pau. Porque isso era uma ofensa aos ouvidos de Cristo.
Uma afronta aos pais que sequer cogitaram o aborto.

Um dia, brigando com meu irmão, embaixo do parreiral na casa de minha avó, em Vera Cruz, escapou um “disgranido!”. Pra que! Ela subiu nas tamancas e me arrastou pela orelha de castigo para o quarto. E meu irmão se esgueirou para a funilaria do Nico, rindo um bem-feito! Desde aí cuido muito bem do uso dessa palavra.
Quando, onde e com quem posso afrontar.


Mas olha só – até avós podiam educar a gente pela força. Se bem que ficava nas orelhas ou uma sacudida nos ombros ou um peteleco na cabeça. Isso passava logo, pior eram aquelas conversas moralizadoras, de queimar no inferno, de que a sociedade não aceitaria como moça direita por causa de uma simples vai à merda.
E ainda tinha o pior dos corretivos: sentar num canto do quarto ou na sala de aula, de frente para a parede: “fica aí e pensa!” Pensar era um tormento. Até acho que esse sistema disciplinar poderia... desculpe. É que ninguém mais pensa.


E quando pensa só vê o próprio umbigo. Só vê a fama fácil. A coluna social. O blog dos famosos. Se eu fosse ainda criança diria: “só quer aparecer!” e mostraria língua.
Logo viria o troco: a ofendida me daria uma cuspida.
Eu pularia em cima e puxaria os cabelos.
Nós cairíamos no quintal, os vestidos ficariam sujos de terra, as tranças desgrenhadas e os joelhos esfolados. Por fim, o pranto, o berreiro que atrairia as comadres para a cerca.
Tudo terminado?
Banho e castigo pra aprender a não brigar feito moleque de rua.

Olho para Anna, sentadinha num caixote na sala, com a tevê ligada, com a mana brincando no notebook enquanto tomamos um chimarrão. Mal sabe caminhar e já belisca a irmã, provocando. Correção? Vai para o castigo. Como só tem um ano, deve permanecer quieta, pedagogicamente, por um minuto. Enquanto segue a regra, confere a bagunça do seu mundo ao redor.
Fez algo errado. Beliscar é errado. Toma: castigo.

Pais que não brincam com os filhos não estão errados? Fumar perto dos filhos não é errado? Dizer caraiu - na frente dos filhos - a cada vez que o Brasil perdia uma chance de gol no jogo contra a Holanda não é errado? Pais que não abandonam o computador, o celular, o ipod... Continuam os filhos sem atenção.
Tem que mais é beliscar. Devem.
O que significa um minuto de castigo para uma menininha de um ano e quatro meses?

Durante o mesmo tempo, pensei nos 15 minutos de intervalo da Seleção brasileira, vencendo por 1 X 0 a Holanda. Nossos jogadores voltaram diferentes para o jogo. Foi castigo? Não acertaram o valor do bicho caso a semifinal?..
Vai ver que faltou laço quando eram pequenos. Um beliscão.
Perdemos a Copa.
É o fim do mundo, é o fim do mundo...
Benzazeus, hoje ninguém mais segura os loucos:
Holanda X Espanha, já pensou?



* cronica no A Hora, Opinião

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