maio 02, 2024

NELSON RODRIGUES


 

“Uma pessoa que só tenha do mundo

uma visão unilateral e rósea,

e que ignore a face obscura da vida,

é uma pessoa mutilada.”

ENCHENTE 1

Esse foi o maior engodo que vimos. 

O dono sabia que era uma  APP - área de preservação permanente.

O prefeito também sabia. A câmara de vereadores sabia. A promotoria pública sabia. A secretaria de meio ambiente municipal e estadual, sabiam. A universidade sabia. A  ACIL sabia.

Faltou avisar quem?



 Caumo-Schumacher cortaram um pedaço de mato para abrir a estrada e asfaltar,  em apoio ao comércio de Santa Catarina. 

Esse é o governo que os lajeadenses querem que continue nos próximos 4 anos?

Socorro.

DO MEU BLOQUINHO

“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama de violento as margens que o comprime.”

Pensei: as margens não comprimem.  Ao contrário, quando verdes, salvam e o realimentam.

Quem comprime, ou oprime, são os governos hipócritas e gananciosos, e a humanidade ambiciosa e burra. Se o futuro depende do desenvolvimento moral dessa gentalha política e civil, estamos ferrados.

Desenvolvimento urbano que se preocupa com qualidade de vida, passa longe.

Cansei de gritar, de denunciar o abate das árvores e bosques - redes de vida -  ao alcance dos meus olhos. Imagina, quando a destruição é longe? Nunca recebi apoio. Botava a cara pra bater, mas os outros com os receios de se “queimarem”, se calavam.

Agora os “misericórdia, orações, meu deus”. Para a destruição das cidades, de florestas, nunca se posicionaram. Aqui, o governo de Lajeado fez a maior merda na margem do rio Taquari, com apoio da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a lajeadense Marjorie Kauffmann e da mídia local.

Nenhum vereador se posicionou contra, ninguém da sociedade. Na vitrine, o “abraço ao rio Taquari”. Vão todos tnc*. É uma grande merda pensar no que vocês poderiam ter feito ANTES.



Foto de  Carol Leipnitz

Sabemos que a desgraça climática que se abateu no Vale  do Taquari, e em outras cidades do estado,  não é culpa de árvores abatidas nas calçadas e quintais, mas de milhares delas, de muitas construções com esgotos furados, com asfalto e cimento por tudo.  Das plantações q dizimam as margens de arroios e rios, das supersafras do agro, derrubada de florestas para pasto, dos incêndios na floresta amazônica, no cerrado, no pampa, na mata atlântica, todos despreocupados com o mundo que deixaremos aos nossos netos e netas.

A mesma mídia q mostra a destruição do planeta é aquela que apoia os detratores, recebendo gordas verbas publicitárias.

Deus? Mandou a conta.

Deus tá enojado com a nossa alienação ambiental.

Enojado com o fracasso e desprezo aos ecossistemas por parte dos governos corruptos que elegemos. Sim, estamos bem representados nas câmaras políticas do país, otários que somos.

Deus tá enojado com essa humanidade ambiciosa.

Deus manda dizer que não tem mais volta.

Phodam-se, encerrou Ele - e levem as estátuas e os templos junto com vocês.

ENCHENTE 2


 

ENCHENTE 3

CEAT


CASTELO BRANCO
(foto de 2023, mas deve estar pior ainda)

 

Os três maiores colégios de Lajeado  com as salas, os ginásios, teatro... submerso. 
Uma tristeza infinita. Onde os professores vão buscar forças?

ENCHENTE 4



 

ARMANDINHO


 

ENCHENTE 5






 

BOCA MIGOTTO




 

FOTO A HORA

Águas invadem a ponte que divide Lajeado-Estrela, na BR 386
 

ENCHENTE 6


 

abril 28, 2024

HARUKI MURAKAMI


 

 

“Todos vivemos em uma espécie de jaula.

Pode ser de ouro e bonita,

mas é a jaula que cabe a cada um.”

DIVORCIO NO SECULO XVIII

"O divórcio", no Museu Carnavalet, Paris.
 

Uma coisa puxa a outra... E nas minhas leituras nos livros, sem google, descubro que a constituição francesa de 1791 permitia o divórcio. Fiquei pasma!  No Brasil só em 1977.

 A lei francesa era liberal e previa 7 motivos para os casais se divorciarem:

- a insanidade de um deles,

- a condenação de penas aflitivas ou infamantes,

- injurias graves (?) ou sevícias,

- desregramento de costumes,

- o abandono por 2 anos, no mínimo,

- a ausência sem noticias por 5 anos,

- a imigração.

Nestes casos, o divórcio era concedido tanto por solicitação deles como das mulheres, aliás, ainda podiam alegar incompatibilidade de gênio.

Li sobre outras situações, mas o q chamou mesmo minha atenção foi o retrocesso francês:

as leis mudaram e o divórcio foi abolido em 1816. E só voltaria em 1975!

Como a sociedade pode desandar tanto?

Pode... A gente vê na política - taí o fascismo mostrando a cara novamente, e sempre com o apoio da imprensa. Na volta ao terror de uma terceira guerra mundial. Na infame decadência cultural.  A única coisa que nunca retrocedeu e continua a mil é a corrupção. Em todas as instâncias.



 

KAFKA


 

MOA


 

DO MEU BLOQUINHO

Haruki  Murakami tem 75 anos e mais de 30 livros publicados.  É o escritor japonês mais famoso do seu país. Já traduzido para 50 idiomas. Não gosta de entrevistas e eu nunca li nada de sua autoria, mas em uma reportagem no El País, selecionei:

“O trabalho de um romancista é sonhar acordado. É maravilhoso; desfruto disso há 40 anos e acho que vou poder fazer isso por mais uma década. Quando não escrevo relatos, escrevo ensaios ou faço traduções. De alguma forma, escrevo todos os dias. Se não escrevo, não é um bom dia.”

 *

Diferente de sua prática, desde a publicação de Malvina, não tenho mais escrito. Ando decepcionada com a escrita. Com eu. As ideias foram sufocadas.  E junto, a inspiração. Gostaria de escrever todos os dias, mas  nada me atrai, nem lembro.  Os dias passam, acompanho a bolha, confiro as vaidades  nas redes, publico  minhas bobagens, algumas crenças, dou umas risadas e ... Passou o dia. E daí o terror noturno da não-produção.  A autocrítica. As frustrações. O trabalho de um romancista é sonhar acordado. Taloko. É só o que faço nessa maldita insônia.


abril 05, 2024

CLAUDE MONET

“Todos discutem minha arte

e fingem compreender,

como se fosse necessário

compreendê-la,

quando é simplesmente

necessário amar.”

   1875, “Mulher com sombrinha”

SAPATOS NO DANÚBIO

 

Dmitri Baltermants, fotografo russo

De tudo q já pesquisei sobre museus, homenagens, memoriais aos judeus mortos na época da Segunda Guerra Mundial, um dos mais tocantes, na minha opinião, é o Shoes on the Danube, às margens do rio, no lado Peste da cidade de Budapeste.

Nunca viajei, mas se você já viu, ou passar por lá, me conte!


FRANELA & CORBATA

Arquivo Arturo Pérez

Em 1948, a Colômbia viveu a La Violência, uma luta fratricida entre liberais e conservadores.

Iniciou-se com o assassinato de Eliézer Gaitán, ex-prefeito de Bogotá e Ministro da Educação, q nunca escondeu ser contra o monopólio da terra - o que lhe garantiu um amplo apoio do campesinato.  

 Bonde incendiado diante do Capitólio Nacional, durante o Bogotazo, 1948.

Com sua morte, uma impressionante reação popular e a maior vista na história da Colômbia. O povo destruiu o centro de Bogotá. É daí que surgiu o conhecido grito: "O povo unido jamais será vencido."

Posteriormente, a violência partidária se espalharia para outras regiões durante o período conhecido como La Violencia, uma guerrilha pelas áreas rurais do país. 


 

Nesse conflito, duas especialidades surgiram entre os matadores, de ambos os lados:

La Franela, que consiste em arrancar a carne em volta do pescoço da vítima de uma forma que lembra uma echarpe.  E La Corbata, um buraco na altura do pomo de Adão, através do qual se puxa a língua da vítima, dando a impressão dela estar de gravata.


 

DO MEU BLOQUINHO

“... e  com  os  meus  olhos  eu  pedi   a ele  pra  me  pedir   de  novo,  sim,  e  então  ele  me  pediu  se  eu  deixava,  sim,  se  eu  dizia  sim  minha  flor  da  montanha  e  eu  primeiro  botei   meus  braços  no  pescoço  dele,  sim,  e   puxei-o  pra  mim  para  ele  sentir   meus   seios  todos  perfumados,  sim,  e  o  coração  dele  batia  como  louco,  e  sim,  eu  disse sim, eu deixo, sim. (Molly  Bloom  em Ulisses, de James Joyce). Li e tive uma epifania, aliás,  uma palavra usada particularmente por Joyce, q significa uma súbita consciência da "alma" de algo. Desculpe,  a autocensura é uma merda. Trocando de assunto, a pergunta q não quer calar: onde vive o bicho-da-goiaba quando não é tempo de goiaba?

 

UM LONGO 1º DE ABRIL


  Em 1964, eu tinha 6 anos e brincava no pátio do Grupo Escolar Fernandes Vieira.

- Olha a aranha no teu pé!

- 1º de abriiiiiiu!

Mas não era. Naquela quinta-feira o país foi implodido por um golpe militar, com João Goulart, presidente eleito pelo voto direto, deposto. E os milicos encarrilharam seus autoritários e corruptos governos por longos 21 anos. O general Castello Branco foi um dos articuladores do golpe.

Os medíocres de farda acreditavam que havia uma conspiração “comunista em marcha”.

Começavam as perseguições aos civis e aos direitos constitucionais, um  regime de censura na imprensa e artes.

Entre assassinatos e desaparecimentos, leio no wikipedia, 434 pessoas. Dezenas de operários, estudantes e professores, bancários, jornalistas, agricultores, sindicalistas. Até alfaiate, sapateiro, costureira, uma dona de casa, um taxista, um pianista e um médico, entre tantos e diferentes profissões.

Em agosto de 1979 foi sancionada a lei 6683, que concedia Anistia aos cassados pelo regime militar. Mas também aos torturadores.

Só em 1988, com a nova constituição, o povo respirou aliviado.

Abril é um mês insólito. Comemoramos o dia do descobrimento do Brasil  ou o início do genocídio indígena?  Tem o dia mundial da saúde e feriado pelo assassinato de Tiradentes. Tem o dia do jornalista e o dia da mentira...

Infelizmente, partiu de um escritor, a expressão “ditadura branda”. 

Há 10 anos, Domingos Pellegrini usou o termo durante um debate na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília.

Na época, o escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão, o primeiro a se indignar: 

"Ditadura, seja onde for, é odiosa. Vidas foram sacrificadas, pessoas foram mortas, uma geração foi sacrificada. Não dá para dizer que é branda. Não dá para dizer que agradeço à ditadura, não agradeço nunca".

 


Durante os anos de chumbo, Lajeado não só aprovou como apoiou o momento histórico, ao ponto de homenagear um traíra ao dar nome um colégio estadual.  

Anos depois, a cidade aplaudiria Bolsonaro por seu voto contra a continuidade do governo Dilma, também eleita democraticamente:

“Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim." 

 Lajeado legitimou um farsante, um mentiroso, um fascista, um golpista. 

E não se envergonha. 

 


LUIZ CARLOS FERNANDES


 

ELIAS WIESEL


  

 "Elie" Wiesel foi um escritor judeu, sobrevivente dos campos de concentração nazistas, que recebeu o Nobel da Paz de 1986, pelo conjunto de 57 livros, dedicada a resgatar a memória do holocausto e a defender outros grupos vítimas das perseguições.

Diz ele, você sabe qual é a diferença entre o escritor e o jornalista?

O jornalista se define por aquilo que diz, e o escritor, por aquilo que cala."

O que diria hoje, no extermínio dos palestinos?

DÁLCIO




 

março 25, 2024

ALBERT EINSTEIN

Luiz Bhering

 “Duas coisas são infinitas:

o universo e a estupidez humana.

Eu não tenho certeza sobre o universo...”

DO MEU BLOQUINHO

 “Nunca fui senão uma coisa híbrida. Metade céu, metade terra” escreveu  o poeta e romancista alagoano, Jorge de Lima.  Hummm... Minha paródia narcisa: metade fúria, metade paixão. Metade riso, metade explosão. Tédio, metade invenção. Metade pensamento, a outra também. Metade culpa, metade perdão. Aqui pensando, quando olho pra trás, sinto uma  sensação muito nítida de ainda viver no passado. Não só pelas guerras - por terra e por desertos - mas ainda por religiões. E pior, com a queima de livros, de cancelamento de autores. Crédo... mas acho que nunca saímos do passado. A roda empacou.

 

NÉ?




 
O mesmo prédio, em Encruzilhada do Sul.
Lajeado é uma cidade perversa.

MULHERES QUE INSPIRAM


A medida que “Malvina” foi se desenvolvendo, muitas informações surgiam sobre outras  mulheres inspiradoras. E com isso eu aprimorava a Linha do Tempo Feminina, nas últimas páginas do livro.

Consta lá, que Maria José Pereira Barbosa Lima e Rosa Helena Schorling foram as primeiras mulheres a obterem carteira de motorista no Brasil, em 1932. Eram de Vitória, no Espírito Santo.  Aliás, Shorling foi também a primeira paraquedista e a primeira que tirou habilitação para moto, um ano depois.


Se não estou enganada, na minha cidade, a primeira a tirar carteira de motorista foi Gelsy Spohr Müller, cujo pai doou sua chácara, uma bela área de terra com plátanos e muito verde, à prefeitura. 

Hoje, o Jardim Botânico de Lajeado.

À propósito...

Sugestão de presente de Páscoa! 

Você encontra nas livrarias Cometa, Vitrola e Brincasa. Em Estrela, no Paladino. Em Porto Alegre, na livraria Paralelo 30.


 

 

JUREMIR MACHADO DA SILVA

Demorou seis anos, mas, enfim, a polícia chegou aos supostos mandantes do assassinato de Marielle Franco. 

"Por que levou tanto tempo e quem são os cabeças desse crime, que ceifou também a vida de Anderson Gomes, motorista da vereadora carioca do PSOL? 

Como o Rio de Janeiro não é deste mundo, o crime teria sido encomendado por Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, tendo Rivaldo Barbosa como apoio para melar as investigações. 

Eles são respectivamente conselheiro do Tribunal de Contas, deputado federal fluminense e ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro. 

Seria uma gangue instalada no coração do poder, com todas as facilidades para agir. 

Feito o serviço, teriam tratado de frear as investigações no âmbito local. Imaginavam ter cometido o crime perfeito: entre os implicados, o investigador."


-O Rio de Janeiro ha muito deixou de ser a cidade, maravilhosa... Vontade zero de turistar por lá.
 

EDGAR & RANGO


 "Um dos mais célebres anti-heróis das tiras brasileiras, Rango - criado por Edgar Vasques - nasceu em plena ditadura militar e é um dos mais longevos personagens do humor gráfico brasileiro. 

Rango surgiu com a cara do Brasil à época: miserável, esfomeado, marginalizado, pobre, desempregado e vivendo dentro de uma lata de lixo. 

Como surgiu o Rango?

No caminho para a Faculdade de Arquitetura da UFRGS eu via a miséria na rua, no começo dos anos 1970, mas ninguém falava nisso. Era o Brasil grande, corrente pra frente, a ditadura eufórica, Brasil tricampeão do mundo, e a miséria ali, crescendo. Eu achei um absurdo aquilo, porque não batia a realidade com a narrativa. 

https://www.brasildefato.com.br/


"Este ano comemoro os 50 anos do primeiro álbum do Rango (1974), e da fundação da editora L&PM.”



Para marcar a data, confira uma expô de tirinhas originais do "Rango" na Livraria Clareira, à rua Henrique Dias, 111, em Porto Alegre.



março 04, 2024

LAURA PEIXOTO


 Tudo é ganância:
nos governos
na sociedade
na família.

“SUA VISITA CHEGOU!”



Na infância, nossas férias de verão eram em Cruz Alta, na casa dos meus avós paternos.

Lembro do quintal como se fosse hoje... Verde, misterioso, às vezes a bruma fina da madrugada pairava sobre as árvores e os recantos quando eu madrugava para investigar o pátio. 

Lembro da gemada bem branquinha no café da manhã e dos sorvetes caseiros, antes de dormir. Das tardes no Clube Arranca e dos carnavais d’água, em fevereiro. Das brincadeiras com primas e primos. Dos livros, muitos livros, e os brinquedos que haviam pertencido aos nossos pais.

 

Quando algum adulto aparecia para ver minha vó, Maria a encaminhava ao jardim de inverno, ou se muito importante, à impecável e sempre proibitiva saleta com sua porta dupla de vitrô.

A gente escutava lá do quintal: “Dona Normélia, sua visita chegou!”

A visitante podia ser dona Iracema, dona Mafalda ou o tio Luderites.

Relembro, porque criei a oficina literária “Sua visita chegou!”.

A ideia surgiu de uma amiga, com os pais idosos. 

Ela contou que ficava tranquila quando o educador físico vai a casa deles para exercitá-los: “Durante uma hora sei que estão bem acompanhados e relaxo.”

Exercícios físicos eu não posso ensinar.

Mas, fortalecer os neurônios com exercícios literários, posso! 

Entra em cena a criatividade, as lembranças, o desenvolvimento da psicomotricidade fina, das habilidades cognitivas, da concentração e percepções que tanto ativam os neurônios.

“Sua visita chegou!” vai até você. Ou a sua mãe, o seu pai. 

Durante uma hora e meia estaremos lendo, pensando e escrevendo, em uma verdadeira terapia literária! Porque escrever é afastar a solidão. É revirar os afetos e as dores. É fantasiar a partir do nosso íntimo.

Havendo interesse, entre em contato, agende a visita!