março 26, 2014

HERÁCLITO

“Os olhos 
são melhores testemunhas 
que os ouvidos.”

ENCONTRO SURREAL


1 - Herbert trabalhava na mansão do senhor Sherwood e vivia uma paranoia orgânica. Uma asfixia. Uma velha mania de perseguição sempre que ouvia o badalar da sineta convocando os serviçais.
Uma noite, Rose encontrou Herbert de bruços sobre a mesa da cozinha. Herbert havia rasgado o próprio peito com um facão roubado da sua despensa de aves. No chão um bilhete - eu te amo Frau Scherwood.

2 - O dia seguinte... Nunca saberemos.

Alguns, simplesmente, não terão o dia seguinte.

ENCONTROS IRREAIS

O que diria o pensador Martin Buber sobre o feissibuqui - o espaço do desencontro?
Buber apostava no tu e eu e a capacidade do relacionamento olho no olho, uma afinidade baseada no diálogo.
No feissi  não tem disso. Tem olho no meu olho quando vemos a nós mesmos no reflexo da tela ou nas coisas que postamos. O dialogo acontece atraves do curti. Ou ignoramos. Travamos um monologo ansioso por curtidas. Somos espectadores de nós mesmos. E Martin Buber? Ele pensa sobre a humildade. Convenhamos que não existe um único ser humilde no feissi. Porque os virtuosos não estão no feissi. Não perdem tempo com o transitório. Aí a gente aprende que a criatura humana não foi feita para se isolar, blablabla.  É feita para se relacionar. E Buber diz com todas as letras que “relação é reciprocidade.”
 Só que o conceito de isolamento mudou com Mark Zuckerberg, de etnia judaica como Buber. Seria interessante um face to face com ambos, nem que fosse virtual. Um do Além, outro em frente ao monitor. Pena, quando Mark nasceu, uma maioridade os separava. Hoje, talvez Martin Buber se rendesse ao feissibuqui como objeto de estudo. Aquariano como tal, chegados em modernidades e incômodo saudosismo.  

ENCONTROS REAIS


Sibila Scherer entrou na nossa vida quando os gêmeos nasceram. Em janeiro de 1968 foi embora para o estado da Guanabara com o filho Paulo e perdemos o contato.
Mas essa história começa bem antes quando sua mãe enviuvou e precisou dividir os sete filhos entre os familiares.
Tempos difíceis em São Bento, ainda colônia de Lajeado. Cada um seguiu o próprio destino e Sibila, nenê de colo, nunca soube do paradeiro.
Com a perseverança do filho - e dos labirintos do facebook - foi possível descobrir suas raízes e marcar um reencontro com os familiares de Paulo (pelo lado do pai) e também com minha mãe e irmão, mas, principalmente, com a única irmã viva de Sibila, que ainda mora em uma São Bento agora virada em condomínio. Foram 47 anos sem notícias. 
Na última segunda-feira, um privilégio acompanhar esse momento silencioso entre Sibila, 72 anos e Zilda, 80, quando não há palavras para encurtar tão longa ausência.
Hoje, Sibila mora na antiga, turística e verde Engenheiro Paulo de Frontin, no Rio.
Tão pertinho que, com tempo bom, é possível se ver o Cristo Redentor.
To pra dizer que o Cristo também curtiu esse resgate do tempo...

março 25, 2014

EMIL CIORAN

photo by Matt Weber

"Só tem convicções 
aquele que não aprofundou nada."

DO MEU BLOQUINHO

.fui assistir incêndios, no teatro são pedro. com marieta severo no papel de nawal. sua filha está bem, mas o garoto-zona-sul, terrível. o estuprador, segura bem o seu doido. algumas soluções, ótimas. mas o texto  se arrasta. e quem é louco de criticar marieta?  uma mulher ressonava atras da minha cadeira. ao lado um sujeito não parava de arrotar. juro. talvez por culpa do filme que ganhou oscar e é bárbaro. talvez porque marieta buscava um distanciamento da sua personagem d. nenê. talvez porque  não sei... vi e não gostei. o elenco foi aplaudidíssimo. de pé. quando saí vi nico nicolaiewsky embaixo da escada. achei um desrespeito do teatro... a morte é uma banalidade mesmo.  para que tanta homenagem póstuma se é para acabar em baixo da escada? um tango e uma tragedia...

UM... DOIS...

1 - Agnélio trabalhava no sobrado do senhor Hockmüller, no bairro Praia.
Vivia uma paranoia orgânica. Uma asfixia. Uma velha mania de perseguição sempre que ouvia o badalar da sineta convocando os serviçais.
Uma noite, a cozinheira Cilinha encontrou Agnélio de bruços sobre a mesa da cozinha. Agnélio havia rasgado o próprio peito com um facão roubado da sua despensa de aves. No chão um bilhete eu te amo, senhora Hockmüller.

2 - O dia seguinte... Nunca saberemos.

E alguns, simplesmente, não terão o dia seguinte.

março 20, 2014

EDMIR SILVEIRA

“Nada, nunca, vai substituir um amigo.

Nossa alma precisa do toque humano,
do calor, da compaixão.

Ter muitos amigos no facebook quer dizer,
apenas, saber se comunicar bem.

Ter amigos verdadeiros na vida real,
mesmo que poucos,
é a maior e verdadeira conquista de uma vida.”

LAJEADO DESMATA E DESTROI


.o tempo é taxativo: sou uma senhora. quando meus pais se mudaram para lajeado foram morar no edifício lincoln. sequer porta existia. doutor feier foi o primeiro morador. nós, os segundos. assim conta a lenda familiar. minha mãe abriu um salão de beleza na esquina do hoje hotel dahlen. meu pai veio para trabalhar no moinho pretto. só depois nos mudamos para essa casinha na saldanha marinho. o único aniversário de criança que recordo foi nesta casa. quatro anos. tinha torta de bolacha e q-suco. na casa em frente moravam os koefender. ao lado dona zulmira. do outro, minhas amigas anas de amizade pra vida toda. um dia tina e eu vimos uma jararaca e abrimos o berreiro. um dia a úcia me ensinou a andar de bicicleta nessa calçada. um dia a lizete caiu e a cabeça se encheu de formiga. um dia meu irmão embarrou os sapatos novos e deu para alguém que passava na rua. minha mãe ficou arrasada. naqueles anos tudo era muito difícil. hoje tudo é fácil. mais fácil ainda destruir lembranças.
* Conforme o jornalista Rodrigo Martini  a casa foi destruída para erguer a sede da Empresa Stacione Rotativo - um consórcio entre uma empresa de São Paulo e outra de Encantado - que assumirá a cobrança de estacionamento rotativo em Lajeado a partir de abril.

ESPIANDO O LADO VIRTUAL

photo by Rodney Smith

O Feissibuqui é uma vitrine dinâmica. Há os que defendem o PT, outros que o exorcizam. 
Há os que defendem qualquer coisa à direita e os que a lincham por seu envolvimento com a ditadura. 
E há também os “Volta, ditadura”. 
Há os q defendem a liberação da maconha e os que fumam em silêncio. 
Os contra a Copa e os favor da corrupção no futebol, na CBF, na FIFA. 
Os adeptos das correntes religiosas e os Sympathy for the Devil. 
Os que demonstram suas pequenas alegrias e os que escondem suas grandes tristezas. 
Há os que desejam ser lidos, vistos e amados. 
E os que querem ser lidos e vistos. 
Tem os amantes da boa musica. E os que não sabem o que é boa música. Convivem lado a lado rascistas, homofóbicos, depredadores ambientais e os politiparcialmente corretos. E os chatos de plantão de todos os prós e contras. Tem os que rejeitam amizade, os que bloqueiam. 
E os que são simpaticos a novas amizades mesmo que virtuais e em outros trópicos. 
Nessa grande vitrine tem espaço e reflexo para todos nós que somos fúteis e vaidosos e exibicionistas, críticos e marqueteiros, solitários e solidários, infantis e debochados, arteiros e artistas, amantes de bichos e crentes que vão conseguir mudar o mundo através da conscientização compartilhada. 
E por fim, há dois tipos de viciados em feissibuqui: os que curtem tudo revelando como percebem o mundinho lá fora sem botar a mão na massa. 
E os que só espiam atras do muro, pensam sozinhos e também não botam a mão na massa, a colher no caldo, nem pimenta nos óinhos dos outros. 
E ficamos por aqui porque todo mundo tem direito a um delete na vida enquanto espia a vida passar.

março 17, 2014

ELBOW


“A forma como o dia começa
decide a sombra de tudo
Mas a maneira como ela termina 
depende se você está em casa 
Para cada alma,
um travesseiro em uma janela, por favor...”

CENTENÁRIO DE ANÍBAL TROLO

Bha, que projeto bacana... Leia aqui http://aquimequedo.com.br/2014/01/09/centenario-de-anibal-troilo/

Envolve desde o seu Mena Barreto de 88 anos, de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, como músicos de lugares tão diversos quanto Helsinke, Jerusalem e Chicago.
 São 100 bandoneonistas, em 100 cidades do mundo, que pegaram seu instrumento e o levaram para o lugar mais emblemático (ou querido) de onde moram e aí tocaram o tango “Quejas de Bandoneón”, de Aníbal Troilo, com um arranjo especial para solo feito pelo maestro Raul Garello.

As interpretações foram filmadas e serão exibidas todas juntas, pela primeira vez, dia 11 de julho de 2014, no Obelisco, em Buenos Aires.


A iniciativa é apenas uma das 250 que vão acontecer este ano em homenagem ao centenário de Aníbal Troilo. É pegar as milhagens e se tocar pra cidade dos hermanos.

iNTERMiTÊNCiAS


1 -  “Uma australiana, de Sydney, aprendeu com um nova-iorquino a dar um tapão no capô de carros que avançam nas faixas de pedestres. Em Sydney, se você der um tapa num capô, o motorista do carro desce e dá um murro em você. Em Nova York, eles ficam sentados, mansinhos.” Lucas Mendes. Na minha cidade, até que os motoristas estão mais ligados nas faixas. Incrivelmente.

2 -  O Saara é o deserto mais quente do mundo e o terceiro maior atrás apenas dos desertos da Antártica e do Ártico. São mais de 9,4 milhões de quilômetros quadrados  abrangendo a maior parte do Norte da África. De paisagens cinematográficas é tão grande quanto a China ou os Estados Unidos. De dia, a média de temperatura alcança fácil os 50º. Por aqui de onde escrevo e você me lê é fácil alcançar os 45º.  Também é uma cidade cinematográfica onde poderíamos usar os dishdashas  beduínos. Aqui, cidade saqueada por uma cáfila de políticos corruptos e sultões da construção, sem preocupação com a qualidade de vida dessa cidade. Tem quem goste e admire. Exagerei? Coitados dos camelos.

3 - Arte, cultura, já disseram, não é o que você percebe só pelos olhos ou ouvidos. Mas aquilo que invade sua percepção e muda o seu jeito de ver e ouvir. Por esses dias vi um cara do grupo mineiro Galpão dizendo que teatro e cinema são vitais para seu crescimento pessoal. Clap, clap, clap. Incluiria aí a leitura. Mas sim, é no cinema que dou vazão aos meus mais miseráveis sonhos. 

4 - Então um dia a gente aprende. Não se desconfia do Homem, mas de suas palavras. Não se desconfia das palavras, mas da alma do Homem.

5 - Tempo agora? Chove lá fora.

março 07, 2014

LEOPOLDO MARÍA PANERO



“Não usem a minha torpe biografia 
para me julgar”.

MORRE LEOPOLDO MARÍA PANERO



“Morreu o nosso Peter Pan, o nosso Artaud, o nosso louco, o nosso intocável, o nosso monstro”, escreve Luis Alemany no jornal El Mundo.

Leitor compulsivo
Poliglota
Alcoólico
Heroinómano
Bissexual assumido
Esquizofrénico
Poeta transgressor
Autor de cabeceira era Fernando Pessoa

* Não é tudo o que precisamos nesses dias consumidos pela ganância e podridão humana?

Obras:
Poesía Completa: 2000-2010 (2013).
Last River Together
Poesia Espanhola de Agora 
Poemas do Manicómio de Mondragón.



Branca de Neve se despede dos sete anões 
Leopoldo María Panero

"Prometo escrever, lenços que se perdem no horizonte, risos que empalidecem, rostos que tombam sem peso sobre a relva úmida, onde as aranhas tecem agora as suas teias azuis.
Na casa do bosque range, de noite, o madeirame antigo, o vento agita cortinas puídas, só a lua penetra pelas gretas.
Os espelhos silenciosos, agora, que grotescos!, pentes envenenados, maçãs, malefícios, que cheiro de lugar fechado!, agora, que grotescos!.
Vou morrer de saudades, nunca os esquecerei. Lenços que se perdem no horizonte.
Ao longe ouvem-se pancadas secas, uma após outra as árvores sucumbem.

Está à venda o jardim das cerejeiras.”