ÜBERDRUSS
agosto 25, 2019
A ÚLTIMA COLUNA DE FERNANDA YOUNG
"A Amazônia em chamas, a censura voltando, a economia
estagnada, e a pessoa quer falar de quê?
Dos cafonas. Do império da cafonice
que nos domina. Não exatamente nas roupas que vestimos ou nas músicas que
escutamos — a pessoa quer falar do mau gosto existencial. Do que há de cafona
na vulgaridade das palavras, na deselegância pública, na ignorância por opção,
na mentira como tática, no atraso das ideias.
O cafona fala alto e se orgulha de ser grosseiro e sem
compostura. Acha que pode tudo e esfrega sua tosquice na cara dos outros. Não
há ética que caiba a ele.
Enganar é ok. Agredir é ok. Gentileza, educação,
delicadeza, para um convicto e ruidoso cafona, é tudo coisa de maricas.
O cafona manda cimentar o quintal e ladrilhar o jardim. Quer
todo mundo igual, cantando o hino. Gosta de frases de efeito e piadas de bicha.
Chuta o cachorro, chicoteia o cavalo e mata passarinho.
Despreza a ciência,
porque ninguém pode ser mais sabido que ele. É rude na língua e flatulento por
todos os seus orifícios. Recorre à religião para ser hipócrita e à brutalidade
para ser respeitado.
A cafonice detesta a arte, pois não quer ter que entender
nada. Odeia o diferente, pois não tem um pingo de originalidade em suas veias.
Segura de si, acha que a psicologia não tem necessidade e que desculpa não se
pede. Fala o que pensa, principalmente quando não pensa. Fura filas, canta
pneus e passa sermões. A cafonice não tem vergonha na cara.
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O cafona quer ser autoridade, para poder dar carteiradas. Quer vencer, para ver o outro perder. Quer ser convidado, para cuspir no prato. Quer bajular o poderoso e debochar do necessitado. Quer andar armado. Quer tirar vantagem em tudo. Unidos, os cafonas fazem passeatas de apoio e protestos a favor. Atacam como hienas e se escondem como ratos.
O cafona quer ser autoridade, para poder dar carteiradas. Quer vencer, para ver o outro perder. Quer ser convidado, para cuspir no prato. Quer bajular o poderoso e debochar do necessitado. Quer andar armado. Quer tirar vantagem em tudo. Unidos, os cafonas fazem passeatas de apoio e protestos a favor. Atacam como hienas e se escondem como ratos.
Existe algo mais brega do que um rico roubando?
Algo mais
chique do que um pobre honesto?
É sobre isso que a pessoa quer falar, apesar de
tudo que está acontecendo. Porque só o bom gosto pode salvar este país."
agosto 14, 2019
LAJEADO: POVO MACHISTA
Rua Liberato Salzano com seus lindos paralelepípedos, agora lama asfáltica.
POR ONDE CAMINHO, no centro e proximidades, os vereadores de Lajeado homenagearam os homens em 56 ruas. Passo por ruas que lembram 7 estados, 4 datas históricas. 3 relacionadas a santos ou paz. Uma associação, um passarinho, uma fabrica de cigarro e uma lembra o rio.
Isso não lhe diz nada? 73 nomes e nenhum é de mulher?
Av .Alberto Muller
Av .Alberto Pasqualini
Av. Acvat
Rua Avelino Tallini
Rua Alberto Torres
Rua Alm Barroso
Rua Amazonas
Rua Augusto Frederico Markus
Rua Beira Rio
Rua Bento Rosa
Rua Borges De Medeiros
Rua Br do Triunfo
Av .Benjamin Constant
Av .Bento Gonçalves
Rua Carlos Jacob Kieling
Rua Carlos Von Koser Ritz
Rua Ceará
Rua Coelho Neto
Rua Comandante Wagner
Rua Cristiano Grun
Rua D Pedro II
Rua Donga Menezes
Rua Décio Pelegrini
Rua Emílio Conrado
Rua Fialho Vargas
Rua Francisco Oscar Karnal
Rua Fábio Brito Azambuja
Rua Gen. Mallmann
Rua Gan. Flores da
Cunha
Rua Germano Berner
Rua Getúlio Vargas
Rua Guanabara
Rua José Schmatz
Rua João Abott
Rua João Batista Mello
Rua João Sebastiany
Rua Júlio Castilhos
Rua Júlio May
Rua Machado de Assis
Rua Mal. Deodoro
Rua Maranhão
Rua Marechal Deodoro
Rua Marino Mário Sudbrack
Rua Maurício Cardoso
Rua Miguel Tostes
Rua Nossa Senhora do
Caravágio
Rua Natalício Heinech
Rua Olavo Bilac
Rua Onze de Junho
Rua Osvaldo Cruz
Rua Otelo Rosa
Av .Osvaldo Aranha
Av .Presidente Castelo Branco
Rua Paraná
Rua Paulo Emílio Thiesen
Rua Paulo J Schlabitz
Rua Pedro Albino Muller
Rua Pernambuco
Rua Piauí
Rua Pinheiro Machado
Rua Reinoldo Alberto Hexsel
Rua São Pedro
Rua Sabiá
Rua Saldanha Marinho
Rua Santos Filho
Av .Sete de Setembro
Rua Silva Jardim
Rua Tiradentes
Rua Travessa da Paz
Rua Treze de Junho
Rua Vinte e Cinco de Julho
Rua Waldemar Ely
Rua Washington Luiz
Não sejamos injustas....
O bairro Florestal homenageia Zelia Abichequer e Clelia Jaegger Betti.
No bairro Campestre: Rua Cecília Catarina Sulzbach
Deve ter outras homenageadas por aí, né?
Preciso caminhar mais longe...
agosto 13, 2019
MOISÉS MENDES
“Li agora uma 'seleção' de frases de Bolsonaro na visita ao
Estado.
É um painel de grosserias e besteiras.
O homem não diz nada com nada, só diz palavrão.
O homem não diz nada com nada, só diz palavrão.
Mas a bagaceirada da direita aplaude, ri e se delicia
com o
exibicionismo de tanta estupidez.
O gaúcho reacionário, dessa classe média bombachuda decadente,
que hipnotizou os
pobres que se consideram ricos,
se contenta com qualquer coisa.
Bolsonaro é a Disney do Brasil bagaceiro.”
TRISTE HUMOR
Alexandre Beck
Duke
Aroeira
Gilmar
"O chargista mineiro Evandro Luiz da Rocha venceu o
prêmio principal do Salão de Humor de Piracicaba (SP) em 2019 com uma obra
inspirada na Justiça brasileira." Globo
quando era criança acreditava que o Papa era realmente o
enviado de Deus.
adulta, acreditava em juiz.
agora, acredito nos Cartunistas.
agosto 08, 2019
DIE VERWANDLUNG
Lajeado em 1939
“Numa manhã, ao despertar e sonhos inquietantes, Gregório
Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto – leio "A Metamorfose", de Kafka.
Aquela banda de rock que você aplaudia é da extrema-direita.
O seu médico admira Hitler.
O clube que você frequenta é racista.
“Que me aconteceu ? Não era nenhum sonho” - pensou Gregório Samsa:
O ctg onde você dança, o pub onde curte o som e a torneira de chope,
a associação literária, o clube de serviço, seu dentista, sua melhor amiga, seu
irmão, seu filho, seu psiquiatra - todos coniventes com a ditadura.
O juiz, o promotor, seu advogado, o diretor da escola onde
você estudou, o radialista.
O diretor do hospital, o delegado, o dono do mercadinho.
A caixa do supermercado, o azulzinho, o agricultor, o
professor universitário... Todos apoiam o nazismo.
Sem falar nos políticos.
Não temos fornos nazistas, mas temos asfalto nas ruas que ajudam os 45º no verão.
Sem falar nos políticos.
Não temos fornos nazistas, mas temos asfalto nas ruas que ajudam os 45º no verão.
A doutora mais simples, de ouvidos e olhos estrangeiros,
sentenciou: “uma cidade doente”.
Assim, cada vez que alguém se atira da ponte no rio Taquari, e são muitos, entendo.
Lajeado tem um colégio que honra o nome de um ditador, que
elegeu Bolsonaro com 71,65% de votos e um prefeito que se exibe orgulhoso nas redes
sociais ao lado de um empresário condenado por crime financeiro e lavagem de
dinheiro.
Tudo sempre cheirou mal nessa cidade autoritária e preconceituosa. E cheiro
de merda que você sente não vem só dos esgotos nas esquinas.
“Uma vez mais, os primeiros alvores do mundo que havia para
além da janela penetraram-lhe a consciência. Depois, a cabeça pendeu-lhe inevitavelmente
para o chão e soltou pelas narinas um último e débil suspiro.”
Bem vindo a Lajeado, o berço do fascismo no vale do taquari,
onde também me sinto metamorfoseada em repulsivo inseto, presa a essa hipócrita
engrenagem social.
agosto 02, 2019
PRUNUS SURRULATA
Eu também não – respondi. Angustias familiares, angustias
ambientais, o retrocesso de um país em suas mais caras conquistas sociais.
Tudo me deprime como se uma camisa de força - de seda, mas
eficiente - na supressão do movimento e da esperança. A estupidez, a ignorância, e o preconceito de familiares e amigos,
enoja, revolta, atrofia meu afeto.
Fugir desse mundo parece ser o único caminho. Quanto mais
aproximo, o abismo se mostra mais profundo. E terrivelmente hipócrita.
"SE ELE FAZ TUDO ISSO EM PÚBLICO, IMAGINE NA INTIMIDADE"
Por Ruy Castro *
"Se você acha Jair Bolsonaro um horror só
porque ele detesta
índios,
gays,
transexuais,
nordestinos,
crianças,
professores,
estudantes,
cientistas,
artistas,
jornalistas,
pacifistas,
imigrantes,
doentes mentais,
dependentes químicos,
presidiários,
desaparecidos políticos,
ambientalistas,
veganos e até famintos;
ou se você se assusta porque, em vez daqueles, ele prefere
torturadores,
milicianos,
fabricantes de armas,
chacinadores,
devastadores do ambiente,
mineradores,
disseminadores de agrotóxicos,
exploradores do trabalho infantil,
criminosos do trânsito,
censores e,
de modo geral,
as piores pessoas do país;
Se ele lhe provoca náuseas ao fazer declarações impiedosas
sobre pessoas mortas, tanto as que morreram de fome, nos presídios, nas ruas ou
mesmo em combate, e ao insultar suas famílias, que têm o direito de amá-las;
ao demonstrar seu cavalar desconhecimento sobre artistas que
elevaram o nome do Brasil no exterior, como João Gilberto;
e, dizendo-se cristão,
frequentar igrejas por motivos políticos tanto
quanto estádios de futebol;
Se você se indigna porque ele despreza instituições que nos
tornaram adultos e respeitados,
e, diariamente, agride uma Constituição que jurou respeitar
e nunca leu;
ou porque desmerece o trabalho de brasileiros que têm
dedicado a vida a construir o Brasil, e não a parasitá-lo durante 28 anos num
covil da Câmara dos Deputados;
Se você continua esperando que ele se explique sobre as
histórias mal contadas que o cercam, envolvendo seus filhos, motoristas
que “sabem fazer dinheiro”, vendedoras de açaí, ministros suspeitos,
candidatos laranjas e mentiras puras e simples;
Gilmar
Enfim, se você ainda se surpreende ouvindo-o dizer coisas
inenarráveis ao ser filmado cortando o cabelo numa cadeira de
barbeiro,
imagine o que ele não faz sozinho, sem testemunhas, sentado
em outra espécie de trono.
* Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen
Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.