agosto 25, 2019

FERNANDA YOUNG

"Não se soma à alma
aquilo que não é capaz 
de entrar dentro dela."


 1 de maio de 1970 - 25 de agosto de 2018

A ÚLTIMA COLUNA DE FERNANDA YOUNG


"A Amazônia em chamas, a censura voltando, a economia estagnada, e a pessoa quer falar de quê? 

Dos cafonas. Do império da cafonice que nos domina. Não exatamente nas roupas que vestimos ou nas músicas que escutamos — a pessoa quer falar do mau gosto existencial. Do que há de cafona na vulgaridade das palavras, na deselegância pública, na ignorância por opção, na mentira como tática, no atraso das ideias.

O cafona fala alto e se orgulha de ser grosseiro e sem compostura. Acha que pode tudo e esfrega sua tosquice na cara dos outros. Não há ética que caiba a ele. 

Enganar é ok. Agredir é ok. Gentileza, educação, delicadeza, para um convicto e ruidoso cafona, é tudo coisa de maricas.

O cafona manda cimentar o quintal e ladrilhar o jardim. Quer todo mundo igual, cantando o hino. Gosta de frases de efeito e piadas de bicha. Chuta o cachorro, chicoteia o cavalo e mata passarinho.

Despreza a ciência, porque ninguém pode ser mais sabido que ele. É rude na língua e flatulento por todos os seus orifícios. Recorre à religião para ser hipócrita e à brutalidade para ser respeitado.

A cafonice detesta a arte, pois não quer ter que entender nada. Odeia o diferente, pois não tem um pingo de originalidade em suas veias. Segura de si, acha que a psicologia não tem necessidade e que desculpa não se pede. Fala o que pensa, principalmente quando não pensa. Fura filas, canta pneus e passa sermões. A cafonice não tem vergonha na cara.

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O cafona quer ser autoridade, para poder dar carteiradas. Quer vencer, para ver o outro perder. Quer ser convidado, para cuspir no prato. Quer bajular o poderoso e debochar do necessitado. Quer andar armado. Quer tirar vantagem em tudo. Unidos, os cafonas fazem passeatas de apoio e protestos a favor. Atacam como hienas e se escondem como ratos.

Existe algo mais brega do que um rico roubando? 
Algo mais chique do que um pobre honesto? 

É sobre isso que a pessoa quer falar, apesar de tudo que está acontecendo. Porque só o bom gosto pode salvar este país."



agosto 14, 2019

ZYGMUNT BAUMAN



"Se levarmos em conta que amar outra pessoa
não é amar o que projetamos nela
e sim a sua humanidade e singularidades,
não será difícil compreender que o amor
é um desafio nos tempos 
de modernidade líquida."

LAJEADO: POVO MACHISTA


Rua Liberato Salzano com seus lindos paralelepípedos, agora lama asfáltica.


POR ONDE CAMINHO, no centro e proximidades, os vereadores de Lajeado homenagearam  os homens em 56 ruas. Passo por  ruas que lembram 7 estados,  4 datas históricas. 3 relacionadas a santos ou paz. Uma associação, um passarinho, uma fabrica de cigarro  e uma lembra o rio.

Isso não lhe diz nada? 73 nomes  e nenhum é de mulher?


Av .Alberto Muller
Av .Alberto Pasqualini
Av. Acvat
Rua Avelino Tallini
Rua Alberto Torres
Rua Alm Barroso
Rua Amazonas
Rua Augusto Frederico Markus
Rua Beira Rio
Rua Bento Rosa
Rua Borges De Medeiros
Rua Br do Triunfo
Av .Benjamin Constant
Av .Bento Gonçalves
Rua Carlos Jacob Kieling
Rua Carlos Von Koser Ritz
Rua Ceará
Rua Coelho Neto
Rua Comandante Wagner
Rua Cristiano Grun
Rua D Pedro II
Rua Donga Menezes
Rua Décio Pelegrini
Rua Emílio Conrado
Rua Fialho Vargas
Rua Francisco Oscar Karnal
Rua Fábio Brito Azambuja
Rua Gen. Mallmann
Rua  Gan. Flores da Cunha
Rua Germano Berner
Rua Getúlio Vargas
Rua Guanabara
Rua José Schmatz
Rua João Abott
Rua João Batista Mello
Rua João Sebastiany
Rua Júlio Castilhos
Rua Júlio May
Rua Machado de Assis
Rua Mal. Deodoro
Rua Maranhão
Rua Marechal Deodoro
Rua Marino Mário Sudbrack
Rua Maurício Cardoso
Rua Miguel Tostes
Rua Nossa Senhora  do Caravágio
Rua Natalício Heinech
Rua Olavo Bilac
Rua Onze de Junho
Rua Osvaldo Cruz
Rua Otelo Rosa
Av .Osvaldo Aranha
Av .Presidente Castelo Branco
Rua Paraná
Rua Paulo Emílio Thiesen
Rua Paulo J Schlabitz
Rua Pedro Albino Muller
Rua Pernambuco
Rua Piauí
Rua Pinheiro Machado
Rua Reinoldo Alberto Hexsel
Rua São Pedro
Rua Sabiá
Rua Saldanha Marinho
Rua Santos Filho
Av .Sete de Setembro
Rua Silva Jardim
Rua Tiradentes
Rua Travessa da Paz
Rua Treze de Junho
Rua Vinte e Cinco de Julho
Rua Waldemar Ely
Rua Washington Luiz

Não sejamos injustas....

O bairro Florestal homenageia Zelia Abichequer e Clelia Jaegger Betti. 

No bairro Campestre: Rua Cecília Catarina Sulzbach 

Deve ter outras homenageadas por aí, né? 
Preciso caminhar mais longe...




agosto 13, 2019

MOISÉS MENDES


“Li agora uma 'seleção' de frases de Bolsonaro na visita ao Estado.
É um painel de grosserias e besteiras.
O homem não diz nada com nada, só diz palavrão.

Mas a bagaceirada da direita aplaude, ri e se delicia 
com o exibicionismo de tanta estupidez.

O gaúcho reacionário, dessa classe média bombachuda decadente,
que hipnotizou os pobres que se consideram ricos,
se contenta com qualquer coisa. 

Bolsonaro é a Disney do Brasil bagaceiro.”

A GRANDE MENTIRA AMBIENTAL


"Aquele que não conhece a verdade 
é simplesmente um ignorante.

Mas aquele que a conhece 
e diz que é mentira, 
este é um criminoso."


Escreveu o dramaturgo Brecht 
em 1938, em "A vida de Galileu."

Atual, muito atual.

TRISTE HUMOR

 Alexandre Beck
Duke

 Aroeira
Gilmar

"O chargista mineiro Evandro Luiz da Rocha venceu o prêmio principal do Salão de Humor de Piracicaba (SP) em 2019 com uma obra inspirada na Justiça brasileira." Globo

quando era criança acreditava que o Papa era realmente o enviado de Deus.
adulta, acreditava em juiz.
agora, acredito nos Cartunistas.

agosto 08, 2019

SCHOPENHAUER



“O importante não é ver o que ninguém nunca viu,
mas sim, pensar o que ninguém nunca pensou
sobre algo que todo mundo vê.”

DIE VERWANDLUNG

Lajeado em 1939


“Numa manhã, ao despertar e sonhos inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto – leio "A Metamorfose", de Kafka.

Aquela banda de rock que você aplaudia é da extrema-direita.
O seu médico admira Hitler.
O clube que você frequenta é racista.

“Que me aconteceu ? Não era nenhum sonho” - pensou Gregório Samsa:

O ctg onde você dança, o pub onde curte o som e a torneira de chope, a associação literária, o clube de serviço, seu dentista, sua melhor amiga, seu irmão, seu filho, seu psiquiatra - todos coniventes com a ditadura.



O juiz, o promotor, seu advogado, o diretor da escola onde você estudou, o radialista.
O diretor do hospital, o delegado, o dono do mercadinho.
A caixa do supermercado, o azulzinho, o agricultor, o professor universitário... Todos apoiam o nazismo. 

Sem falar nos políticos.

Não temos fornos nazistas, mas temos asfalto nas ruas que ajudam os 45º no verão.

“Foi apenas ao anoitecer que Gregório acordou do seu sono profundo...”

A doutora mais simples, de ouvidos e olhos estrangeiros, sentenciou: “uma cidade doente”.

Assim, cada vez que alguém se atira da ponte no rio Taquari, e são muitos, entendo.

Lajeado tem um colégio que honra o nome de um ditador, que elegeu Bolsonaro com 71,65% de votos e um prefeito que se exibe orgulhoso nas redes sociais ao lado de um empresário condenado por crime financeiro e lavagem de dinheiro. 

Tudo sempre cheirou mal nessa cidade autoritária e preconceituosa. E cheiro de merda que você sente não vem só dos esgotos nas esquinas.

“Uma vez mais, os primeiros alvores do mundo que havia para além da janela penetraram-lhe a consciência. Depois, a cabeça pendeu-lhe inevitavelmente para o chão e soltou pelas narinas um último e débil suspiro.”

Bem vindo a Lajeado, o berço do fascismo no vale do taquari, onde também me sinto metamorfoseada em repulsivo inseto, presa a essa hipócrita engrenagem social.

RENATO AROEIRA

"Todo dia ela faz tudo sempre igual."

LEMBRANDO...


agosto 02, 2019

LUIZ SERGIO METZ *


 “Os cavalos velhos
 não morrem no inverno:
morrem no sol de fevereiro 
quando seca a graxa dos seus rins. 
  
Agosto talvez sim seja 
o mais cruel dos nossos meses.”


No livro Assim na Terra

PRUNUS SURRULATA


 Ontem, conversávamos. Constrangida, cochichou que sem o antidepressivo, não levantava da cama.
Eu também não – respondi. Angustias familiares, angustias ambientais, o retrocesso de um país em suas mais caras conquistas sociais. 

Tudo me deprime como se uma camisa de força -  de seda, mas eficiente -  na supressão do movimento e da esperança. A estupidez, a ignorância, e o preconceito de familiares e amigos, enoja, revolta, atrofia meu afeto.
Fugir desse mundo parece ser o único caminho. Quanto mais aproximo, o abismo se mostra mais profundo. E terrivelmente hipócrita.

A VIDA COMO ELA É


"SE ELE FAZ TUDO ISSO EM PÚBLICO, IMAGINE NA INTIMIDADE"



Por Ruy Castro *

"Se você acha Jair Bolsonaro um horror só porque ele detesta

índios,
gays,
transexuais,
nordestinos,
crianças,
professores,
estudantes,
cientistas,
artistas,
jornalistas,
pacifistas,
imigrantes,
doentes mentais,
dependentes químicos,
presidiários,
desaparecidos políticos,
ambientalistas,
veganos e até famintos;


ou se você se assusta porque, em vez daqueles, ele prefere
torturadores,
milicianos,
fabricantes de armas,
chacinadores,
devastadores do ambiente,
mineradores,
disseminadores de agrotóxicos,
exploradores do trabalho infantil,
criminosos do trânsito,
censores e,
de modo geral,
as piores pessoas do país;




Se ele lhe provoca náuseas ao fazer declarações impiedosas sobre pessoas mortas, tanto as que morreram de fome, nos presídios, nas ruas ou mesmo em combate, e ao insultar suas famílias, que têm o direito de amá-las;

ao demonstrar seu cavalar desconhecimento sobre artistas que elevaram o nome do Brasil no exterior, como João Gilberto;

e, dizendo-se cristão, 
frequentar igrejas por motivos políticos tanto quanto estádios de futebol;


Se você se indigna porque ele despreza instituições que nos tornaram adultos e respeitados, 

como o Itamaraty, o Inpe, a Funai, o Ibama, a Fiocruz e a OAB,
e, diariamente, agride uma Constituição que jurou respeitar e nunca leu;

ou porque desmerece o trabalho de brasileiros que têm dedicado a vida a construir o Brasil, e não a parasitá-lo durante 28 anos num covil da Câmara dos Deputados;

Se você continua esperando que ele se explique sobre as histórias mal contadas que o cercam, envolvendo seus filhos, motoristas que “sabem fazer dinheiro”, vendedoras de açaí, ministros suspeitos, candidatos laranjas e mentiras puras e simples;

Gilmar

Enfim, se você ainda se surpreende ouvindo-o dizer coisas inenarráveis ao ser filmado cortando o cabelo numa cadeira de barbeiro,

imagine o que ele não faz sozinho, sem testemunhas, sentado em outra espécie de trono.


* Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.


EMBAIXADA VERGONHOSA

Benett

Tacho