outubro 19, 2018

AÍLTON KRENAK

"No dia em que não houver lugar 
para o índio no mundo,
 não haverá lugar para ninguém." 

INDIOS - O GENOCIDIO FINAL



Acervo Plinio Ayrosa   

Primeiros, os brancos se interessaram pela madeira. Depois, pelas pedras preciosas.  Quanto mais desmatavam, mais descobriam e dizimavam as tribos nas aldeias indígenas.

Acompanhando a história do Brasil até a Constituinte de 1988, não só em Minas, mas no Brasil inteiro, a perspectiva do Estado brasileiro era acabar com índio.

Os Krenák ou Borun constituem-se nos últimos Botocudos do Leste, nome atribuído pelos portugueses no final do século XVIII aos grupos que usavam botoques auriculares e labiais. 



Quando uma criança krenak nasce não vai para creches... Mas, com a mãe, suas avós e tias.

As crianças indígenas  não são educadas, mas orientadas.

Não aprendem a ser vencedores. Porque para uns vencerem, outros têm de perder.

Partilham do seu espaço e sua comida. O indivíduo conta menos que o coletivo. Esse é o mistério indígena, um legado que passa de geração para geração.


Foto de João Roberto Ripper

Ailton Krenak, 65 anos, casado com Irani Krenak, é um sobrevivente do holocausto brasileiro e está preocupado com um possível governo Bolsonaro que vai priorizar terra para exploração mineral e agrícola e expulsar os índios de suas reservas.

Kren= cabeça e  nak = terra.  Os últimos cabeças da Terra. Seus antepassados botocudos e habitavam a floresta do Vale do rio Doce.

A aldeia de Ailton  foi a última a ser colonizada, em 1910:

Foto Walter Garbe

"Em outras épocas o meu povo já experimentou diferentes  tipos de violência. Os botocudos  foram aniquilados durante o século XIX e chegaram ao século XX quase extintos, ao ponto de sermos a única família.

Os krenak tem memória da guerra  descrita numa carta assinada por d. João VI, que se chamava mesmo “guerra de extermínio à nação dos botocudos do Vale do rio Doce. Uma declaração de guerra contra o nosso povo."

Foto Ligia Simonian
  

"A população indígena na região mineira, no final do século  XIX,  era estimada em 5 mil pessoas.  

Só chegaram 140 indivíduos ao século XX. 

Era como se caísse uma bomba na Europa e ficassem umas 100 mil pessoas para contar a história.  

Fomos vítimas de um genocídio e não há contabilidade possível. 

Os krenak voltaram a reunir 120 famílias. Se considerarmos 5 pessoas por família somos um pouco mais de 500.

Em Conceição do Mato Dentro, Minas,  “os colonos  incendiaram a aldeia, fuzilaram crianças e as mulheres, e mataram muitos a facão. Isso ocorreu no final dos anos 1940 e 1950 e não havia ali nenhuma família instalada pacificamente."
Foto Marcio Ferreira

O presídio indígena da ditadura


Denúncias apontam o Reformatório Agrícola Krenak, em Minas Gerais, como centro de tortura de índios durante regime militar.

Foto André Campos - Centro de tortura indígena

Durante a ditadura, anos 70,  “toda a minha gente acabou expulsa e as últimas famílias que persistiam em permanecer foram arrancadas de lá, amarradas em correntes em cima de caminhões e despejadas em outro sítio, que a Secretaria da Agricultura de Minas Gerais trocou com a Fundação Nacional do Índio (Funai) a fim de liberar terra indígena para a colonização."

http://elkunumi-guarani.blogspot.com/2013/09/documento-registros-de-exterminacion-de.html

Exterminação indígena governo Figueredo



Ailton Krenak por Gustavo Rubio

"Vivemos dentro de uma pequena reserva segregados pelo governo brasileiro, num campinho de concentração que o Estado fez para os krenak  sobreviverem.  

Durante a ditadura se constituiu num campo de reeducação, que na verdade era um centro de tortura.

Já passamos por tanta ofensa que mais essa agora não nos vai  deixar fora do serio. Fico preocupado é se os brancos vão resistir. Nós  estamos resistindo há 500 anos."

Com 17 anos Ailton migrou com seus parentes para o estado do Paraná.

Aiton Krenak se alfabetizou aos 18 anos, tornando-se a seguir produtor gráfico e jornalista.


Anos 70: a ditadura de Geisel

“Foi muito curioso, porque foi nessa época que o estado resolveu que eles iam emancipar os índios. Eles decidiram que iam fazer a campanha da emancipação em 1976.

Eles lançaram o lema da emancipação, uma reforma do estado, com a questão da terra, dos direitos civis mesmo. Digamos que era o período de maior desgaste dessas relações, quando o Estado decidiu dizer que aquela gente que pensava que era índio, não era mais."

Aquela violência do Estado abrangente que atingia desde os Ianomâmis, os Xavantes, os Ticunas, os Guaranis, até os índios urbanos e periféricos todos, foi a primeira oportunidade de coalizão indígena que tivemos quando o Estado atacou.”


Na década de 1980, Ailton Krenak  passou a se dedicar exclusivamente à articulação do movimento indígena.

Em 1987, no contexto das discussões da Assembleia Constituinte, Ailton foi autor de um gesto marcante, logo captado pela imprensa e que comoveu a opinião pública:

Pintou o rosto de preto com pasta de jenipapo enquanto discursava no plenário do Congresso Nacional, em sinal de luto pelo retrocesso na tramitação dos direitos indígenas.

Em 1988 participou da fundação da União das Nações Indígenas (UNI), fórum intertribal interessado em estabelecer uma representação do movimento indígena em nível nacional, participando em 1989 do movimento Aliança dos Povos da Floresta, que reunia povos indígenas e seringueiros em torno da proposta da criação das reservas extrativistas, visando a proteção da floresta e da população nativa que nela vive.
Foto Michel Filho

Nos últimos anos, Ailton se recolheu de volta à Minas Gerais e mais perto do seu povo.

Atualmente, está no Núcleo de Cultura Indígena, ONG que realiza desde 1998 o Festival de Dança e Cultura Indígena, idealizado e mantido por Ailton Krenak, na Serra do Cipó (MG), evento que visa promover o intercâmbio entre as diferentes etnias indígenas e delas com os não-índios.

“Eu ainda sigo incrédulo com a possibilidade de uma nação brasileira, uma certa dificuldade que me acompanha desde muito cedo quando não aceitei me engajar em nenhum partido político. Eu nunca me filiei em partido político, simplesmente porque nenhuma canga dessas me cabia.”

Foto Frederico Bozza

Em 2016, a Universidade Federal de Juiz de Fora  concedeu a Ailton Krenak , o título de professor Honoris Causa.  Krenak vem trabalhando junto à UFJF desde 2014 em diversas atividades, com destaque para o Curso de Especialização “Cultura e História dos Povos Indígenas” e a disciplina “Artes e ofícios dos saberes tradicionais”.

 Em agosto deste ano, uma tristeza. Ailton perdeu o filho mais velho, Kremba Krenak , 17 anos, num acidente de moto.

Do vídeo de Joana Beleza

Essa semana, Ailton participou de um fórum internacional de festival de cinema ambiente, em Portugal. Com mais de 30 países reunidos.

Com um Bolsonaro na presidência, vão-se os descendentes dos primeiros brasileiros dessa terra. Se eu me apavoro, imagino eles.

https://racismoambiental.net.br/2016/01/24/da-prisao-na-ditadura-a-contaminacao-do-rio-doce-as-tragedias-dos-indios-krenak/

IMPOTÊNCIA: UM RIO MORTO HA 3 ANOS



O Rio Doce corre por cerca de 850 quilômetros, cortando dois distritos de Minas Gerais, e é a fonte de vida para muitas pessoas, incluindo o povo krenak, que vive num pequeno assentamento às margens do rio.

 Quando a barragem estourou no dia 5 de novembro  de 2015, uma torrente de lama tóxica matou 17 pessoas, dizimando um vilarejo próximo a Bento Rodrigues e contaminando o Rio Doce, até chegar ao Oceano Atlântico.

Especialistas em saúde detectaram arsênico, zinco, cobre, mercúrio e antimônio na água do rio. Eles dizem que as toxinas permanecerão no Rio Doce pelos próximos 100 anos.

Dejanira Krenak


Para Ailton Krenak:

Samarco: Um raio súbito que se abateu sobre a nossa aldeia, sobre as vidas e a memória desse povo que vive à margem do Rio.

Barragem de Fundão: Um lugar muito distante e remoto, mas que afetou o nosso dia a dia nos últimos dois anos de uma maneira decisiva para o futuro.

Crime Ambiental:
Uma ideia de abismo, que não tem resposta, sem eco.

Desastre Ambiental: Um grito na paisagem.

Poder:
Uma coisa monolítica. Um bloco obscuro.

Ailton Krenak

“É uma luta da vida inteira, defendendo, tentando fazer com que as pessoas aprendam a ver com o olhar do povo indígena estes rios, estas florestas, montanhas que vêm sendo devoradas pela mineração e garimpo”.



MUDANÇAS COM O ROMPIMENTO

“A rotina, o cotidiano. Acabaram as saídas de casa para ir ao Rio mergulhar, tomar banho, lavar roupa, cozinhar, pescar, sentar e buscar água.

Começou o caminhão pipa, a privação, a falta de perspectiva em relação ao dia de amanhã, ao futuro.
Começou a aflição das pessoas sobre onde e como viver sem o Rio. Os animais que antes podiam circular, agora estão confinados, precisam ser atendidos por veterinários e receber ração de fora. Não tem mais agricultura.

Uma cerca de 19 quilômetros separa o corpo do Rio das casas, da vila e das pessoas, que estão confinadas em uma paisagem em suspenso.

Mais de cem famílias de uma hora para outra ficaram penduradas em uma pergunta: quem é que vai pagar por isso?”



“Eu não tenho dúvidas de que o Rio tem mais capacidade de resistir do que os viventes da beira dele. Daqui a trinta, cinquenta, cem anos, ele pode ter conseguido fazer a sua autolimpeza, mas a vida das pessoas que vivem ao longo dos 650 km de extensão dele, os pescadores, as tartarugas marinhas… eles vão ficar afetados por muito tempo e talvez a recuperação não seja igual ao do corpo do Rio.”

outubro 02, 2018

VLADIMIR SAFATLE



"Há certas situações históricas
em que é muito estúpido
ser inteligente".

DIPLOMADA & TOSCA


(Lajeado do Meio, 6 de dezembro de 1924. 
Prof. Joaquina Ramos da Silva)

Dias desses, entrei em um recinto e atrás vinha uma madame... Segurei a porta para ela entrar e sorri.  A criatura passou correndo. Mal conseguiu emitir um grunhido que eu não soube traduzir.

Taí, ó. Não adianta ter diploma de graduação pra pendurar na sala, no escritório. É apenas mais um pedaço de papel.  Porque um diploma, minha querida,  não garante a sua educação. Um diploma não garante gentileza.  Alias, educação serve para responder a um bom-dia, muito obrigada, por favor...

OS CARAS DO TRAÇO

Eloar Guazelli


 Os cartunistas, os ilustradores, 
 são os primeiros a desconfiar que algo
não vai bem no país dos quem-quem...

Leandro Bierhals

 Jean Claude Ramos
 Odyr Bernardi
Rafael Corrêa

 Dálcio Machado

Elias Ramires Monteiro



Para o escritor Umberto Eco, o fascismo é como a tuberculose: a pessoa tem uma aparência saudável e, de repente, começa a expelir sangue.

LIGUE 188

O Ministério da Saúde divulgou:


Das três cidades com maiores índices de suicídio no país, duas são do Vale do Taquari, onde sobrevivo:  
Forquetinha, que liderou o ranking com 78,7 casos a cada cem mil habitantes, e Travesseiro, em terceiro lugar, com 57 -  ambas cidadezinhas de origem alemã...

O Ministério da Saúde também aponta as formas encontradas pelo desespero e solidão: ingestão de veneno  e forca.  



No meu livro “Intrigas da Colônia”, o conto “Calendário” aborda o assunto de forma leve, mesmo sendo muito infeliz.  
O passado me autoriza.

outubro 01, 2018

DESCONHECIDO

(Quinteto Persch)

“Não interessa o tamanho do desafio. 

O que importa é o tamanho da união. "

ARTE NA PRAÇA: 4 ANOS

(foto ilustrativa)

O propósito do Arte na Praça sempre foi de conciliação e de encontros. Se você não acredita no coletivo, no bem comum, pelo menos não fale mal, não nos machuque...

Próximo: 14 de Outubro!

AUTORIA DESCONHECIDA


Gostei muito quando vi essa pagina nas redes sociais.  Dá a dimensão do absurdo que as redes se tornaram, com tantos donos da razão.

ESCOLHAS


Cidade pequena... Tudo se sabe.
Você conhece há anos as pessoas, vizinhos.
Algumas, desde pequenas.
Viu crescer, casar, ter filhos.
Sabe dos seus momentos de dor.
Sabe de suas alegrias.

Algumas nunca se envolveram em brigas de rua, sequer puxaram o tapete do colega no trabalho. Frequentam seus templos, os clubes de serviço, a maçonaria, se dizem do bem.

Pensava nisso  enquanto cortava o gramado, aproveitando  o tempo ensolarado dessa manhã.

Mais gente teve a mesma ideia:
o vizinho é aposentado, gosta de cortar grama;
a vizinha não gosta e chama o jardineiro.

O objetivo comum é o mesmo: deixar  mais bonito, caprichado, moramos aqui, estamos vivos.

Somos parecidos. Mas cada um tem sua religião. Cada um convive com os próprios preconceitos.
E apoia candidatos diferentes para essas eleições.

A diferença entre nós e várias outras pessoas “do bem” que encontramos por aí e nas redes sociais, é que não ofendemos uns aos outros. E isso parece revelar o verdadeiro  caráter de cada um.

De repente, o céu nublou, caíram uns pingos e ligeirinho tratei de guardar a máquina de cortar grama, com medo de um raio cair e me cortar a língua, carbonizar os pensamentos. Depois protegi  as roupas no varal e recolhi a biblioteca na calçada.

As pessoas ainda não se dão conta: conforme nossas escolhas, o Tempo pode mudar de uma hora para outra e demorar um longo tempo para o sol voltar a brilhar.

Cidad.... Tudo se sabe. 
E o que não se sabe, se inventa.