ÜBERDRUSS
setembro 28, 2018
AULA DE HISTÓRIA
(Em algum lugar de Lajeado/RS)
“O golpe militar
tinha sido vitorioso.
Não me lembro se prenderam alguém. Também não
houve violência, os soldados entraram e foram aconselhando as pessoas a se
retirarem.
Em frente ao
jornal, no Anhangabaú, havia ostentação de força com jipes e brucutus –
lançavam jatos de areia ou de água gelada sobre os manifestantes, e gente
fortemente armada, como se fossem para a guerra.
(Em algum lugar de Lajeado/RS)
Dos nossos, uns
foram para casa, outros para os cinemas, alguns se esconderam, muitos ficaram
de sobreaviso.
Muita gente
ausente. Uns presos, outros exilados (como o fundador e diretor Samuel Wainer),
outros permaneciam escondidos em algum ponto.
(Em algum lugar de Lajeado/RS)
Nessa reabertura
estávamos atônitos, tinha havido um golpe, mas não parecia ter havido nada, a
cidade continuava a funcionar normalmente, um presidente nem parecia ter sido
deposto, um regime mudado a força.” Ignácio de Loyolla Brandão, 1988.
TêTE A ...
... enquanto
isso, na porta da escola, esperando para buscarem os filhos, a mãe-advogada falou
para a dona de casa-mãe:
- O Bolsonaro
fez uma coisa muito positiva...
- Tipo?
- Abriu a
porta para todos se expressarem livremente e se mostrem como realmente são. Não
é ótimo?
- Todos
puderam tirar as máscaras e revelarem seus preconceitos raciais, contra os gays,
contra as mulheres, à favor do armamento, do estupro... E de quebra encontraram
um idiota que pensa como eles.
- Não precisam mais ficar por aí posando de caridosos só pra fazer de conta que
realmente se preocupam com os outros.
- #=*&bgrr%tnku.
setembro 27, 2018
setembro 25, 2018
"NAS CINZAS DA FACADA"
“A tosca brutalidade deste setembro foge às interpretações
normais e se transforma em paradoxo de si mesmo. As contradições esbarram umas
nas outras, disputando espaço.
Primeiro, o fogo que
destruiu o Museu Nacional, no Rio, consumiu em poucos minutos o que fora
acumulado em séculos, num retrato do incêndio geral que hoje perpassa o Brasil
como tragédia. Depois, o candidato presidencial que propõe liberar o uso de
armas e caça votos a partir da violência verbal foi esfaqueado em plena rua.
O crime jamais foi instrumento da política e,
assim, a tentativa de assassinato em Juiz de Fora é repugnante em si. O fato de
o criminoso ser um aparente desequilibrado não diminui a aberração. A
insanidade atenua o tipo e o rigor da pena, ou exclui o caráter político da ação,
mas não altera a sordidez do atentado.
HALS
No entanto, Jair Bolsonaro foi também vítima da própria ideia de violência constante, suporte de sua candidatura, que ele mesmo apregoou de norte a sul. Sua linguagem teve invariável tom destrutivo, como se ocultasse ódio interior. A insistência em armar a população para enfrentar a violência significaria abolir o próprio Estado, destruindo a polícia e a Justiça e, assim, criando o caos absoluto.
Cada proposta soava
como chamamento a substituir o diálogo pela ferocidade da imposição de ideias,
como nas ditaduras. Noutras ocasiões exibiu destemperado machismo – numa
palestra no Rio contou ter quatro filhos homens e acrescentou: “No quinto,
fraquejei e veio mulher”.
FRANK
Por tudo isso
tornou-se réu no Supremo Tribunal por “apologia do crime”, por “incitar ao
estupro” e por “racismo e injúria”. O próprio ministro Marco Aurélio Mello,
relator dos processos, já indagou, publicamente, se “réu pode ser candidato”.
Não pôs em dúvida o aspecto legal (aplicável aos condenados em segunda
instância, como Lula da Silva), mas, sim, a legitimidade moral de um réu se
candidatar a chefe de Estado e de governo.
CAU GOMEZ
Para parecer
diferente dos políticos Bolsonaro evitou aliados, ainda que desde 1989 ele
próprio viva dessa mesma política degradada. Foi vereador e quatro vezes
deputado federal, passando por nove partidos.
Os desvarios e
desequilíbrios atraem os desequilibrados e neles se multiplicam. A partir daí
podem redundar em adesão fanática ou em inimizade gratuita, igualmente fanatizada.
Em ambos os casos tudo é cego, como todo fanatismo. Ao ser preso, interrogado
sobre quem o mandou esfaquear, o criminoso respondeu: “Foi Deus, lá de cima!”.
Invocar o nome de
Deus em vão, como artimanha tática, foi usual também na campanha de Bolsonaro.
Dias antes do atentado, os cartazes que o receberam em Presidente Prudente e
noutras cidades proclamavam: “Deus acima de todos”. Mesmo assim, ele defendeu o
uso de armas e se fotografou ao lado de crianças, esticando o braço como se as
ensinasse a disparar um fuzil.
Que odioso deus o
saudava? O amor é a única arma de Deus. Não há amor irado e a ira jamais serviu
a nada, menos ainda ao ato de governar.
SANTIAGO
Esses pequenos
“incêndios” na campanha eleitoral lembram a Alemanha de 1930 e o caos que, três
anos depois, levou Hitler ao poder. Eram tempos de frustração e desesperança.
Derrotados na guerra de 1914-18 e desabituados à democracia, os alemães
desconheciam o debate de ideias e o diálogo político.
AROEIRA
O mais minucioso
biógrafo de Hitler, o alemão Joachim Fest, lembra que a aceitação das absurdas
ideias nazistas só ocorreu porque a Alemanha “era um país profundamente
exasperado” e “sem rumo”.
O Brasil de 2018 é,
também, um país exasperado e sem rumo. A corrupção gerada no conluio entre
governantes e grandes empresários desacreditou a política e reduziu os
políticos a cinza inservível.
A tática de Hitler
-- lembra seu biógrafo -- “consistia em concentrar as energias para fugir do
anonimato e destacar-se de qualquer forma dos concorrentes”. Assim, acrescenta,
“tornou-se famoso pelo cinismo alucinante que foi sua característica”.
KAYSER
É a tática do
“falem mal, mas falem de mim”, com que, aqui, Jair Bolsonaro saiu do anonimato
e virou candidato. Foi assim que dias antes do atentado, reunido com ruralistas
em Rondônia, prometeu reduzir as áreas de preservação ambiental e criticou a
visão unânime da ciência sobre o perigo do desmatamento da Amazônia.
Hitler foi “uma
mistura de excentricidades e gafes”, definiu seu principal biógrafo. Transpondo
a 2018, basta estar atento para observar algo similar entre nós. Já lembrei
aqui que Lula e Bolsonaro são iguais no tom místico e autoritário, na
habilidade de nunca revelar o que são ao esconder-se mais ou ocultar-se menos.
O atentado de Juiz
de Fora é alerta e advertência. A oca campanha eleitoral não pode ser
substituída pela violência. Nem sequer em pequenos gestos, como o da foto de
Bolsonaro no hospital levantando os dedos para simular um revólver.
GILMAR MACHADO
Seria absurdo culpar
a vítima pelo crime, mas no horror atual não há espaço para nenhum mártir. Não
há nenhum Gandhi. Tudo é alucinação e, entre as cinzas da facada, só resta o
velho adágio: violência gera violência."
EDUARDO BAPTISTÃO
AS MULHERES DO ALUÁ
“Mulheres de diferentes épocas que foram condenadas, num
período em que o pensamento-homem é que determinava a condição de cada uma
delas.
Com histórias marcadas pelas violências e pelas
dificuldades enfrentadas em um ambiente hostil e opressor do passado na
Amazônia.
Uma investigação cênica que coloca em foco a relação de
gênero e o universo feminino.
Quem são essas mulheres?
Dia 2 de outubro, às
20h no Teatro do Sesc Lajeado, com o grupo Teatro do Imaginário, de Rondônia,
pelo excelente Palco Giratório.
NEWTON FABRÍCIO *
Leio, releio... Quase 80% das pessoas que conheço, fumam. E os outros 20%? Cheiram pó. Todos defendem a liberação. Enquanto ela não vem, centenas de Alices morrem na guerra do tráfico. Enquanto a liberação não vem todos eles apoiam a morte de centenas de Alice para sustentar os seus vícios. Conheço várias pessoas esquizofrênicas. O gatilho? Maconha.
setembro 24, 2018
TEMPOS MASCARADOS
Fomos a Lisboa. O ponto alto da viagem: a 88ª Feira do Livro. Centenas de estandes, de livrarias, distribuidoras, praças de alimentação. Quase pirei! Visitei a feira em três momentos. A cada dia uma descoberta. Na volta, paguei excesso por conta dos livros que comprei, na maior animação.
Então... Um daqueles momentos, de longe, vi uma fila quilométrica. Todos com livro na mão, pacientes e "iluminados" - aguardando a sessão de autógrafos...
Cheguei perto e vi o "escritor"
E vi as expressões das caras dos seus leitores...
Eu sabia quem era, vagamente.
Só não sabia que o cara estava
com essa bola toda...
"Acusações de abuso, patrimônio milionário e mentiras em série maculam a imagem do guru do amor." Sai o Prem Baba, entra Janderson Fernandes de Oliveira, com milhares de seguidores, entre eles vários artistas globais, e mulheres por ele abusadas.Desconfie sempre do seu guru... Ninguém é iluminado nos dias mascarados de hoje. A reportagem da revista Época é arrasadora.
setembro 10, 2018
ARTE NA PRAÇA
Como já disse a atriz Meryl Streep: “Minhas ações são o que
me representam como ser humano, não minhas palavras.”... É compreensível? Mais um Arte na Praça
aconteceu ontem. Sempre no segundo domingo do mês! Dia bonito, calor humano, atitudes generosas, uma trilha
sonora linda, poesia entre as arvores. E quando o pianista Vicente Breyer tocou Milto Nascimento, por um momento,pensei que estava no Buttes Chaumon...
CONSIDERAÇÕES
A jornalista Sylvia Moretzsohn, escreveu:
"Bom, pessoal, para todos os que automaticamente ironizam
quaisquer dúvidas em relação às versões oficiais como teoria da conspiração eu
gostaria de dizer em primeiro lugar que conspirações existem e fazem parte da
história da política, desde os mais remotos tempos. E que a nossa história,
inclusive a nossa história recente, está cheia delas.
Em segundo lugar eu gostaria de dizer que qualquer crime que ganhe expressão
midiática leva o delegado a dizer que "todas as hipóteses estão sendo
consideradas".
Entretanto, pelo visto, isto só vale para crimes banais, não
para atentados como o que vimos discutindo.
Queria apenas lembrar que a pessoa em questão foi expulsa do Exército justamente por liderar uma conspiração.
E que atua nesta
campanha apelando aos recursos mais abjetos do esgoto da política.
Mesmo os analistas mais qualificados, que alertam para o momento de exceção que vivemos, para o caráter nada democrático dessa eleição (nem poderia ser, considerando o contexto do golpe) em que o líder nas pesquisas é excluído da disputa, mesmo esses ironizam as dúvidas sobre o tal atentado como "teoria conspiratória".
Mesmo os analistas mais qualificados, que alertam para o momento de exceção que vivemos, para o caráter nada democrático dessa eleição (nem poderia ser, considerando o contexto do golpe) em que o líder nas pesquisas é excluído da disputa, mesmo esses ironizam as dúvidas sobre o tal atentado como "teoria conspiratória".
Pois eu mantenho as minhas dúvidas, e só não avanço em outras considerações porque preciso me preservar. Emocionalmente, quero dizer, antes que pensem outra coisa.
Apenas digo que não é por acaso que estamos onde estamos, quando aceitamos sem questionar as versões oficiais sobre um atentado que serve tão evidentemente à vítima.
E, sim, haveria muito a investigar, caso tivéssemos imprensa (aquela imprensa de outros tempos, que desmontou a versão oficial sobre o Riocentro, por exemplo, no dia seguinte do atentado frustrado) e uma esquerda que tivesse consciência dessa necessidade."
DO MEU BLOQUINHO
“Vamos fuzilar a petralhada, diz Bolsonaro, em campanha no
Acre. Enquanto discursava em um carro de som, o candidato do PSL imitou um
fuzilamento e disse querer "botar estes picaretas pra comer capim na
Venezuela". O STF ordene a Procuradoria-Geral da República (PGR) a abrir
procedimento investigatório sobre o caso.– Revista Exame, para quem confia em fontes confiáveis.
Na minha postagem no feissibuqui impressiona a falta de
leitura dos “amigos”.
A constatação com o
ferro serás ferido, ou o que bate, volta – foi visto como um incentivo à violência. É de uma ignorância
sem tamanho as observações de alguns. Aí dá pra entender claramente o que é um analfabeto
funcional.
Foi uma semana
triste. O incêndio que consumiu o
Museu Nacional me deixou arrasada. Chorei vendo as imagens na tevê. A pesquisa de anos, cremada em
apenas seis horas. Aí vem essa estupidez
da facada. Um desânimo total... Setembro amarelo? É de cortar os pulsos, mesmo.