dezembro 15, 2011

KAZUYO SEJIMA

“...arte contemporânea 
é como arquitetura contemporânea:
dialoga com alguns, 
mas não com todos.”

TRILHA SONORA


DUCHAMP PASSOU AQUI.... ANTES

dezembro 08, 2011

SOREN KIERKEGAARD

“(...) se eu tivesse de pedir para que alguém
ponha uma inscrição sobre o meu túmulo,
eu não gostaria de nenhuma outra, a não ser esta:
‘Ele foi o Indivíduo’.
Se essa palavra não for compreendida no momento,
ela o será algum dia.”

TRILHA SONORA



 foi tão decepcionante assistir ao vídeo do geraldo vandré e ouvir o cantor de 76 anos  dizer que “protesto é coisa de quem não tem poder”. triste e verdadeiro. mas o poder muda de mãos, como soube mostrar a história contemporânea do nosso país. deu. ainda guardo três bolachões de vinil, mais os cds do nelson. a primeira fase do gaúcho foi muito inspiradora, como bucha para resistência aos podres poderes. na esteira vinha caetano, chico, gonzaguinha... assim formou-se a consciência estética e implicante minha. ou pulsão interior – pra ficar nos termos filosóficos. ontem, depois da meia-noite escutei no radio do carro, armadilha. pensei em jogar o carro contra o muro da secretaria do meio-ambiente. eita morte inútil. tb não mereço. agora é aguardar esse movimento que parece insurgir na cidade. tímido, mas vivo.

BLOGAR OU NÃO BLOGAR...

Parodiando Shakespeare: ... eis a questão. 
Tenho um blog -  como alguns já sabem. http://lauramertenpeixoto.blogspot.com/
Um blog que, diariamente ou não, estende um varal e sai dependurando as universalidades da nossa aldeia.
Você sabe que um blog é uma espécie de diário virtual, não é?
Então, muitas vezes as pessoas querem saber o que pretendo com o meu “diário” bisbilhotado por centena de acessos.
Querem saber do retorno financeiro ou político. Querem saber do lucro.

Em tempos  de consumismo, não passa  pela cabeça que posso querer apenas compartilhar a informação, as dúvidas e as críticas, porque nem tudo que acontece no quintal público é  participado ao cidadão, ao vizinho, à comadre.



É interessante observar: se os jornais e as emissoras de radio não divulgam um fato que muitos  presenciaram, ou poucos viram, parece que realmente aquilo não aconteceu. Ficou à margem, como se uma divagação insana, empírica, de alguém sem nada para fazer. Mas, mas, mas... Um blog vai mostrar o que  eu e você presenciamos longe de câmeras e microfones, e o que o leitor anônimo com seu celular e ipod também viu. Logo, tudo se transforma em pó na blogosfera.
O que seria do meu maior  interesse antes que me calem ou censurem de vez? A comunicação com o Outro.

Gosto de dividir angustias e  reflexões sobre o meio-ambiente e a prepotência; sobre estética da cidade e governantes e falcatruas; sobre arte e humor e a interferência no nosso cotidiano; sobre passado e futuro e a desesperança. Sobre alienação e fatalidades.
Se não o fizesse assim, os reflexos da solidão me aprisionariam à caverna cibernética que habito.

Sei que a maioria dos leitores se interessa pela aridez da crítica, pela indulgência das fofocas, pela insanidade da palavra.
Mas, entre uma coisa e outra sigo “filosofando” com anônimos e antônimos na cinta virtual da humanidade.

Ganhar dinheiro com um blog não está no meu códice, embora reconheça  que seria muito bom -  também não sou louca de atar em poste.  Só que, enquanto  a grana não borbulha pela tela do computador, vou me ocupando de arejar minhas idéias e dar o meu recado SEM ninguém atrás me financiando. Desculpe se é assim.

Esse colóquio invisível, quase fantasmagórico, tem me rendido alguns dissabores e outras tantas surpresas: emails de pessoas “poderosas” botando pressão para me silenciar através de processos. Ou emails de pessoas comuns, que ralam muito para pagar suas contas, e que se sentem amparadas quando nos identificamos  na mesma impotência contra um sistema que trapaceia ou pisa em cima.

É convivendo virtualmente com milhares que aumenta minha compreensão sobre o ser humano e sua capacidade de barbárie contra o Outro, o diferente, o que não cabe na compreensão mediana do Grupo que exclui, que não compreende como  e  porque não ganhar dinheiro com um blog, já que anda por aí incomodando tanto. E tantos.
Na verdade, descubro impressionada como os grandes e pequenos poderes se interligam para silenciar ou excluir todo aquele que não segue a acadêmica cartilha social.

Inclusive, os que se dizem amigos.

* Minha cronica nos jornais A Hora de Lajeado e Opinião, de Encantado.

dezembro 03, 2011

PAULO LEMINSKI

ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo 

ele veio
meio a esmo
praticamente 
não disse nada
e ficou por isso mesmo 

TULIPA RUIZ

MEMÓRIA E FUTURO


A maior tirana da minha vida é a memória.
De que adianta pensamentos lúcidos se a gente não tem como guardá-los?
Quando se precisa deles é como procurar a tesoura, os óculos ou uma das meias que se escondeu da outra e que estão perdidos no caos doméstico.
E é por isso estou sempre escrevendo o que penso. E se às vezes não é porque esqueci onde guardei a caneta e o bloquinho.
Todos nós sabemos que não dá para guardar tudo na memória, do contrário ficaríamos loucos. Todas as horas e os minutos de frustrações, raiva misturadas as alegrias e prazeres, tudinho sempre na ponta da língua ou da memória - impossível!
Mas por que, por que meu Sinhô, não consigo gravar o nome das pessoas? Não consigo lembrar de situações que vivi aos 9 ou aos 17 anos? Não consigo nem lembrar de lugares que visitei há dez anos?
É uma traição, é uma vingança, uma humilhação das minhas sinapses? É isso?
“Somos o que nos lembramos” – ou algo assim, sempre tem alguém lembrando o que somos a partir da nossa fome, da nossa leitura e agora do nosso passado.

Então sou uma barata e acho que deveria reler “Metamorfose” do Kafka, só para clarear as idéias. A minha memória também é surreal. Parece que vive de contornos embaciados. “Talvez estive lá.... talvez era eu... talvez conheça ela...” Tudo é talvez e eu sou uma barata tonta às voltas com os vazios existenciais.
A única coisa que a memória ainda não me atraiçoou é quanto ao aroma e ao paladar.  O que me torna uma pessoa muito chata para perfumes e temperos.
Viram? Dificilmente levo vantagem.
Então: é a nossa memória que conta  as histórias das nossas vidinhas. Cada um com a sua maleta pessoal de recordações. Até podemos dividir lembranças, mas assim como a nossa impressão digital, ela é única de cada um, porque a impressão vivida, mesmo em conjunto,  é exclusiva de cada um de nós. É única, pessoal e intransferível – feito senha. A memória é uma aquisição individual. Até o sangue, a pele, o pulmão você divide, mas não a memória. Não existe outra idêntica a sua.
Só que, juntos formamos grupos, comunidades e vamos atrás de objetivos afins: gostamos de pescar, de fazer trilha, de cozinhar, de ler poesia, de jogar carta e apostar. Então aposto que juntos formamos uma cidade e logo criamos uma identidade.

Então, qual a identidade aí em Arroio do Meio? Em Teutônia? Encantado?
Ora, Santa Clara do Sul não pode ser só a terra da Shirley.
Lajeado não pode ser só a terra das oportunidades imobiliárias.
E Cruzeiro do Sul não pode ser só a terra dos Azambujas.

As cidades têm memória, tem uma história a preservar, assim como uma aldeia indígena, uma comunidade quilombola ou uma prainha de pescador. São costumes, tradições e hábitos que dignificam o estofo cultural de geração para geração e formam a  memória coletiva, nos orgulhando ou não.

 Mas, do jeito que o progresso se arma de cimento e asfalto, do jeito que o estresse toma conta dos governos híbridos; do jeito que os líderes andam se deprimindo e insone por suas falcatruas, ó, vou dizer enquanto ainda me lembro, essas coisas todas contribuem para a perda da memória. Qualquer médico confirma os sintomas e as causas.

Cuidem-se, afinal é sabido que o coração implora aos nossos bilhões de neurônios que eles se lembrem onde cada um de nós deixou ou escondeu  a passividade, o conformismo e a responsabilidade pelas coisas que hoje estão acontecendo nas cidades.
E com cada um de nós.

* Minha crônica nos jornais A Hora do Vale, de Lajeado  e Opinião, de Encantado.