abril 29, 2019

GILBERTO FREIRE

"Sem um fim social
o saber será a maior futilidade."

SIGO NO FEISSIBUQUI

JANDIRO ADRIANO KOCH


“Maiara e Maraisa declaram que  'não são feministas'.

Engraçado isso. Já andei bastante por aí e nunca - nunca! - encontrei uma mulher que não fosse feminista.

Feminista radical, feminista cristã, feminista liberal, feminista marxista, feminista anárquica, feminista negra, ecofeminista, feminista interseccional [....], mas claramente feminista.

Nenhuma mulher que encontrei assumiu que gostaria de manter uma posição subalterna, sem direito a voto, expressão, educação [...], coisas juntas ou separadas.

Mas já encontrei muitas mulheres ignorantes sobre feminismo e suas diversas manifestações, mulheres em uma névoa conceitual produzida por astrólogos como Olavo de Carvalho e por machistas reclamando de supremacia feminina.

Que mancada de Maiara e Maraisa.

Só um 'zero' em filosofia ou sociologia faz acatar sua declaração sem verificar o claro paradoxo.”



KÉDMA FERREIRA


Nazistas, em 1933, na Alemanha, queimando livros de filosofia e sociologia com o fim de consolidar a censura aos professores sob pretexto de “ensino ideológico".

ANDRÉ TRIGUEIRO



  

“Quando alguém pergunta para que serve a filosofia,
a resposta deve ser agressiva, visto que a pergunta pretende-se irônica e mordaz.

A filosofia não serve nem ao Estado, nem à Igreja, que têm outras preocupações.
Não serve a nenhum poder estabelecido.

A filosofia serve para entristecer.
Uma filosofia que não entristece a ninguém 
e não contraria ninguém,
não é uma filosofia.

A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso.

Não tem outra serventia a não ser a seguinte:

denunciar a baixeza do pensamento sob todas as suas formas.

Existe alguma disciplina, além da filosofia, que se proponha a criticar todas as mistificações, quaisquer que sejam sua fonte e seu objetivo?

Denunciar todas as ficções sem as quais as forças reativas não prevaleceriam.
Denunciar, na mistificação, essa mistura de baixeza e tolice que forma tão bem a espantosa cumplicidade das vítimas e dos algozes.

Fazer, enfim, do pensamento algo agressivo, ativo, afirmativo.
Fazer homens livres, isto é, homens que não confundam os fins da cultura com o proveito do Estado, da moral, da religião.

Vencer o negativo e seus altos prestígios.

Quem tem interesse em tudo isso a não ser a filosofia?

A filosofia como crítica mostra-nos o mais positivo de si mesma:
obra de desmistificação.”

(Deleuze, "Nietzsche e a filosofia", 1987, p. 87)



ANGEL BÓLIGAN

Urbanização

É a cara de Lajeado...  Duas grandes construtoras digladiando-se para ver quem destrói mais essa cidade, arrasando com casas, derrubando arvores, terminando com quintais e quarteirões inteiros. Mentes tacanhas...

 Penso em Saint-Exupéry:


“Assim vai a vida. A princípio enriquecemos.
Plantamos durante anos, 
mas os anos chegam em que o tempo destrói esse trabalho, arranca essas árvores.
Um a um, os companheiros nos tiram suas sombras.
E aos nossos lutos mistura-se então a mágoa secreta de envelhecer...”

TURMA 11

(foto Julia Eckert)



Em 1985, o premiado escritor gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, com 20 romances traduzidos em várias línguas, iniciou em Porto Alegre a Oficina de Criação Literária para capacitar escritores de contos, novelas e romances.”

Fui da turma de 1993.

“Um dos pré-requisitos para o candidato ser recebido nessa concorrida academia de penas extraordinárias é renunciar ao talento. (..) Um escritor completo não precisa disso. 

(...) Trata-se de um conceito que separa os escolhidos do resto. 
Prefiro ‘vocação’. Qualquer um pode escrever se assimilar uma técnica.”

Não fui aluna conceito A.  Um alívio saber que o querido professor aposta em “vocação”.


Eliana Guedes, Hilda Acevedo, Nelson Diniz, Marcelo Restori, Bárbara Arisi, Silvia Pohl... escrita afiada, guardo saudades de todos eles. 

Assisti à palestra do meu ex-professor nos Diálogos da Contemporaneidade, na Univates. Encheu meu coração de (in)certezas.

Agora Assis Brasil dá uma segunda chance para seus alunos,  e para quem curte esmiuçar parágrafos e metáforas: “Escrever ficção: um manual de criação literária”, pela editora Companhia das Letras:

 "Mais que um guia, consiste em um estojo de ferramentas. Uma coleção de tudo que aprendi na interação com meus alunos.

O compêndio pode servir como um manual, com dicas úteis para conquistar o sucesso na literatura."

Seu conselho: "Seja claro e escreva com simplicidade".

Roland Barthes, categórico: "A escrita estabelece o elo entre a criação e a sociedade."

Fonte: ISTOÉ

QUESTÃO DE TEMPO






já fui
traída
sacaneada.
usaram meu cpf.
já fui
mal falada
subtraída
intrigada.
paguei e não recebi.
levei tapa na cara.
surra de cinta
amigdalectomizada.
já fui
a última a saber.

continuo trouxa.
         



abril 27, 2019

LUIZ INÁCIO DA SILVA

“Você sabe que eu não tenho ódio,
não guardo mágoa, 
porque na minha idade,
quando a gente fica com ódio, 
a gente morre antes.”

UM ANO DEPOIS: A PRIMEIRA ENTREVISTA


O ex-presidente do Brasil conversa durante duas horas e dez minutos com jornalistas da Folha de São Paulo e El País, em sua primeira entrevista desde a prisão, em abril de 2018. 

A entrevista chegou a ser censurada pelo Supremo Tribunal Federal e só foi permitida após uma batalha judicial.

Lula,73 anos, falou da vida na prisão, da morte do neto, do governo Bolsonaro, das acusações de corrupção, da Lava Jato, dos militares, dentre outros assuntos.

Destaco alguns trechos, com pesquisa de imagens por minha conta, quase todas do fotógrafo Ricardo Stuckert, disponíveis na internet.




 “Agora pergunte o seguinte: 
imagina se todo mundo nesse Brasil fizesse uma autocrítica.

A elite brasileira deveria estar fazendo agora uma autocritica.

‘Puxa vida, como é que a gente ganhou tanto dinheiro no Governo do Lula?
Como é que o povo pobre vivia tão bem?
Como é que o povo pobre estava viajando pro Piauí, pra Sergipe, pra Garanhuns, e agora nem de ônibus pode viajar?’.

Vamos fazer uma autocrítica pelo que aconteceu em 2018 naquela eleição.
O que não se pode é esse país estar governado por esse bando de malucos.”

MAS O SR. LAVA A SUA PRÓPRIA ROUPA, LAVA SUAS COISAS? E A PRISÃO MUDOU O SR. EM ALGUMA COISA? 
É engraçado porque eu sempre tive vontade de morar sozinho. Quando eu fiquei viúvo a primeira vez, em 1971, eu fiquei bravo com a minha mãe [dona Lindu] porque meu sonho era alugar uma quitinete e morar sozinho. A minha mãe morava com a minha irmã, a minha mãe abandonou a minha irmã, foi na minha casa e exigiu que eu alugasse uma casa para morar comigo. E eu morei com a minha mãe durante três anos e meio. Sabe aquele sonho de jogar a cueca para qualquer lado a meia para qualquer lado, a camiseta, não ter que prestar contas, não ter ninguém atrás de mim, "recolhe, põe no chuveiro"?
Hoje, eu faço isso. Mas eu preencho o meu tempo vendo muita coisa.


O SR. LAVA SUAS ROUPAS? 
Não. Eu mando para o meu pessoal lavar. 
Mas eu curto a solidão tentando aprender, mentalizar a minha espiritualidade, tentando gostar mais do ser humano, tentar ficar um pouco mais humano. 
Eu acho que eu vou sair daqui melhor do que eu entrei. 
Com menos raiva das pessoas. 
Eu vou sair um cidadão bom daqui. Bom e motivado para brigar. 

 O SENHOR SE SENTE INJUSTIÇADO POR EMPRESÁRIOS QUE CRESCERAM EM SEU GOVERNO FAZEREM DELAÇÕES PREMIADAS CONTRA O PT E O SENHOR?

(...)  “Quem sabe um jornalista bem informado como você possa ir aos Estados Unidos saber qual é a intromissão do Departamento de Justiça americano nesse processo do Brasil. Qual é o interesse dos americanos na Petrobras. 

Você sabe qual é, mas temos que investigar. Temos que ir atrás. Eles nunca engoliram o fato de eu dizer que a Petrobras era nossa, que o petróleo era nosso, que o petróleo seria o passaporte do futuro, que 75% dos royalties da Petrobras iria para cuidar da educação, e que a Petrobras teria 30%. Ou seja, quem quisesse entrar teria que pagar o que nós quiséssemos. 


Aí o WikiLeaks [site que compartilha dados secretos na internet] vaza aquele documento do [senador José] Serra ligando para a Chevron [petrolífera dos EUA] dizendo "venha para cá [Brasil] que nós vamos dar um jeito [de mudar o modelo]. E deram um jeito.

Como esse país vai para a frente se não tiver gente que se respeita, que goste do país e que entenda que um país que tenha as riquezas minerais que o Brasil tem, a floresta, o potencial de água doce, de petróleo, quase 17 mil quilômetros de fronteira seca, 8 mil quilômetros de fronteira marítima, petróleo a 200 milhas... foi a gente anunciar o pré-sal que os americanos recuperaram a quarta frota que funcionou na Segunda Guerra Mundial. 

Qual foi a resposta que dei para os americanos? 
Criei o Conselho Sul-Americano de Defesa para juntar e não ter intromissão dos Estados Unidos. 


 A coisa que mais acontece no Brasil é denúncia. E sou favorável que todas as denúncias feitas sejam apuradas. Investiga, investiga, apura, apura, faz o que quiser.

Eu estou achando estranho essa tal dessa milícia do Bolsonaro. Cadê aquele cidadão dos R$ 7 milhões [Fabrício Queiroz, ligado a Flávio Bolsonaro]? Cadê a imprensa que não está atrás do Queiroz?

Então, é o seguinte, o Brasil tem dois pesos e duas medidas.

Eu, ex-presidente da República, sem nenhuma prova, foram na minha casa, recebi vários policiais. O seu Queiroz não atendeu a nenhum pedido [para depor no Ministério Público] e a Polícia Federal não foi buscar ele ainda.

Os policiais do Exército dão 80 tiros num carro, matam um negro. E vai [a imprensa] perguntar para o ministro da Justiça e ele fala: “Isso pode acontecer”. 

É por isso que eu não tenho o direito de baixar a cabeça, de ficar esmorecido, fraquejar.

(Foto Wilton Junior)

COMO VÊ O PROTAGONISMO DOS MILITARES?

Quando sair daqui eu quero conversar com os militares. Tenho vontade de perguntar para o chefe da Marinha, da Aeronáutica, do Exército, qual presidente da República que fez mais para eles do que eu fiz. 

Quero perguntar para eles qual a razão do ódio que eles têm do PT.

Quando eu cheguei na Presidência, em 2003, soldado brasileiro saía [do trabalho] 11 horas porque não tinha dinheiro para almoçar. Recruta não ganhava salário mínimo. Além de pagar salário mínimo, dar almoço para eles, ainda criei o soldado cidadão para dar curso de formação.

Pergunta para o general o que era o batalhão de engenharia do exército brasileiro. As máquinas estavam todas quebradas, não tinha nem caminhão. Pergunta para eles o que eu fiz.

Pergunta para a Aeronáutica como era a situação quando eu cheguei na Presidência. O avião da presidência era chamado de "sucatão". Você ia viajar para a Europa e quando parava em Cabo Verde, nas Ilhas Canárias, tinham 18 mecânicos dentro do avião para catar parafuso que caía no aeroporto.
(Foto Agencia Brasil)

Eu quero perguntar para a Aeronáutica como era avião que eu emprestava para levar autoridade em casa. Quando levantava voo em Brasília, pegava fogo no avião. Tinha que descer rapidamente, senão explodia. O Celso Amorim perdeu uma pasta porque ela queimou dentro do avião.

Quando eu comprei o avião novo [para viagens presidenciais], é porque eu me respeito. Eu se pudesse ia de jegue para a Europa. Como eu não podia, tive a coragem de comprar um avião. Hoje eu me arrependo de não ter comprado um Airbus 140. Comprei o menor, devia ter comprado um grandão.

Peguei 15 ou 20 aviões da [empresa aérea] Rio-Sul, que não pagou o BNDES, e dei para a Aeronáutica. Deixei a Aeronáutica com cara de força aérea. 


Pergunte para a Marinha. Eu fui visitar o [navio] Barão de Teffé na base brasileira na Antártida. Eu cheguei lá, [concluí que] um país grande não pode ter um navio de pesquisa daquele. Se o cara entrasse com a barriga, a bunda ficava para fora num lugar que tem que fazer pesquisa. Nós autorizamos o almirante a comprar um navio descente. 

O governo não dava dinheiro para enriquecer urânio. Pergunta para ele quem garantiu R$ 30 milhões por mês para funcionar Caparaó. Eu não sou contra militar fazer política, não. Quer fazer política? Sai do Exército, vai para a reserva. 

Aliás, é importante lembrar que a política no Brasil começou com o Marechal Deodoro da Fonseca. Eles fazem política no Brasil, só não tiveram participação no poder decisivo no governo do Fernando Henrique, no meu e no da Dilma [Rousseff]. No restante [dos governos brasileiros], eles tiveram.

Pode ser que eles não voltem para a caserna. Se você tiver um militar tecnicamente competente e especialista numa coisa, não tem problema que ele vá para o governo. O que não pode é do jeito que tá. Não dá. Não dá. Eu não sei a qualificação das pessoas, que estão lá. 

Agora mesmo eu vi no noticiário que o ministro do Meio Ambiente  desmanchou não sei o que lá no Instituto Chico Mendes e colocou não sei quantos cabos, soldados, militares. 

Para cuidar de meio ambiente, você coloca gente especialista. Tem especialista da Polícia Federal, do Ministério Público, coloca técnico, coloca especialista, não tem que militarizar o governo. 


Não sou contra eles participarem do governo, não. Mas militar tem que saber que eles têm um papel a cumprir pela Constituição. 

O militar tem que cuidar dos interesses desse país e da defesa da nossa sociedade contra os inimigos externos. 

Temos, entre fronteira seca e marítima, quase 22 milhões de quilômetros quadrados, é muita coisa para os militares cuidarem. 

A burocracia, vamos deixar para o burocrata.

 O SENHOR TEM ACOMPANHADO OS MOVIMENTOS DO GENERAL MOURÃO? 

Eu tenho. Eu não posso falar porque eu também não conheço o Mourão. Eu sou agradecido, por exemplo, por um gesto dele na morte do meu neto. 

Ele foi um cara que disse que era uma questão humanitária visitar [ir ao velório do] meu neto. Diferentemente do filho do Bolsonaro, que postou uma série de asneiras no Twitter [dizendo que a morte do menino vitimaria o ex-presidente].


Eu estou vendo a briga [entre Mourão e a família de Bolsonaro].
Eu vou acompanhando. Ninguém nunca mais vai ter nesse país uma dupla harmônica como Lula e [o ex-vice-presidente] Zé Alencar. 

Um sindicalista e um empresário que fizeram esse país ter orgulho. Que fizeram esse país crescer. 

Eu duvido que tenha um empresário nesse país tratado com mais respeito, em qualquer governo, do que por mim. Duvido. 

A diferença é que eu tratava ele bem, mas também tratava os sem-terra, os sem-casa, os moradores de rua bem. Tratava a sociedade brasileira.
“... isso eu aprendi com a dona Lindu [mãe do ex-presidente], que nasceu e morreu analfabeta:
dignidade e caráter não têm em shopping, em supermercado e você não aprende na universidade. Vem do berço.

E isso eu tenho, demais. E não abro mão. Esse é meu patrimônio.

“...é preciso aprender a ouvir coisas de que você não gosta. Suportar os contrários. Conviver na diversidade. Ele precisa aprender essa lição mínima.”

“E graças a Deus o povo brasileiro me fez. Até hoje tenho muito orgulho de ter sido considerado o melhor presidente da história do Brasil. Carrego isso com muito orgulho. Ninguém vai tirar isso do povo brasileiro, e quem quiser ganhar de mim, que faça mais [do que eu], não é me xingar.”



“Nós estamos vendo [o governo] destruir a educação, cadê o pessoal que não se manifesta? Eu acho que as pessoas têm que acreditar que depende de nós, depende de cada um. Não adianta ficar xingando o Bolsonaro.

Porque ele não vai fazer. Quem coloca o ministro da Educação que ele colocou não gosta de educação. Quem coloca o cara [ministro] do Meio Ambiente que ele colocou não gosta de meio ambiente. Quem coloca o Guedes na economia não gosta do povo.

Em vez de ficar esperando que o Bolsonaro resolva o nosso problema, nós temos, enquanto sociedade civil organizada, que começar a nos mexer, a lutar, a brigar pelos nossos interesses."



E no Brasil, nós temos que fazer isso. Estão tirando os nossos direitos. Estão desmontando, simplesmente destruindo os nossos direitos.

Eles são destruidores do futuro dos nossos velhinhos. E essas pessoas acreditam [na reforma].

Eu nunca vi unanimidade nos meios de comunicação [como essa ] favorável à reforma. Não tem um cara contrário que vá aos debates.

É só gente favorável. É impressionante. Voltamos a ter um pensamento único, favorável à reforma.

Esse Guedes daqui a pouco vai embora. Na hora em que ele cair, vai morar nos EUA. Ninguém vai lembrar dele. Mas quem vai ficar com uma vida desgraçada são mulheres e homens que trabalharam a vida inteira nesse país. A hora de lutar é agora.

SE O SENHOR ALGUM DIA SAIR DAQUI...

Eu vou sair, querida. Espero que você esteja aqui.


(...) quero agradecer a vocês dois pela briga, pela tenacidade e espero que tenhamos outras entrevistas. Se deixarem. 
Muito obrigado.”



abril 26, 2019

QUINO


 “Mafalda é uma menina 
que não se cala nunca,
mas o que a torna uma feminista
é que acima de tudo 
acredita na equidade.” 

DO MEU BLOQUINHO


o verso subvertido
arruinou meu espírito.
subver-ter é revolucionar
nunca foi tão solitário a revolução das perdas
subver-dor
revolvo instintos de insurreição
canalhas,
canalhas,
canalhas,
descaso na tua cara
espinhos na tua língua.

PORQUE SOU VICIADA NO FEISSIBUQUI?


Fernando Rabelo, fotógrafo

© Acervo do Instituto Dom Helder Câmara. 
Dom Helder Câmara visitando os pobres. Brasil. Sem data.


“Se der pão aos pobres, 
todos me chamam de santo. 
Se mostrar por que os pobres não tem pão, 
me chamam de comunista e subversivo”.

Dom Hélder Câmara

POR QUE SOU VICIADA NO FEISSIBUQUI?


Cartum de Luc Descheemaeker

Jorge Furtado, cineasta:

"Eles não são tão imbecis quanto parecem.

Quem contou esta história, que eu lembre, foi o Jaime Lerner (o cineasta, não o prefeito de Curitiba).

Numa escola técnica de Israel os alunos reclamaram ao professor que perdiam muito tempo estudando ciências humanas, literatura, filosofia, sociologia, artes, história, eles queriam aprender coisas práticas, aquele era um curso técnico.

O professor prometeu pensar no assunto e passou um trabalho para as férias: eles teriam que sugerir e planejar o método mais eficiente, seguro e barato de transportar, do norte para o sul do país, 5000 litros de sangue por mês.

Os alunos voltaram das férias com soluções muito engenhosas, correios aéreos, caminhões refrigerados, sistemas de canalização, drones.

O professor analisou com atenção todas as propostas e declarou que, como nenhum deles tinha perguntado para que ia servir aquilo, eles teriam mais aulas de ciências humanas.

Os imbecis que querem "retorno imediato" com a educação e a escola não são tão imbecis quanto parecem.

Por trás da estupidez, preconceito e maldade visíveis, há poderosos interesses financeiros, que vão desde a venda de lixo digital disfarçado de "educação à distância", até a ideia de que a escola deve formar mão de obra barata e burra.

Não é só estupidez, é um projeto de destruição do país."

POR QUE SOU VICIADA NO FEISSIBUQUI?

Do fb de Sylvia Moretzsohn, jornalista

"Meu nome é Aton Fon Filho. Em 1974, abril, eu estava preso na Ilha Grande.

No dia 23, fui levado para o Presídio Hélio Gomes, no Rio de Janeiro e, no dia 24, para a Polícia do Exército (PE) da Barão de Mesquita.

No dia 25, fui trazido para São Paulo e, já à noite, levado para o quartel da PE na Abílio Soares, onde fiquei isolado numa cela no corredor dos presos, que estava vazio.


Ficou claro que o contato comigo era proibido e até para entrega das refeições vinha até a cela o sargento comandante da guarda acompanhado de outros praças.

No final da manhã, houve uma discussão sobre a limpeza do corredor e das celas e um grupo de soldados entrou no corredor. Na passagem, um deles jogou uma laranja dentro de minha cela, sem que eu pudesse ver quem fora.

Eles saíram e tornaram a entrar no corredor das celas carregando baldes, vassouras e esfregões. Na passagem — e, de novo, sem que eu visse quem o fazia — outra laranja foi jogada na cela e um pão em cima da cama.

Terminada a lavagem, eles foram se retirando enquanto um deles, um cabo, fazia a vistoria do trabalho realizado.

Ao passar em frente da cela em que eu estava, esse cabo, um jovem, se aproximou e me perguntou se o pão tinha caído no chão. Eu respondi que não, que tinha caído na cama e agradeci pelas laranjas e pelo pão.


Aí esse rapaz, esse cabo, me perguntou se eu tinha visto o que tinha acontecido em Portugal. Eu disse que não e ele explicou: 

"Esse povo de vocês, de lá, ontem derrubou o governo, um ditador que tinha lá."

Foi só o que eu soube do 25 de abril, no dia 26 de abril, graças à solidariedade de um jovem cabo que escamoteou para minha cela e me deu de presente duas laranjas, um pão e a certeza de que as mais ferozes ditaduras podem ser derrubadas."

* fotos pesquisadas na internet.

LOGO HOPES


A maior livraria flutuante do mundo passará por cinco cidades brasileiras para mostrar mais de cinco mil títulos a preços acessíveis. O navio deve atracar em Santos, Rio de Janeiro, Vitória, Salvador e Belém.

Eu atraco em feirinhas por aí... E me sinto como se afrontasse os visitantes. Posso imaginar o assombro: "o que essa criatura ainda quer com livros?"

abril 16, 2019

ZIRALDO *

“Há notícias que não precisam ser dadas,
e a missão do jornalista não é dar todas as notícias.”

* quando soube o motivo do suicídio do escritor Pedro Nava.

"QUAL O SENTIDO DA VIDA?"



A partir de maio, uma vez por mês, vou para o Fronteiras do Pensamento, um ciclo de palestras  com diversos intelectuais de diferentes países e áreas de conhecimento para refletir sobre o sentido da vida.


Na Folha de São Paulo, algumas pessoas responderam a essa indagação. Selecionei três:



Paula Barrioso, enfermeira que cuida de pacientes terminais:

“Tem a ver com a questão do coletivo, com servir. Minha profissão está muito ligada a quanto minha existência é importante para outras pessoas. Ajudar o paciente a passar por um processo doloroso e chegar à morte de uma forma digna e confortável traz sentido para a minha existência.”

Osmair Camargo Cândido, coveiro: 

“O homem é um animal social, não pode viver sozinho. Então o sentido da vida não pode ser para você, tem de ser para o outro. É buscar algo para se completar, e o homem se complementa no outro, sempre busca algo que possa suprir sua carência.”

Jucirlei F. de Oliveira, motorista de aplicativo:

“O sentido da vida é que só estamos aqui a passeio, então temos que ser felizes, desfrutar e nos divertir ao máximo, sem ofender ou maltratar ninguém.”

CARTUNISTA BENETT


* O que será que você pensa, querido leitor oculto? 
   Querida leitora oculta?





CONTRASTES

Uğur Gallen nasceu e vive hoje na Turquia. Há anos viu a Síria mergulhar em uma guerra civil que afetou a vida de milhões de pessoas. 
 Ele se incomoda com a desigualdade e os contrastes no modo de vida de cidadãos que moram a pouca distância uns dos outros, 
 mas praticamente vivem em mundos diferentes.
 Uğur fez montagens para criar uma série fotográfica impactante
  para evidenciar esse contraste. 
 A primeira parte fez sucesso e estimulou o turco a continuar com o trabalho, 

capaz de nos alertar novamente para as brutas desigualdades que afetam o planeta.

NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA

 Lajeado apoiando a ditadura militar, 1974
Contra a ditadura militar:
Clarice Lispector, Carlos Scliar, Oscar Niemeyer, 
Glauce Rocha, Ziraldo,  Milton Nascimento.
1968