UM LONGO 1º DE ABRIL
Em 1964, eu tinha 6 anos e brincava no pátio do Grupo Escolar Fernandes Vieira.
- Olha a aranha no teu pé!
- 1º de abriiiiiiu!
Mas não era. Naquela quinta-feira o país foi implodido por um golpe militar, com João Goulart, presidente eleito pelo voto direto, deposto. E os milicos encarrilharam seus autoritários e corruptos governos por longos 21 anos. O general Castello Branco foi um dos articuladores do golpe.
Os medíocres de farda acreditavam que havia uma conspiração “comunista em marcha”.
Começavam as perseguições aos civis e aos direitos
constitucionais, um regime de censura na imprensa e artes.
Entre assassinatos e desaparecimentos, leio no wikipedia, 434 pessoas. Dezenas de operários, estudantes e professores, bancários, jornalistas, agricultores, sindicalistas. Até alfaiate, sapateiro, costureira, uma dona de casa, um taxista, um pianista e um médico, entre tantos e diferentes profissões.
Em agosto de 1979 foi sancionada a lei 6683, que concedia Anistia aos cassados pelo regime militar. Mas também aos torturadores.
Só em 1988, com a nova constituição, o povo respirou aliviado.
Abril é um mês insólito. Comemoramos o dia do descobrimento do Brasil ou o início do genocídio indígena? Tem o dia mundial da saúde e feriado pelo assassinato de Tiradentes. Tem o dia do jornalista e o dia da mentira...
Infelizmente, partiu de um escritor, a expressão “ditadura branda”.
Há 10 anos, Domingos Pellegrini usou o termo durante um debate na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília.
Na época, o escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão, o primeiro a se indignar:
"Ditadura, seja onde for, é odiosa. Vidas foram sacrificadas, pessoas foram mortas, uma geração foi sacrificada. Não dá para dizer que é branda. Não dá para dizer que agradeço à ditadura, não agradeço nunca".
Durante os anos de chumbo, Lajeado não só aprovou como apoiou o momento histórico, ao ponto de homenagear um traíra ao dar nome um colégio estadual.
Anos depois, a cidade aplaudiria
Bolsonaro por seu voto contra a continuidade do governo Dilma, também eleita
democraticamente:
“Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim."
E não se envergonha.
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