setembro 15, 2010

Jose Castello

Paulo Fogg

"O cronista vê não o que os outros não vêem,
mas o que os outros, mesmo vendo, desprezam."

BALANÇO GERAL

O filósofo Walter Benjamim acreditava que o cientista da história é “uma voz despencando no vazio”, enquanto esta escrevinhadora vive a ilusão de que tudo é importante, tudo conta e merece ser contado, pois todo o dia é o último dia e nós somos aqueles “ seres que aprendemos a ser”, conforme o título do livro de Dinamara Garcia Feldens que, entre outras reflexões, assegura: “nunca escreve-se histórias, sempre se finge” e concordo plenamente, entre tantas coisas vividas dou graças a Zeus que findou Agosto. Sobrevivi.

Explico: essa semana faz exato 1 ano que iniciei no jornal A Hora, em Lajeado e no Opinião, em Encantado.

Na estréia saudava o seu Basílio, assinante do jornal e morador na Linha Boa Esperança, interior de Cruzeiro do Sul. Escrevia sobre as coisas boas da colônia e minha vontade de morar no campo. Não deu em nada, como alguns já sabem. Sim, talvez sempre se finja um desatino.

Há 1 ano, a professora Lea, leitora das minhas vizinhanças, imaginou que eu escreveria sobre as coisas do interior e para seu desaponto, nunca mais o fiz.

Há 1 ano, a capa do jornal noticiava as enchentes na região, a Festa à Fantasia, o Lajeadense que enfrentava o Inter B e os idosos que se conectavam ao mundo virtual em Arroio do Meio. Agora, a festa dos fantasiados aconteceu no sábado passado sem muito alarde; o Lajeadense vendeu o estádio e ainda nem começaram as obras do novo; e os velhinhos? Uns subiram aos céus, outros desistiram e foram jogar bocha, alguns continuam a navegar na internet e nada mais foi o que seria.

Há 1 ano, a Eliane tomava o ônibus todos os dias no Fão. Nas quartas-feiras chegava com a leitura em dia desta coluna. Hoje, perdi o contato porque mudou de emprego.

Há 1 ano, feito uma discípula de Darwin, me perguntava se existia Deus. Continuo batendo nessa tecla apesar de suspeitar que faz parte da natureza humana compreender rasamente o infinito.

Há 1 ano, minha amiga tinha arranjado um amante. Adivinhem? Ela está sozinha. Ele está sozinho. A ex-esposa casou de novo e feliz espera um bebê!

Há 1 ano, escrevi que a imaginação é a verdadeira fogueira da criatividade. Hoje? Sinceramente? Ando sem. E o desânimo é uma cachoeira gelada sobre a capacidade. De nada adianta ser criativo se você não põe em prática suas idéias. Lembram da voz despencando no vazio no início da crônica? Pois é: autocensura liquida de vez com a originalidade. E a falta de eco também.

Há 1 ano, pensava que o mundo se dividia entre uns e os outros. Era dualista: bem ou mal, preto ou branco, tatuados e não tatuados e por estas teorias mancas seguiu meu olhar. Não evoluí: continuo pensando assim, desculpe.

Então chegou dezembro e abordei a vaidade. Duas vezes!

As falcatruas do governo ocuparam umas três ou quatro crônicas. Muito pouco.

Indiquei dois filmes que duvido, assistiram. E leram “A Cartomante” de Machado de Assis?

O triste caso da menina Nardoni. O fim do mundo em 2012. A Copa do Mundo. Se prefeita fosse... Não necessariamente nessa ordem. Casamento e sexo ocuparam cinco crônicas. Comparando com os temas do Mazzarino, isso é quase nada. Ele com as suas morenas e eu com as minhas panelas e insônias.

Já dizia um sujeito chamado Berkeley:

“Somos nós os que levantamos a poeira e depois nos queixamos dizendo que não podemos ver.”

Tim-tim!

*Crônica de hj no A Hora.