ÜBERDRUSS
novembro 24, 2021
DIA DE AUDIO CRÔNICA
No início de novembro, postei no feissi o cartum-homenagem do Aroeira:
um piano sem Nelson Freire.
Escrevi que tinha assistido ao Freire em uma salinha de musica no CEAT, nos anos 90.
E que não
havia mais do que 20 pessoas.
Logo, Vicente Breyer, nosso pianista talentoso, corrigiu. Era Miguel Proença!
Ahhh... que rateada a minha. Corri para o feissi e deletei na
maior cara dura.
Mas ó... Naquele concerto do CEAT realmente não havia mais do que 20 pessoas, mesmo - confirmou Vicente.
Depois ... Li que com o escritor Luis Fernando Veríssimo também aconteceu o mesmo.
"Adoro aquela crônica sua dos nomes estranhos."
Passou o jantar pensando que conversava com o pianista... Miguel Proença!
Depois LFV escreveria a crônica: "Patetice".
Nelson FreireQuem contou essa historia foi o jornalista Mauro Ventura, revelando que Freire recusava o estrelato e a papagaiada de estar entre os maiores pianistas de todos os tempos:
Como se a gente não soubesse que o fim de tudo é... cinzas ou vermes sob uma camada de terra.
Né?
Trilha sonora: Sonata Nº 11, de Mozart, com Nelson Freire.
novembro 17, 2021
MARIA LÍDIA MAGLIANI
Maria Lídia Magliani nasceu em Pelotas em 1946.
Morou em São Paulo, Minas Gerais e no Rio, onde morreu em 2012.
Acervo UFRGS
A arte de Magliani foi influenciada pelo movimento feminista.
Museu de Artes do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, Porto Alegre.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Descobri sobre Magliani na biografia bacana de Joao Gilberto Noll, escrita por Flavio Ilha.
JOÃO GILBERTO NOLL
João Gilberto Noll não morreu de causa natural, foi assassinado pela sociedade.
Foi assassinado pela indigência cultural do Estado.
Foi assassinado pelo total desprezo de nossas instituições pelos grandes artistas e narradores.
Foi assassinado por ausência de incentivo e de apoio. Foi assassinado pelo orçamento imaginário da Secretaria Estadual de Cultura.
Foi assassinado pela inanição do Instituto Estadual do
Livro.
Em seu enterro na noite de quarta passada, na capela 9 do Cemitério João XXIII, havia menos de 50 pessoas para se despedir de um dos maiores escritores gaúchos de todos os tempos.
Não apareceu prefeito ou governador, não apareceu
ministro ou deputado federal, não apareceu presidente da Assembleia ou da
Câmara Municipal.
Os políticos não leem mais? É isto? É artigo de regimento interno?
Não se decretou luto no Estado.
Não existiu nenhuma mobilização popular.
Não teve cobertura da imprensa no velório.
Ele sequer aparece nos livros de nossas escolas como autor fundamental.
Ele não é listado como autor obrigatório em nossos vestibulares.
Ele não recebeu nenhuma honra nos últimos cinco anos – a mais recente foi como autor homenageado do Festipoa, em 2011. As novas gerações já não o conhecem, pois simplesmente não o estudam.
Noll ficou mergulhado no ocaso, logo ele que se mantinha
integralmente da literatura e dependia de convites para palestras, recitais e
conferências. Sua única fonte vinha a ser uma oficina de escrita criativa
esporádica.
Não me insulte alegando que ele morreu de velho.
Ninguém é mais velho aos 70 anos.
Morreu de solidão nesta cidade abandonada às bestas, onde
os livros são uma seita para pouquíssimos e corajosos.
Rio Grande do Sul virou uma Sibéria para os criadores, um exílio forçado. Ama-se esta terra platonicamente.
Não parecia que perdíamos um de nossos mitos da literatura, da estatura de um Mario Quintana, de um Caio Fernando Abreu e de um Moacyr Scliar.
Foi um enterro simples, caseiro, envolvido pelos familiares e amigos mais próximos, com apenas três coroas de flores enviadas para ornar a cabeceira do caixão. Não teve fila para se aproximar do corpo e abençoar a sua partida.
Então, não me diga que ele morreu de morte natural.
Foi
assassinado pela indiferença. Pelo desprezo. Pela desinformação. Pela tristeza
e pelo desgosto.
Como o nosso maior ganhador de Prêmio Jabuti, o mais prestigiado do país, vencedor de cinco edições (1981, 1994, 1997, 2004 e 2005), vivia na total clandestinidade em Porto Alegre?
Como permitimos a sua desaparição pública?
Ele não ganhou nenhuma alta condecoração em vida das autoridades no RS (a exceção foi o Fato Literário em 2009, iniciativa da RBS).
Não foi patrono da Feira do Livro.
Não é nome de biblioteca, dificilmente servirá para batizar alguma Casa de Cultura.
Estamos vendendo o nosso patrimônio e, pelo
jeito, não sobrará entidade nenhuma para ser nomeada. Como abandonamos à míngua
os nossos mestres?
Não venha com o atenuante de que a sua escrita era difícil, é tão difícil quanto o fluxo de consciência de Clarice Lispector que não para de crescer em vendas e ser saudada no Exterior (The Complete Stories entrou na lista dos cem melhores livros de 2015 feita pelo jornal americano The New York Times).
Sua obra – dezoito livros – continua sendo publicada pela Record. Tampouco é por carência de circulação.
Como deixamos de lado um de nossos romancistas mais adaptados ao cinema, com versões conhecidas nas telas de Harmada, Hotel Atlântico e do conto Alguma Coisa Urgentemente?
Como as mais prestigiadas universidades estrangeiras, de Iowa e King's College, lhe pagavam para vê-lo produzindo como escritor-residente, e jamais oferecemos condições para ele desenvolver a sua ficção na capital gaúcha, logo ele que residia inteiramente aqui e retratava Porto Alegre em seus livros?
Como ele era convidado a dar aula em Berkeley, nos EUA, na cátedra de Literatura e Cultura Brasileira, e nunca fora convidado para lecionar nas universidades gaúchas, logo ele formado em Letras pela UFRGS?
Como não desfrutava de espaço fixo no rádio e na TV, ele
que já foi influente colunista da Folha de S. Paulo de 1998 a 2001?
Como menosprezamos alguém que renovou a escrita e enfrentou a supremacia do regionalismo, que fundou uma escrita urbana, feita da procura nômade da felicidade e de andarilhos que apenas encontravam pátria em seu corpo?
O descaso não pode ser resultado da falta de atualidade da obra de Noll, porque ele era absolutamente pós-moderno e abordava temáticas do momento como homoerotismo, inadequação social e tolerância às minorias.
Como não zelamos por uma carreira vitoriosa de 37 anos, acostumada a projetar o Rio Grande do Sul no cenário internacional?
Ele deveria ter sido lembrado, festejado, paparicado, cuidado, mimado, protegido, acalentado, amado. Assim como Pernambuco fez com Ariano Suassuna antes e depois de sua morte. Mas não aconteceu nada.
João Gilberto Noll morreu do nosso completo nada.
Quem será a próxima vítima? Quem?
DIA DE AUDIO CRÔNICA
Vamos botar fé na moçada?
Pra ver, né?
Não consigo mais chamar o inominável de filho-da-puta.
Aliás, não chamo mais ninguém. Por que as putas são
honradas, trabalham pesado, a maioria mal remunerada. E as mães nem se fala!
Mas um filho... Um filho como esse escroto que governa o país... Como definir?
Cretino é muito pouco. Mentiroso é tão suave como uma
pluma de ganso. Psicopata tá tão batido...
Vocês viram, né?
Amazonia não pega fogo... É
úmida.
Vimos na tevê esse monstro dizer na maior cara dura - cara
de fuinha amassada. Asqueroso.
Ainda bem que temos o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais para esfregar na cara do mundo o que vem acontecendo com aquele pedaço de Brasil.
(Penso que o INPE foi o único legado positivo dos
anos 60...)
E tem os que acham balela falar sobre as queimadas na
Amazonia. To falando de gente graduada... De uma tosquice inacreditável.
Graças a Zeus que ta chegando o fim desse governo vagabundo
com seus filhos falcatruas...
Como disse Almodóvar no seu antigo filme “De Salto Alto”:
“Não precisa ter culpa para se sentir culpado.”
Não vejo hora da gente se livrar desse traste
miserável... Nunca lamentei tanto uma
facada fake.
Desculpe minha amargura pós-feriado do... do pregão republicano.
Voltei da praia
acreditando naquela máxima “Sol e sal
livram a gente de muito mal...”
Trilha sonora: E vamos à luta! de Gonzaginha, com Aldinho Trompete.
novembro 10, 2021
TRIBUTO A ARVORE
O bairro Americano tão procurado pela especulação imobiliaria...
Lindamente arborizado... Alguns construtores burros bem que tentam derrubar tudo.
Outros topam com os moradores que chegaram primeiro e plantaram as arvores e não permitem o corte.
Acho que os moradores dos apes agradecem.
“Tu que passas e ergues para mim o teu braço,
antes que me faças mal, olha-me bem.
Eu sou o calor do teu lar nas noites frias de inverno;
eu sou a sombra amiga que tu encontras
quando caminhas sob o sol de agosto;
e os meus frutos são a frescura apetitosa
que te sacia a sede nos caminhos.
Eu sou a trave amiga da tua casa,
a tábua da tua mesa, a cama em que tu descansas
e o lenho do teu barco.
Eu sou o cabo da tua enxada, a porta da tua morada,
a madeira o teu berço e o aconchego do teu caixão.
Eu sou o pão da bondade e a flor da beleza.
Tu que passas, olha-me e não me faças mal.”
DIA DE AUDIO CRÔNICA
PRA CIMA DE MIM... NÃO.
Patrulha ideológica, patrulha de gênero... Recebi no
Messenger:
“Tu tinha que escrever umas críticas feministas ... Dia 3 podias
ter falado do voto feminino na tua crônica online...”
Fiquei remoendo, remoendo...
Tenho resposta pra muita coisa, e muito digo sem pensar, no impulso... fiquei
muda. Não basta fora Bolsonaro, não basta gritar contra o corte burro das
árvores, não basta falar de filmes e livros, repostar cartuns...
(Para quem não sabe, estou pesquisando a vida de Julia Malvina
Tavares. Não para escrever biografia que
não tenho essa pretensão, mas um romance para homenagear uma professora que
viveu aqui pertinho, em Cruzeiro do Sul.
Malvina usou de uma pedagogia diferente para lecionar, sem castigo físico, com
aulas ao ar livre.
Era a vó do jornalista Flavio Tavares e bisavó da Haidê e do
Tidão , o meu vizinho e quem me falou dela.
Para uns, Malvina foi considerada anarquista. Talvez isso explique o silenciamento ao seu redor, hoje. Ninguem nunca ouviu falar dela ou de sua família em Cruzeiro, onde viveu 40 anos. Pode isso? Dizem... que uma forma de castigar um transgressor é com o esquecimento. Tô envolvida nessa escritura feminina para honrar a pessoa que ela foi.)
Quanto a questão do feminismo...
Será que a gente pode ser
feminista, sem ser ativista?
Vejo amigas envolvidas com a Delegacia da Mulher, com a Casa de Passagem, com o Presidio feminino.
Vejo a galera lgbt denunciando preconceitos, as meninas se posicionarem por seus direitos, mulheres abandonando casamentos abusivos...
Vejo
muito mais ativismo nessas atitudes do que sair por aí postando flyers
feministas.
E vocês?
(Que essa crônica chegue em quem tem que chegar...)
Trilha sonora Fonte Natural com o pianista lajeadense Vicente Breyer
https://www.youtube.com/watch?v=gfsPUDbgaHE
NASCE UMA FLORESTA
Sai o deserto, entra uma floresta!
Com a ajuda da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a
Federação Luterana Mundial (FLM) , os refugiados transformam seu acampamento em
Camarões, Africa, em um verdadeiro oásis verde.
Em 2014, cerca de 70 mil pessoas fugiram da violência na
Nigéria e passaram a viver em um acampamento para refugiados em Camarões.
Minawao já era uma região árida e a chegada de milhares de
pessoas contribuiu para a desertificação do local, já que as árvores foram
cortadas para servir de lenha e para cozinhar.
A chegada dos refugiados se tornou um problema para a
população local que já enfrentava problemas relacionados à seca, principalmente
nos meses de verão.
As duas entidades, ACNUR e a FLM, se uniram e lançaram um
programa único de reflorestamento.
Além de solucionar o desmatamento, a iniciativa incluía a promoção de energias renováveis. Os resultados apareceram e a comunidade se envolveu na restauração e proteção do meio ambiente.
Para onde quer que olhemos, agora é verde”, comemora Luka
Isaac, presidente dos refugiados nigerianos em Minawao.
“AS ÁRVORES CRESCERAM, TEMOS SOMBRA E TEREMOS ÁRVORES SUFICIENTES PARA TORNAR O NOSSO AMBIENTE BONITO E SAUDÁVEL.
ANTES, O AR ESTAVA MUITO
EMPOEIRADO. AGORA O AR QUE RESPIRAMOS É MUITO BOM.”
Financiado por uma doação de US$ 2,7 milhões da Loteria Postal Holandesa, o programa de Camarões faz parte do programa do Grande Corredor Verde da África que tem como meta plantar e manter 7 mil quilômetros de vegetação e árvores para combater a desertificação e a seca no continente africano, ao longo da fronteira com o Saara.
LEIA REPORTAGEM NA ÍNTEGRA:
EM QUANTO ISSO, EM ALAGOAS...
Mariano Alves de Oliveira aponta para uma cachorrinha preta magricela que atravessa uma das ruas do Benedito Bentes, na periferia de Maceió:
"Ali vai Baleia", diz ele, em referência à cadelinha-personagem do livro "Vidas Secas", de Graciliano Ramos.
Pilotando um Fusca grafite 1995 lotado de livros, decorado na parte externa com fotos e frases do autor alagoano, o pedagogo de 59 anos conduz a biblioteca itinerante até uma das escolas públicas do bairro para expor, no pátio, seu acervo literário.
Foi o primeiro passeio do "Fusca graciliânico" desde que começou a pandemia.novembro 03, 2021
DIA DE AUDIO CRÔNICA
Nunca é tarde para a
Rebeldia
"Lugar de fala não é uma determinação de quem pode ou
não pode falar. O que se quer dizer é que cada um fala de um lugar." - escreveu a filósofa,
Djamila Ribeiro.
Ahhh, então tá...
Sabe, parte dos meus ancestrais maternos trazem sangue
bugre, como dizia minha vó. Sempre me orgulhei. E a outra parte dos ancestrais... É portuguesa, com um pé na maçonaria e
na Arena, do qual muito me envergonho.
Sabe, enquanto menina, a autoestima nunca foi muito elevada porque desde
criança fui taxada de burra, irrequieta e de sempre inventar... Quando cresci um
pouco mais, ganhei o selo de louca - que perdura ate hoje.
Portanto, o meu lugar de fala... É deste Interior maldoso e oportunista.
Não se iludam: aqui se vive numa bolha. Por isso são sempre as
mesmas pessoas de bem a se apoiarem, a distribuir cargos e presidências entre
si, e... O caraiu a quatro.
Dito isso: o meu lugar de fala também é da Velhice – um termo que muitos não
usam porque tem medo. Tem vergonha. Desprezo. Preconceito.
Desse lugar de fala Velhice - posso dizer que não preciso
mais provar nada porque não me interessa
mais domar o Tempo. Mas, brincar com ele...
O meu lugar de fala agora é o da Rebeldia - contra todos os canalhas que continuam passando a boiada enquanto apenas assistimos...
E o teu lugar de fala, qual é?
* Trilha sonora: Aquarius
KOTSCHO
Ontem, o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas...
Parece piada num país que assiste passivamente à perseguição daqueles
que se arriscam para informar a sociedade.
Aqui fanáticos violentos atacam a sede de uma editora porque
discordam da capa de uma revista.
Aqui há deputado acusado de sequestro e tortura de
jornalista.
Aqui, repórteres são constrangidos, ofendidos e
ameaçados por quem deveria lutar por direito e justiça.
E mesmo quando não estão dentro do país, correm riscos,
sofrendo agressões físicas por agentes do Estado ou a mando do presidente
da República.
As entidades de classe empilham notas de repúdio nas
mesas das autoridades.
RIO TAQUARI
Bioempatia... Tudo que esse governo hipócrita não tem. A destruição da beira do rio Taquari, em Lajeado...
Em vez de proteger e replantar a mata ciliar, com apoio da FEPAM, na presidência outra lajeadense, Marjorie Kauffmann, a autorização para acabar de vez com o que chamam de corredor-ecológico.
Isso é revitalização?
Sem falar na grana enterrada aí. Ninguém disse nada. Espero que a próxima enchente não leve essa dinheirama rio abaixo...
Para que serve a Promotoria?