maio 18, 2010

MAIAKÓVSKI ? *


Na primeira noite
Eles se aproximam
E colhem uma flor
Do nosso jardim
E não dizemos nada.
*
Na segunda noite
Ja não se escondem:
Pisam as flores,
Matam nosso cão
E não dizemos nada.
*
Até que um dia
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a lua e,
Conhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.
*
*
*poeta da Poesia, Amor e Revolução
a revolução se fez poesia e o amor se converteu em revolução...
** Ou seria do brasileiro Eduardo Alves da Costa?

MI MANCA LA PASSIONE ...

tento.tento.tento e me irrito.o idioma-sotaque de tony ramos e famiglia é bizarro em todas possibilidades prescritas.não é possível!minha decisão foi pro saco e antes de terminar o capítulo,desliguei.o q era aqueles gansos coadjuvantes desfilando na villa?e os beijos chupa beiço? e a discoteca paulistana só com figuração européia? cadê os índio medeus?cadê a miscigenação? e alguém pode me dizer porque as roças italianas são mais verdes que as nossas?tento.tento.e não passo do 2º capítulo. isso porque não vi o primeiro.sim, fernandona está bem.verdadeira.não engana ninguém,capito?

maio 09, 2010

CARL JUNG

“Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença.
É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.
Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.
Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão.
É o mesmo que mutilá-lo.”

PERGUNTAS AO LEITOR

William-Adolphe Bouguereau
*
Essa semana, minha querida amiga Aline - desconfio que em outra encarnação foi amicíssima da Clarice Lispector, de tão bem que escreve - encaminhou um texto do blog da ticcia, que compartilho com vocês:

“Taí, muito bem dito. @cafein disse no twitter que não finge felicidade. Eu também não. Não finjo, não simulo, não emulo, não faço de conta, não atuo, não forjo, não fraudo, não minto.”
- Alguém ousaria assinar embaixo? Para conviver em sociedade é necessário vestir o manto da hipocrisia?

Não sou uma pessoa de arroubos de felicidade histriônica, não sou arroz de festa, não tô em todas, não gargalho alto, não topo tudo, não tô sempre a fim, não to aí para o que der e vier, u-hu. Até porque eu canso, encho o saco, me irrito, desgosto das coisas e das pessoas, perco a paciência.”
- Não, às vezes quando divido o humor com pessoas queridas escapa uma gargalhada que exibe até minhas obturações. Rir é bom. Contagia. Aliás, tanto quanto o mau-humor. Verdade ou mentira?

“Não, não acho tudo espetacular, lindo, maravilhoso, fantástico, único, especial, incrível, oh, que emoção e não faço a mínima questão de demonstrar o contrário, muito pelo contrário.”
- Seria muita alienação de um indivíduo, em tempos globalizados, agir assim feito arroz de festa, conviva de comenda e outras parafernálias sociais. Não é?

“Desculpem-me os sensíveis e carentes, minha fidelidade e meu respeito são, sobretudo, a mim mesma. Além do mais, felicidade para mim tem a ver muito mais com estar confortável e ter paz de espírito.”
- Seria a paz de espírito, a chave para se viver bem? Não entendo como essas criaturas que detêm o poder nas instituições conseguem dormir em paz quando a ambição de se perpetuar cava um fosso onde tropeça a ganância, a corrupção e o individualismo. E ainda por cima ferram com os colegas, partidários ou subalternos. Não entendo como podem deitar no travesseiro a cada noite e dormir em paz. Você entende?

“... No geral minha felicidade é quieta e pacífica, mansa e calma, uma satisfação interna que é muito mais um calorzinho na barriga do que um saltitar alucinado, muito mais um aconchego bom da vida e uma satisfação pura por estar ali naquele momento do que um festejar contínuo de suas maravilhas.”
- É pedalar por aí, almoçar em baixo da jabuticabeira com a família e os amigos, caminhar na beira da praia fora de estação, o abraço do meu homem. O que lhe faz feliz desconhecido leitor?

“Podem me chamar de bola murcha, sem graça, blasé, eu realmente não me importo. Não tenho dúvida que eu não preferiria ser a entusiasmadinha ou a felizinha da Atma.”
- Chamam a gente de tanta coisa pelas costas, não é? Até aqueles que se fingem de amigos. Mas, você deve relevar, porque eles vêm com um código de barras tatuado na sua personalidade. Ahã, adivinhe. Sendo assim, também não tenho dúvida “que eu não preferiria ser a entusiasmadinha ou a felizinha” do Vale do Taquari. E você?

Saravá, minha gente!


* minha crônica nos jornais A Hora e Opinião desta semana.


DIA DAS MÃES


A Mulher Barbuda (1631) de José de Ribera.
Óleo sobre tela no Museu do Hospital de Tavera (Toledo)

"Não se nasce mulher: torna-se."
Simone de Beauvoir
ou
"Anatomia é destino."
Freud

maio 02, 2010

OS VELHOS CANTAM LADAINHAS E ORAÇÕES...


... contra males e bruxarias:
*
“Deus que te deu,
Deus que te criou,
Deus que te tire o mau olhado que contigo entrou,
pela graça de Deus e da Virgem Maria,
reza-se um Pai Nosso e uma Ave Maria.”

FILOSOFIA DE QUITANDA

O preço da batata disparou e a senhora no caixa suspira: antigamente era melhor. Era?
Era mesmo? – não posso deixar de pensar enquanto escolho um maço de rúculas e separo tomates envenenados e cor de laranja.

Antigamente, todo mundo tinha um canteirinho nos fundos de casa com alfaces livres de qualquer química. Hoje não existem fundos nem casa.
O que será que aquela senhora quis dizer com “antigamente”? Seriam anos 50, 60 ou 70? Nos tempos da valsa ou do tango ou da bossa-nova?

Cada um tem seu “antigamente” bem interiorizado: o meu foi quando o americano desceu na lua e as mulheres deixaram de ser apenas professoras e balconistas e resolveram assumir outras profissões mais, digamos, masculinas. Em seguidinha chegou a pílula na farmácia do seu João e aí tudo descambou como o preço da batata lá nas alturas.

Antigamente era melhor? – examino um brócolis japonês e mutante.
A confiança no fio do bigode, na figura paterna e no professor Haetinger. Não se questionava nem a Igreja - até que chegou aquele baiano magro cantando num festival “é proibido, proibir” para escândalo de todos na colônia. Alguns assimilaram.

Entra na fruteira uma mulher bonita, malhada e todo mundo suspira - antigamente o corpo também era mercadoria? Desculpe, mas ninguém quer passar por invisível na sociedade. Taí os BBB que não deixam dúvidas.

Quanto custa o kilo do mamão papaia? – pergunto para a moça no caixa enquanto confiro com inveja as carnes rígidas da morena. Ai, tanta academia, dietas, botox e ninguém pensando em se conhecer melhor, em auto-conhecimento. O que vale é o corpo, a imagem e o bolso e eu encolho a barriga automaticamente, jurando voltar para a Àpis ainda essa semana.

Putz, talvez antigamente fosse melhor mesmo, porque hoje quem manda é a propaganda na tevê impondo como ser feliz bebendo redondo, usando aquilo “que todo mundo usa” e vivendo a beleza do amor incondicional da Avon. Até parece que a gente é um traste mercadológico que não percebe nem sente nada. Ahã, a gente não quer ser; a gente quer parecer. Então, com que corpo eu vou para a balada hoje à noite, querida berinjela?

Andamos tão fúteis e ocos, tão pobres de espírito, com todo mundo sabendo da vida de cada um e passando adiante intrigas e fuxicos. Ah, se o cérebro pudesse ver sua imagem vazia no espelho, tão sem sentido na vida. Ah, e se ainda usassem a língua para exigir e cobrar das instituições os nossos direitos.

Antigamente era melhor?
Muitas dúvidas e o medo dos moranguinhos de estufa, grandes e falsos e ainda por cima com gosto de isopor.

Resumindo: não é tempo de consumir batatas.

Melhor, aipim.


* minha crônica nos jornais A Hora e Opinião desta semana.



ECHO AND NARCISSUS

John Waterhouse

.tô chegando a conclusão que blogues são as águas de narciso. ta demais, demais, demais - diria Eco. entro em alguns e o refrão umbilical é “eueueu” - tudo divino e maravilhoso atenção pra esse refrão cantava a gal. a conotação naqueles tempos soava diferente: é preciso estar atento e forte, não temos tempos de temer a morte. e o pau comendo nas esquinas capitais, enquanto a colônia se preocupava com baile de debutantes. acho q é por isso q ñ evoluí. por causa da eterna organza rendada ao redor. mas, hj os narcisos escrevem de frente para o visor q devolve o reflexo da imagem q tecla. tem gente q se ama mesmo. coisa doentia? olh’qui eu divino maravilhoso enquanto a terra desaba, o verde desbota e o amor se diluí como zygmunt tão bem escreveu. deixa pra la. ontem? sentada na frente do fdp racista, com o destino coçando meus pés, não sabia se ignorava tudo ou se chutava minhas próprias canelas. segui a intuição. saí de lá com hematomas. nada q um hirudoit não desmanche. ñ posso me responsabilizar pelas decepções dos outros. minha vidinha já tá um caco e eu só penso em ir embora. a obsessão escraviza e suspiro fundo sem perspectivas. “precisa arranjar um amante” ela disse: “um eiro. pedreiro, carpinteiro, jardineiro, porteiro, marinheiro. esses trepam bem. intelectual não sabe trepar. só teorizam e se masturbam psicanaliticamente.” de novo essa lenga? e os coveiros, pensei. escolher, fazer opções dá uma angustia, a úlcera só cresce. cada escolha uma responsabilidade. caralho. nem o eu-fantasma suportaria o peso do amante eiro. falar nisso na minha rua, quase todos os dias, passa um trapeiro fora do ar. ele atravessa as esquinas falando em voz alta num celular durante todo o tempo. já segui o cara para entender seu monólogo sem eco mas ele mistura as lógicas o tempo todo e gesticula com o outro braço feito hélice. um novo estranho que surge na colônia. ainda bem q existe o celular pra aliviar a solidão dele - mesmo não funcionando. sartre já dizia q o outro é o eu q não sou eu. na próxima vez q o outro passar por aqui vou pedir uma informação qualquer. quero ver se ele “desliga” o celular-mudo, atravessa a ponte q nos separa e fala comigo. também vive esse outro feito narciso. só q alucinado de verdade e enamorado de si. da sua voz no celular? sim, tem tantos ditos normais q adoram ouvir a própria voz. sei pq tenho dois pinicos em vez de ouvidos.