agosto 18, 2014

BERTOLT BRECHT


"De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver 
entre os não-livres?"

DIÓGENES & SEBALDO

Síndrome de Diógenes. Fui pesquisar: “Essas pessoas, apesar de tenderem ao isolamento, como vivia o filósofo, tem grande apego as coisas que juntam, muitas delas, por medo que venha lhe faltar alguma coisa no futuro.” Justamente o caso do fotógrafo José Sebaldo Hammes. Outras características: isolamento social, descuido extremo com a higiene pessoal e a negligência com o asseio do próprio ambiente onde vive. É cruel... O apartamento de Sebaldo contava com uma ordem de despejo. Não pagava luz nem condomínio, mesmo dispensado do aluguel. Muitas dificuldades para comer e viver naquele lar cheio de velharias em todos os cômodos e recônditos. Fotos, filmes, papel de revelação, fitas cassetes, latas, revistas, papeis, jornais, roupas jogadas, panos, sacos, louças quebradas e uma comunidade de traças antropófagas. Muita tralha, comida podre, vermes despudorados se revirando aos olhos de quem entrasse. Mas ninguém entrava. Sebaldo vivia isolado e desacreditado até pela paróquia onde ajudava. Os vizinhos que o digam ou se indignam. Já morava com a sobrinha e o irmão Guido em Arroio do Meio quando sua pressão alta acabou em avc. Foi parar no o hospital da cidade. Curvou-se à vida. Por fim, enterrado no cemitério católico da Igreja São Felipe e São Tiago. Conforme o jornal  O Alto Taquari, o fotógrafo viveu os últimos anos em Lajeado como se invisível – para não dizer ignorado por todos aqueles que um dia se deixaram fotografar. O ap de Sebaldo fechado até hoje. “No local esta um rico acervo fotográfico” diz o jornal.  E muito lixo. E Diógenes, o Cínico? Também foi um exilado social, acabou mendigando nas ruas de Atenas. Vivia num barril e andava pelas ruas portando uma lamparina dia e noite, a procura de um homem honesto. As fotos de Sebaldo continuam exiladas aos olhos gulosos, passam por um processo de triagem para elaboração de um projeto de lei de incentivo. É isso que sabemos e vamos aguardar. Senão em vida, talvez em morte, um reconhecimento dessa cidade que muito riu as suas custas durante mais de quatro décadas.

FALECIMENTO EM 29 DE JANEIRO DE 2014

“Irmão Guido Hammes; sobrinhos; Leonisia Hammes e companheiro Altemir Berch, Rosana e esposo Marino Schneider e José Ricardo conhecido como Pelé e companheira Sônia Bruxel, comunicam o falecimento do irmão e tio, JOSE SEBALDO HAMMES, mais conhecido como o FOTOGRÁFO, ocorrido ontem, aos 85 anos. O corpo está sendo velado na igreja católica de Arroio Grande Central. Sepultamento nesta quinta-feira, às 09h, com missa de corpo presente, rumando após para o cemitério católico de Arroio Grande Central,Arroio do Meio.”


PERGUNTAS DE UM OPERÁRIO QUE LÊ



Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?

Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?

No dia em que ficou pronta a Muralha da China 
para onde foram os seus pedreiros?

A grande Roma está cheia de arcos de triunfo. 
Quem os ergueu? 

Sobre quem triunfaram os Césares? 
A tão cantada Bizâncio só tinha palácios
para os seus habitantes? 

Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?

César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?

Quando a sua armada se afundou 
Filipe de Espanha chorou. 
E ninguém mais?

Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?

Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas.

 Bertolt Brecht


O CADERNO MOLESKINE



.dito é que todo escritor, filósofo, poeta, músico, ilustrador, pintor e metido a besta como eu carrega o seu caderninho de capa preta onde vai. companheiro para as criações imaginarias guardam idéias, versos, capturam linhas e traços. criatividade e memória. da amiga artista desi, ganhei um moleskine - caderno de notas criado em 1997, por um editor milanês. “escolheu esse nome com um pedigree literário para reviver uma tradição extraordinária. hoje, a marca moleskine é sinônimo de cultura, viagens, memória, imaginação e identidade pessoal - tanto no mundo real e como no mundo digital.” no meu vou registrar as desimportâncias e os tombos da minha vidinha. to me achando.

agosto 13, 2014

BRECHT

photo by Claudio Versiani


"Não seria então
Mais fácil se o governo
Dissolvesse o povo e
Elegesse um outro?"  

TELEVIZINHO

“Pedro Martinelli é um fotógrafo artesanal, que só utiliza câmeras mecânicas sem adereços, sempre depois de uma aproximação profundamente humana e alegre com as pessoas e comunidades protagonistas das histórias que está aprendendo para contar.” do Wikipedia. 
Sou sua admiradora há muito tempo. Suas imagens me assombram delicadamente, mesmo quando tristes.

A LIBERDADE QUE ME RESTA...

De onde emana o poder? Da união de pessoas que agem em conjunto. noite dessas li Frei Betto explicando a dinâmica do poder que com o tempo "congela".... Pensei nisso quando assisto a depredação de uma rua de lindos paralelepípedos da minha cidade para dar vez ao asfalto. Época de eleição. Troca-troca de favores. Frei Betto escreve que o congelamento do poder é um grande desafio para qualquer instituição, inclusive para a universidade. "Como encontrar uma maneira de evitar o congelamento de um movimento, de uma dinâmica, na sua institucionalização? É a questão do poder, que esta muito relacionada a isso. O poder é muito retrógrado, porque ele quer manter, se perpetuar... O poder é conservador."  Sou do tempo em que os professores da faculdade que cursei ensinavam a refletir, a questionar. Coisa chata isso, né? O poder tem medo da liberdade. Frei Betto?

ESTATULEITORES

.época de eleição. asfalto e ciclovia. época de eleição. licença ambiental e propina. época de eleição, cimento, tijolo e ferro. época de eleição, fornecedores e compradores. época de eleição e manipulação. época de eleição e tanques de gasolina. época de eleição e linhas de ônibus. época de eleição e troca de favores. época de eleição e compra de votos. época de eleição, me ajuda que eu te ajudo. época de eleição, corrupção sem recibo e sem nota fiscal. e você ainda acredita em partidos?
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.  acredite em pessoas. ainda.

agosto 01, 2014

JOHN MILTON CAGE

"Não consigo entender 
por que as pessoas têm medo 
das novas idéias. 
Eu tenho medo das velhas." 

GLORIOSA POSTERIORIDADE

(clique sobre a imagem para ampliar)
Na minha cidade vivia um fotógrafo chamado Sebaldo.
A cidade o conhecia sem o reconhecer. Enquanto mais jovem, todos o ridicularizavam, o que hoje é conhecido como bulling. Sebaldo saiu pequeno da colônia para estudar num seminário. Criou-se ingênuo, simplório e humilde. Todos riam de seus trejeitos na hora de fotografar. As pessoas encomendavam as fotos e nunca buscavam. E quando o procuravam, roubavam as fotografias do pequeno estúdio onde ele trabalhava e morava. Criou o estilo Sebaldo de fotografar. Registrou casamentos, primeira comunhão, crismas. Recepções a políticos e desfiles de sete de setembro. Jantares em clubes e almoços no salão paroquial. Aniversários, festas em colégios, gincanas. Carnavais de salão e de rua. Bailes na colônia e de debutantes e concursos de miss. Fotografou padres e prostitutas. Mães e e seus filhos. Gente pobre e gente rica. Sebaldo morreu no verão do ano passado, mas deixou mais de dez mil fotografias que registram a sociedade desde o início dos anos 70 até o fim do século XX. São mais de 40 anos de fotografias guardadas em caixas no apartamento onde viveu quase até chegar a morte. Quase na penúria.
Sebaldo merece uma exposição permanente em Lajeado.
Poderiam dar significado a sua vida e significante a essa cidade sem preocupação alguma com sua história.

Dignificaria ambos.

EX-ARVORES



Duas arvores que não existem mais na calçada da escola Madre Barbara, na minha cidade, lembram o poeta Manuel Bandeira: "Que tempos são estes, em que uma conversa sobre árvores é quase um crime. Porque implica calar-se sobre tantas infâmias..."?