dezembro 29, 2009

CLARICE LISPECTOR...

Photo by Christopher Furlong

... entrevista Nelson Rodrigues:

- Nelson, qual é a coisa mais importante do mundo?
- É o amor.


- Qual é a coisa mais importante para uma pessoa como indivíduo?
- É a solidão.



2009 DEPRÊ...


É foda. Quem inventou o fim de ano? Os maias ou os astecas? Os fenícios? Sem memória não posso dizer quando passei a detestar a passagem de ano. As festas obrigatórias. Os falsos abraços e os ensejos vazios. Não sou mulher de esperança, sou de inventar. Abomino aquela frase do Fernando Pessoa que diz que o homem é do tamanho do seu sonho. Até duvido que ele tenha dito isso. Logo ele que escreveu com tantos pseudônimos... Hoje acordei as três e meia. O que se faz nesse horário? De dia não consigo mais acessar meu blog. Tentei de madrugada e deu certo. O que será que aconteceu? Aproveitei para faxinar o Varal. E deletei vários post. Talvez, o blog esteja pesado. De inutilidades. Tem um babaca da prefeitura - ou de alguma imobiliária? - que entope de post cretinos. Não publico - que crie seu blog para destilar a própria peçonha.
Quando caminho por aí penso nessa cidade sem personalidade turística, sem personalidade cultural e sem personalidade histórica. Sempre tem um cudimundo no mapa que rendeu um escritor ou cantor famoso. Um cientista. Um político. Minha cidade nunca rendeu nada e a coisa mais famosa que existe aqui é um evento chamado Festa à Fantasia, que mistura os mascarados da cidade e do estado. Os pobres se espremem no salão e os ricos se esfregam no camarotes. Coisa da Grécia Antiga. Começa 2010 e me avisam que vou conhecer Cartagena. Por favor, imploro, em maio. Porque no verão é um sufoco. E eu só queria alugar uma casa no interior de Vila Fão. É pedir muito? To com medo de 2010. Tenho a impressão que meu mundo vai virar de pernas pro ar. E quando penso nisso, não penso em alegria, infelizmente - em desventura. Toc, toc, toc - três vezes na madeira: desmilivri! Pensar não é só um castigo, é um filme sem fim. E sem crédito. Quando muito uma trilha sonora, de fundinho. Para preencher os ecos.

dezembro 24, 2009

DESCONHECIDO

"Faça com que sua felicidade
jamais dependa da felicidade dos outros"

SUSPIROS DE NATAL


A vida anda tão corrida que o Natal é lembrado logo depois dos finados. (suspiro) Pelo menos comercialmente, não é? Você já comprou os presentes? (suspiro) Daqui exatos cinco dias aquele fuzuê de comilança, de sorriso amarelo no desembrulhar da lembrança de amigo secreto – um cd que você pode baixar da internet ou algo para casa que a gente mesmo compra nas vitrines de quinquilharias da cidade. O que fazer?


Disfarçar. (suspiro curtinho) E se você recebeu uma boa educação em casa, sorria o mais sincero esgar – e você consegue! – dizendo “era isso o que eu precisava...”

Às vezes penso em um Natal diferente:
Mesa posta no meio da praça convidando todos os bebuns que perambulam por aí para dividir a comilança e suas vidas libertas. (suspiro) Como eles continuarão sendo o que são, pelo menos nessa noite, a bebida será de melhor qualidade e servida em cálices, sem a cobrança hipócrita do se dirigir, não beba.

Em montar um pinheirinho no dia 24 para uma instituição de menores carentes. Com direito a Papai Noel e abraços verdadeiros e minha solidariedade de corpo presente. (suspiro)

Em preparar uma ceia especial para velhos sem destino e doar meu tempo inútil (suspiro em seco) para escutar suas histórias de abandono e desprezo.

Quem sabe um Natal numa aldeia de caigangues? (suspiro) Dói quando vejo as crianças acompanhando as mães na mendicância pelas ruas da cidade, oferecendo cestos e artesanato de cipó. Eles crescem e perpetuam o andejar miserento de suas mães. (suspiro)

Como curtir o Natal de mesa farta consciente da fomitura do Outro? Como se empanturrar de peru recheado, fios de ovos e arroz à grega (suspiro esperançoso) na consciência da solidão e da penúria de tantos?

Como cantar Noite Feliz reconhecendo as crianças abusadas dentro de sua própria família? Do filho alucinado correndo na noite atrás de pó? (suspiro profundo) Da filha prostituta que vende seu corpo para comprar leite em pó para o filho deficiente?

É muita opressão, muita injustiça social, muito político ladrão, muito rico corrupto, muita safadeza ambiental e quem deveria dar exemplo se esconde no manto da depravação pseudo-solidária.

Natal aí de novo, gente... (longo suspiro) Esse caco de mundo que não oferece perspectivas de crescimento cultural por um cultura de paz. O que fazer?

Vergonha, vergonha: eu não faço nada pelo Outro. Nada.

Olho, desafiadora, para o panetone em cima da mesa pronto para ser partido simbolicamente no dia de Natal - será que Jesus nasceu sabendo que a turma do Herodes andava atrás dele? (suspiro)


O panetone, minha fome, (suspiro raivoso), as desilusões de Natal. Pego uma faca e corto um pedação e engulo quase que inteiro. No seco.

Desculpe, juro que sentei para escrever uma crônica de Natal mais inspirada: de fé e esperança e, principalmente, de graças. Mas, um vazio descrente me habita.

Mesmo assim: (suspiro mais leve) paz e lucidez para todos.


(minha crônica nos jornais A Hora, de Lajeado e no Opinião, de Encantado)

dezembro 12, 2009

GLÓRIA PEREZ

“Todos nós vamos viver o último capítulo,
nascemos sabendo disso.”

(na revista Contigo do Salão da Antonella...)

DESCARTE DO ANO

Tarde fisguenta, úmida, cinza. Tento por ordem nos caos da minha caverna. Não sei bem por onde começar... Esvazio o lixo. Para depois encher novamente. Devoro uns merenguinhos: preciso de açúcar na veia. Embaixo de papéis descubro o celular q pensei já perdido com apenas três semanas de uso. Sim, tenho um celular. Procuro papel para embrulhar um cd q comprei p presentar no Natal. Desisto e rasgo o celofane p escutar. É ótimo e renuncio ao amigo-secreto. E depois não tenho papel de presente. Mais merenguinhos... Um colar de contas, um chaveiro, grampos de varal, cartões. Cada um para uma caixa. Sento no chão separando papéis e jornais q me interessam. Acho meus gibis antigos e livros infantis. Os primeiros voltam p o gavetão, os livros p uma prateleira onde sei q vou esquecer. Guardo tantas coisas importantes: um rabisco onde leio na minha quase indecifrável caligrafia “Não sabemos se o universo pertence ao gênero realista ou ao gênero fantastico.” De quem é essa fulguração? De Borges? Ou de quem mais poderia ser? Dali? Khalo? Merenguinhos... O q tem realmente de valor nessas gavetas, prateleiras, caixas, caixinhas? Tudo tem voz. Tudo me cala e dá o sentido da minha profunda ignorância a cerca dos mistérios da vida e da literatura. O mundo é tecnopop e eu me preocupando em guardar papéis, recortes e jornais velhos. Nunca pensei que faria isso: no lixo uma revista Piauí. Jamais pensei q seria capaz. Poderia ter guardado p outro. Quem? Não conheço ninguém nessa cidade q compra e lê a Piauí. Por fim, levantei um bloco antigo de anotações p futuros contos e o que achei? Um chiclé... Mastigado e grudado na mesa. Vergonha. Suspiro: lá se vão três sacos de lixo - grande -com todos os papéis e jornais guardados durante 2009... e pra q? pra q? Ainda tenho uma prateleira dentro de um armário me encarando. Puxo tudo p fora: sacolas de papelão, de plástico, colcha velha, um pé de tênis desparcerado, a furadeira!, cartas do tempo em que se escrevia cartas, cartões novos e velhos e... noooossa!


Um cartão de 18 de junho de 1976. Um cartão dos meus queridos amigos. De quando eles foram embora para os States me abandonando nessa colônia onde vivo até hoje.
Lembro que chorei quando recebi.
Tinha 18 anos e queria correr o mundo e fugir dos julgamentos do povo e suas condenações hipócritas, preconceituosas e burras.

“É isso aí cabeças feita pra não dar bandeira” – escreveu Maneco.
Depois que a gente entra no sistema deles a gente se liberta mesmo.” – Jumbo.
“A presença de vocês pintô no astral” – Serjão.

Terminei com todo o pacote de merenguinhos.
Como descartar os anos 70?

dezembro 09, 2009

PAUL RICŒUR


"A amizade
é o meio pelo qual cada um de nós
aprende a conhecer-se a si mesmo
como um Outro."



JOVENS E FAMOSOS

Essas coisas de fama...

Li e não lembro onde que antigamente as pessoas que apareciam na mídia eram reconhecidas e alcançavam o sucesso pelo talento próprio: escritores, atores, desportistas, músicos. Até chegar as medalhas espetadas no peito, alguns anos para se conquistar o tal do “reconhecimento”. E quando ela chegava - a fama! - era porque o trabalho dera certo ou que as metas foram alcançadas e só então, uhú, os píncaros da glória: manchetes nos jornais e revistas, letreiros no cinema, longas resenhas críticas.

Hoje não. Tudo é fabricado. Tudo é imagem.
Tudo é cro-no-me-tra-do para alcançar os famosos 30 segundinhos. Claro que a gente também reconhece que muito desse sucesso depende de uma boa rede de contatos. Todo mundo querendo virar estrela, mito.

É para isso que todos correm atrás da fama. Homens e mulheres. Mais da fama, do que da grana. Importa o grito “Eu sei quem você é!”.

Pode pesquisar - não basta ser amado. Todos querem ser adorados!
E assim cada época sinaliza um modo de encarar a realidade. Parece que nunca fomos tão capacitados para nos amoldarmos a ela, para aceitarmos tudo sem questionar. Só os artistas “malucos” conseguem transcender esse marasmo.
Na internet descobri que dois rapazes montaram uma “casa” na lateral de um prédio e “moram” na parede. É arte ou é imagem?

Diz um psicanalista que no fundo, no fundo, toda essa motivação midiática, essa vontade de aparecer seja de que jeito for, se dá pelo sexo: os homens para ter mais parceiros e as mulheres para escolher o melhor parceiro. Ele, quantidade. Ela, qualidade. Aí a gente se expõe desse jeito em casas de big brother, se vira nos 30, sabadão sertanejo...

Só que junto com o sucesso, com a fama, com a adoração, o lado B: “Esse cara se sente superior a gente...” –e brota a inveja, muitas vezes o ódio.

E foi por isso que um fanático matou John Lennon, que ontem completaria 69 anos se vivo fosse.
Eu sei que é frase pronta, mas assassinado o mito permanece jovem e rebelde. (Putz, aos 40 se é jovem ainda?) Assim como Joana d’Arc, James Dean, Jim Morrison e outros “jotas” mais jovens, realmente.

Por falar em fama e projeção, vocês sabiam que no passado encomendaram ao escritor Dostoievski um texto didático para combater o alcoolismo entre os russos? Ahã.
Ele sentou e começou a escrever “Os Bêbados” que veio resultar na obra “Crime e Castigo”. Ou seja: de um folheto do SUS da época passou para a história como um dos maiores clássicos da literatura universal. Dez anos depois escreveria Os Irmãos Karamazov, considerado por Freud como a obra máxima da história. No mínimo, Dostoievski levou 45 anos para ser considerado o bambambã das letras na Russia.

Mas hoje não, bastam segundos de macaqueação no Youtube e já entramos para a galeria dos mais acessados e, portanto, famosos do planeta Terra.

Não esqueçam: tudo por causa daquela historinha de psicanálise, sexo, quantidade...


(Minha crônica publicada nos jornais Opinião, de Encantado e A Hora, de Lajeado.)