setembro 29, 2009

ROLAND BARTHES

Photo by Cartier Bresson
“Quem vê não é quem fala,
Quem fala não é quem vê
E quem escreve não é que é.”

VÁ ATRÁS DO SEU PIANO...

Quando li a crônica do jornalista Moisés Mendes, tempos atrás, afirmando "você deve ter o seu piano que nunca foi buscar, ou porque não teve dinheiro, ou porque fez outras escolhas" lembrei que também já fui atrás de um "piano"...

Subi e desci o Sena, querendo me perder entre as oito ou nove ruas na charmosa île Saint Louis, mais esvaziada de turistas, mais legítima, mais francesa. Foi por ali que provei o sorvete da Casa Berthillon, uma delícia e caro para uma colona latina como eu.

Andando pelas ruas atrás do piano que nunca encontrei acabei descobrindo a casa de Camille e lembrei que li sua biografia, assisti ao filme com Isabelle Adjani e agora quase entro em sua casa... Mais tarde, Camille ficaria internada por 30 anos num manicômio e ao morrer sua arte ainda seguiria em sombras.
A memória dos lugares

Viveu e trabalhou neste edifício ao rés-do-chão

sobre tribunal de 1899 a 1913.
Nesta data terminou a sua breve carreira de artista
e começou a longa noite de internamento.

Há sempre algo de ausente que me atormenta.
Carta a Rodin


E Rodin? Esse nunca abandonou sua mulher, Rose Beuret... Bem que Camille tentou manter uma relação com Debussy, mas em vão... A escultora não conseguiu abandonar o amante invejoso e egoísta. Sabemos que no fim de sua vida, madame Claudel é enterrada como uma reles indigente.
A vida só ensina.
Correr atrás de pianos pode ser muito perigoso. E triste.

setembro 25, 2009

ALBERT CAMUS


Sempre adquirimos o rosto
de nossas verdades.

DEVENIR...

Pense em um objeto simples. Simples e transparente.
Agora pense que o mesmo objeto possa conter as piores pragas ou as maiores alegrias.
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Eu pensei num copo de vidro bem comum com água cristalina até a metade.


Então pensei num roteiro...

O copo d’água no meio de uma mesa imponente, de mogno, escura.
Ouve-se alguém abrir uma porta. Sapatos. Passos até a mesa.
Uma mão pinga uma única gota no copo. A pessoa sai deixando a porta entreaberta.

Câmera foca o copo que continua translúcido.
A porta se abre devagar e surge um menininho só de fralda, sorridente.
Caminha trôpego equilibrando-se nos seus próprios passos.
Ele vai até uma das cadeiras da mesa. Com dificuldade consegue escalar a cadeira.
Câmera fecha no seu rostinho vitorioso.

O menino vê o copo. Olha para o chão “medindo” o tamanho de seu tombo case falhe na sua próxima aventura. Ele sobe na mesa e engatinha até o copo.
Senta na frente do copo com água pura.
A câmera captura o perfil do menino em frente ao copo. Ele se prepara para pegar o copo com sua mãozinha rechonchuda.
A imagem congela.

Possíveis legendas...

( ) Independência - você também pode conquistar.

( ) Não polua.

( ) Para saber só experimentando.

( ) E se fosse seu filho?






TEMPO DE GOIABA

Sexo, sexo, sexo. E.................................................... sexo.
Onde largo minhas tranças as conversas acabam esbarrando nessa inquietude.
Na academia, nas mesas de bar, nos solilóquios noturnos.


Teoria muito particularizada:
Como se aprende a filosofar? Lendo e questionando. Sexo também.
Como se evolui num esporte? Treinando. Sexo também, claro.
Como aguçamos nossos sentidos para diferenciar um bom vinho?
Experimentando, experimentando. Sexo ahã.
Como aprendemos um instrumento musical?
Ensaiando. Sexo então, nem se fala!


Agora joga tudo isso num casamento de 20, 30 anos embaciado por toda essa falta de estímulos e vê no que dá? Hunhum... Tenho um conhecido que disse que 4 anos é o limite para uma relação saudável.


Olho para a pia da cozinha, transbordando... Casamento é uma tortura, para muitos.
Para outros, castração definitiva até que a morte os separe. E dê-lhe culpa!
Mas, para um tanto de gente é uma via de duas mãos: na minha ou na sua?

Relação a dois, independente de alianças ou escovas de dentes no mesmo copinho de requeijão, está sempre em crise. Quando entra um terceiro (a) é bem capaz de dar uma aliviada. Ou desandar de vez.
Na verdade, não tem nada de mal estar em crise.
Estar em crise é estar se questionando, é viver um conflito existencial. Ou espiritual.
Só isso. O resto é masturbação mental, picuinhas e cobranças.

Como descobri que nesse guarda-chuva também cabe alines e rogérios vejo com interesse descobrir a opinião de cada um nem que fosse por um boteco virtual e cada um na sua caverna, evidente, tomando o maior porre.


setembro 18, 2009

PLATÃO

"Você pode descobrir mais sobre uma pessoa
em uma hora de brincadeira
do que em um ano inteiro de conversa."

UMA FORÇONA DO COLEGA MAZZARINO...

"Laura Peixoto é daquelas pessoas interessantes de uma cidade. Faz tempo que a conheço e não lembro os detalhes de onde isto começou.
Seu perfil psicológico me reflete muito duas cantoras: Cássia Eller (já falecida) e Elza Soares, que são imortais. Cássia e Laura, no particular, se revelam discretas, desconfiadas, tímidas. Na esfera pública ambas são
corajosas, ousadas e duras. Elza e Laura, no pessoal, são ingênuas,
delicadas, suaves e sensíveis. No cotidiano de suas atividades as duas
se mostram decididas, valentes e poderosas.


Dia desses estou com a tela aberta em seu blog na redação. E passa o fotógrafo Juremir Versetti. Ele olha e pergunta: "Laura Peixoto, é de
onde?" E respondo: Laura é do mundo, sua prisão é Lajeado!

Por ser uma mulher de muitos talentos e sensibilidade açuçada, setores de Lajeado, às vezes, não compreendem sua multiplicidade.
Em seu blog ela defende coisas 'tolas' como casas antigas e árvores. Ou compra brigas com
políticos, que em alguns casos, não sabem separar questões públicas e privadas. E não toleram críticas.

Ou ainda, a defesa de outras 'bobagens' como cultura, teatro, literatura e reflexões do nosso tempo.
Na Lajeado de todos nós, onde em cada esquina temos um tribunal de sentenças e em cada quadra um pelotão de fuzilamento ela desfila.

Se fala/escreve criticam; se cala, criticam também. É o preço de dar a cara para bater.

Eventualmente em seu blog (http://lauramertenpeixoto.blogspot.com/) , ela tira férias por alguns dias. No início não entendia, hoje respeito. Os intervalos para alguns não existem, para outros são fundamentais.

Laura, na semana passada, foi convidada por este jornal para ser cronista. Vai fazer um bom trabalho. Mesmo conservadora essa cidade gosta de ver suas feridas abertas. É uma forma de tentar entender-se como coletivo e indivíduo. Laura, ao costurar suas crônicas, vai permitir que seus algozes, talvez, sem saberem, se libertarem."

Mazzarino
Jornal A Hora
16/09

* É de colar no espelho... Mas, por vias das dúvidas corri na floricultura e comprei um pé bem grande de arruda e plantei na frente de casa. Um copo com água e sal grosso atrás da porta da sala e da cozinha. Quando a gente 'incha' desperta muita inveja que eu sei.
O Mazzarino escreveu e alguns vão morder os próprios dedos e a samambaia aqui em casa vai desfolhar... Liguei para ele e perguntei se via aquilo mesmo ou se a gente já tinha deitado juntos e eu com minha memória-flan não lembrava mais. Se faz cada coisa no tempo de guria que "até deus duvida" como diz a canção.... Mas ele disse que não.
Que era do trato na rua, nos bistrôs da vida...

setembro 15, 2009

Rabaud Saint-Etienne

Nossa história não é nosso código.


YANN TIERSEN

Alors... Não é simplesmente, bárbaro? Gaita portenha, acordeon ... meu instrumento preferido. Dedos que chegam lá. De um tempo para cá ando míope para as artes, mas focada na música. Até para o cinema dei um tempo. Nem por ele me cristalizo. Mas, a música está recuperando minhas certezas de que ando mais para libertinagem do que para liberdade. Merci, Yann.

setembro 13, 2009

FERNANDO PESSOA

Chove? Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que o ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia?
Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
Eu quero sorrir-te e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu...
E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...
E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.
Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuto, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...
Quando é que eu serei da tua cor,
Do teu plácido e azul encanto,
Ó claro dia exterior,
Ó céu mais útil que o meu pranto?

Cancioneiro

ELIS VIVE

Sou mal resolvida. Alguma coisa se perdeu durante os anos 70. Alguma coisa que não sei explicar. Porque sempre que escuto a Elis cantando O bêbado e a Equilibrista seguro a dor.

ELIS VIVE II


Um dia perguntaram a Elis Regina, durante uma entrevista, sobre sua vida e pessoa fora dos palcos:


“Sou medíocre,
graças a Deus.”

setembro 12, 2009

Armando Freitas Filho


“Como se eu fosse
Como se faltasse a face
Por incrível que você pareça
Não me dou bem com o singular de cada um.”


Música de sótão...

Mulher de sótão


Como diz o tango baila-se no compasso da alma. Baila-se na penumbra.
Fico olhando para o meu sótão. Tríptico: resistências, tantas ironias, perdas.
E agora enquanto escuto Esteban Morgado olho para os meus pulsos. É de giletar.

Morrer pelo belo. Parece estranho, mas como a morte pode se associar tão facilmente a alegria? A música tem disso: fúria e impulso. Um salto e se passa para o lado de lá, no gozo fatal. Porque se dar, se revelar é sofrer também. Muerte, minh'alma hoy es argentina...

Mulher de sótão...
Beber aqui em cima e cheirar todas essas reminiscências é um risco que beira a loucura. Uma over-alegria por todas as possibilidades de estar sozinha. E fantasiar nessa solidão.


Só aqui minha consciência assume todos os absurdos confessionais: entre caixas empoeiradas, livros esquecidos, baús com vestidos e sapatos de outros carnavais. E aquele varal de luvas... A lembrar os fantasmas que não queremos encarar.
Não dá para prever a verdade. Só com o tempo - assopro.
E assim segue a tarde de chuva. No compasso tangueiro esvazio uma garrafa.



Qual das duas? - um dia perguntou quando nos encontramos por aí.
Nenhuma – se sincera, responderia.
Sou uma mulher de sótão.
Eu me guardo.
Ou não.

setembro 09, 2009

Tony Robbins


"A vida não é sobre esperar a tempestade passar.
É sobre aprender a dançar na chuva.”

NO RITMO DO DIA...

Sobrevivi ao dia fatídico: 9 de 9 de 2009.
Sim, a casa continuou uma bagunça, a omelete rendeu um almoço, a chuva não deu trégua e já posso ver as tradicionais águas da enchente oprimindo o povo... Setembro mal começou e as previsões daquela astróloga americana famosa, Susan Miller, ainda têm muita probabilidade de acontecer.
Acho, só acho, que talvez eu devesse abandonar a clausura.
Quem foi mesmo que disse que a clausura era uma espécie de não a sociedade?
A borboleta ou a tartaruga?

Não ao celular. Não as marcas. Não a carne. Não as novelas. Não aos best-sellers.
Sim ao vinho e as massas. Aos bons livros. Aos bons filmes
Sim a vagabundagem. Sim, Mart’nalia...

Se eu fingir e sair
Por aí na noitada
Me acabando de rir
Se eu disser que não digo
E não ligo e que fico
Só vou aprontar...

setembro 05, 2009

MIA COUTO

“A aranha ateia
diz para o aranho na teia:
nosso amor está por um fio.”

WALTER E O BUDA

"Com a assimilação indiscriminada dos fatos cresce também a assimilação indiscriminada dos leitores, que se vêem instantaneamente elevados à categoria de colaboradores.
(...)
A capacidade de descrever esse mundo passa a fazer parte das qualificações exigidas para a execução do trabalho. O direito de exercer a profissão literária não mais se funda numa formação especializada, e sim numa formação politécnica, e com isso transforma-se em direito de todos". Walter Benjamim, in “O autor como produtor”, 1934.

Incrível, não é? O filósofo alemão matou a charada dos blogs nos arcaicos anos 30 do século passado. E a gente achando que orbitar no ciberespaço é coisa de agora.

Pego meu buda e levo para passear, tomar um sol, curtir a primavera antecipada que chegou no quintal da minha casa...