ÜBERDRUSS
janeiro 25, 2011
PARIS TÃO DISTANTE PARIS...
O google earth provocou uma emoção esses dias. voltei para minha ruazinha, no 19ème arrondissement. janeiro e fevereiro de 2005. deu um nó na garganta.fiquei por um longo tempo olhando para “a minha porta”, a minha rua. queria lembrar o rosto das meninas que me acolheram, mas não descobri. minha memória trai um pouco mais a cada dia. foi bom? foi. aprendi a dimensão da solidão. é quando ninguém se importa com você. é não ser absolutamente ninguém. não ter passado, não ter futuro. é viver obscenamente. ou em estado de larva. sobrevivi.
janeiro 21, 2011
MARIO BENEDETTI
Defesa da Alegria
Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
...das ausências transitórias
e das definitivas
Defender a alegria como um princípio
defendê-la da surpresa e dos pesadelos
dos neutros e dos nêutrons
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos
Defender a alegria com uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingênuos e dos canalhas
da retórica e das paradas cardíacas
das endemias e das academias
Defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e do fardo
da obrigação de estarmos alegres
Defender a alegria como uma certeza
defendê-la do óxido e da sujeira
da famosa ilusão do tempo
do relento e do oportunismo
dos proxenetas do riso
Defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos sobrenomes e dos lamentos
do azar e também da alegria
DER BRIEF
.fräulein, eu sei vc q entrou sem querer por aqui, ou querendo, de bobeira nas férias, saiba liebe q viver numa colônia não é pra qualquer um. nem trair tranquilamente vc pode. todos logo ficam sabendo, menos o traído, como sempre. agora um secretario ladrão ta comendo uma advogada. um doktor comendo a amiga da sua mulher. a secretaria dando para o patrão na revenda. nein, traição não é nada, mas quando um vice-prefeito usa o nosso dinheiro para asfaltar a entrada de suas empresas aí ta fodendo com a gente também e tudo fica por isso mesmo vc entende, não é? roubo por roubo é quando até o promotor é um vendido. o dinheiro silencia todo mundo de uma maneira espantosa. assim tudo vaza na colônia. a nova delegada deslumbrada partiu para recepções e festas como se a colonada não tivesse rindo de afrouxar os gases. os ladrões estão soltos em suas caminhonetes d20 e circulam livremente, impunes. taí o rodeio crioulo que não me deixa mentir. liebe, vc não consegue imaginar a extensão da roubalheira, frau beamtin me ligou despejando tudo nos meus ouvidos. me senti uma lixeira. estou ficando cansada dessa imundice política. autoridades, liebe? vc sabe realmente o que significa? é quem domina um assunto. tem autoria sobre ele, portanto aqui nessa colônia são autoridades aqueles que dominam as falcatruas. e cada vez que vejo suas fotos nos jornais sei exatamente do que eles estão falando e quanto estão roubando. essas coisas vazam na colônia porque ninguém rouba sozinho. meus pensamentos nunca foram tão intensos. agora vou tomar um banho e me preparar para uma noite de sexo selvagem. sim, selvagem: com urtigas, relho nas costas, e cactus na sola dos pés pra ver se paro de pensar nesses fdp. agora virei sadomaso. era o que me faltava não era? küsses.
janeiro 13, 2011
FETICHE
Photo by Andrew Saint-George
EL CHE
antes do mito revolucionário
o homem
poderia cruzar minhas pernas entre as pernas dele
poderia me virar de quatro
faxineira, cozinheira, engraxate, escrava sexual
esse homem tem cheiro de homem
tem cheiro de mato
terra
álcool e gasolina
dinamite
esse homem faz parte do que entendo
por homem
meia-revolução
rum e chimarrão
na veia
me faz pensar
me pesca
me fuma
me chupa
e me dou por satisfeita.
QUERIDO KORDA
Alberto Korda capturou a famosa imagem de Che que se tornaria ícone publicitário. E da única vez que fui a Santiago do Chile (2006?? trouxe um pôster de sua autoria. Fiquei encantada com a imagem de solidão, de alienação blasé do cubano, daquela balança humana, algo entre será a revolução um bem? Emoldurei e tenho na parede atrás do meu computador para lembrar sempre se vale à pena espernear contra o sistema nesse cu de cidade onde vivo. Dizem que foi a última fotografia de Korda:
“Um momento do cotidiano cubano, provavelmente durante um discurso, milhares de pessoas se reuniram em uma praça e o fotógrafo encontrou este momento único. Neste trabalho o encontro entre o primeiro e o plano de fundo criam o efeito que impressiona. A massa de pessoas praticamente não apresenta detalhes, se tornando uma grande unidade visual, no meio dessa miríade surge nosso personagem, tranquilamente sentado sobre o poste. Korda consegue casar registro, humor e poesia neste trabalho. O fotógrafo apresenta a realidade e o empenho popular cubano, cria uma cena inusitada e apresenta a parte “lírica” da revolução. Korda realizou um grande trabalho em sua terra natal. Apresentando um grande processo histórico que mudou o caribe no século vinte. Korda soube não só apresentar como imprimir seu estilo nessa cobertura, justificando sua presença entre os grandes fotógrafos do séc. XX.”
janeiro 10, 2011
DO TEMPO DE HOMERO
Gosto muito de mitologia. Tema atraente e tão cheio de mistérios.
Seus tentáculos interligam-se com os da Filosofia, Psicologia, Direito, Antropologia, Poesia e outras ciências que vivem explicando a esquizofrenia do mundo via deuses e mitos irreais.
Também guardo uma teoria supositiva, ou melhor: achista.
Assim como o escritor Luiz Augusto Fischer, acho que o grande dramaturgo Nelson Rodrigues bebeu no maior de todos: Machado de Assis, que por sua vez se embebedou de Shakespeare, que sucumbiu às tragédias gregas e estas que se apoderaram da mitologia por inteiro, naqueles tempos de muita imaginação divina. Muita mesmo.
Houve uma época em que um camponês mal entrava numa floresta e já escutava sons estranhos, de tremer as canelas e logo via um duende ou uma ninfa em cima das pedras cobertas de musgos. E sem tomar nenhum alucinógeno.
Encantamento ou Terror - senão tudo que é tipo de magia. Coisa de mil anos antes de Cristo. E quem duvidaria?
Hoje, com 2011 se espreguiçando, alguém conta por entre suspiros que mais uma vez descobriu as sacanagens do marido na alcova de outra.
Vamos dar um nome ao traíra: Zeus ou Júpiter. A traída chorosa: Hera ou Juno.
Nas Comédias, a deusa representa a mulher ciumenta que volta e meia dá um jeito de frustrar as tentativas do marido aprontador se jogando para cima até das comadres. Tenho certeza de que o leitor, a leitora, conhece alguém bem assinzinho com o descrito, não é? Os mitos explicando a natureza humana.
Quase todos os seres mitológicos são fortes, belos e poderosos. E cruéis, vingativos. E como era preciso explicar a vida para o Homem naqueles primórdios da civilização, se fez uma tentativa via deuses e deusas.
Agora, ficou mais fácil explicar a vida desde 1998. Basta clicar e procurar no Google, o oráculo contemporâneo.
Esses dias me vi um ser mitológico, me vi uma Hidra, a criatura de nove cabeças.
Escrevia fervorosamente, compenetradíssima, quando alguém gritou imperativo: “Recolhe as roupas do varal porque vai cair a maior chuvarada!”
Uma cabeça foi nocauteada e se perdeu no que escrevia.
A outra cabeça espumou de raiva.
Uma terceira lamentou não ter um escritório longe do lar.
A quarta falou “vai lá dona de casa”. E deu uma risadinha.
Então a quinta, a mais poderosa delas, olhou para todas e disse: qual das babacas vai recolher as roupas secas antes do temporal? As oito se entreolharam na maior dúvida.
Acabou caindo uma chuvinha mixuruca dos céus e acabei desistindo de escrever o que vinha me abismando.
Quando comentei essa alegoria com um amigo, ele explicou que a Hidra representa tudo que temos de ruim dentro da gente, principalmente as vaidades e as futilidades. E que se a gente não dominar essas “cabeças”, elas continuam crescendo cada vez mais. Aliás, morre uma, nasce duas no local.
Mitologia: quando mais se aprende sobre, mais se descobre o segredo do sentido das coisas. Da gente e dos outros.
Agora imagina se todas as cabeças da Hidra se rebelam ao mesmo tempo?
* Publicado nos jornais A Hora, Opinião e http://www.regiaodosvales.com.br
janeiro 01, 2011
FRÉHEL...
... é uma cantora realista do período entre as duas Guerras Mundiais. Suas canções fazem referência a uma Paris miseravelmente pobre, em todos os sentidos e muitas de suas músicas são quase autobiográficas. Fréhel viveu uma infância complicada e pobre, pelas ruas e na prostituição.
Com quinze anos, Fréhel torna-se vendedora de produtos de beleza de porta em porta, quando conheceu Belle Otero, rainha do music-hall na época. Belle Otero acredita na jovem cantora e a “batiza” com o nome artístico de “Pervenche”.
A discografia de Fréhel estende-se de 1908 a 1939. Grava o seu primeiro disco no Ódeon em Junho de 1908, com o nome de Pervenche-Fréhel. Seu último disco foi “La Java bleue”.
Fréhel viveu um breve relacionamento amoroso com o cantor Maurice Chevalier que, por desaprovar a sua dependência de cocaína, decide deixá-la pela cantora Mistinguett. O término do relacionamento com Chevalier teve um impacto muito grande em Fréhel, chegando a tentar o suicídio. Por não aceitar ter sido “trocada” por Mistinguett, Fréhel terá ameaçado Chevalier e Mistinguett de morte e, durante algum tempo, transportava uma faca consigo, caso os encontrasse juntos.
Depois dessa série de desapontamentos, Fréhel afunda-se no álcool e nas drogas e deixa o seu país para viver durante de dez anos no Leste Europeu, na Turquia e na Rússia. Nos anos 30, participa em vários filmes em pequenos papéis como cantora.
Uma importante interpretação de Fréhel foi no filme Coeur de Lilas (1931), em que ela encena uma personagem chamada “la Douleur” - a Dor - fazendo, assim, uma referência à vida da cantora, característica do universo realista.
Marguerite Boulc’h - nome verdadeiro - nasceu em Paris em 1891, onde também morreu, num quarto de um hotel ambíguo na rua Pigalle, em 1951.
Fonte: wikipedia
QUEM MUITO SE EVITA, SE CONVIVE *
BERTOLT BRECHT
LISTAS DE PREFERÊNCIA
Dores, as não curtidas.
Casos, os inconcebíveis.
Conselhos, os inexequíveis.
Meninas, as veras.
Mulheres, insinceras.
Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.
Domicílios, os passageiros.
Adeuses, os bem ligeiros.
Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.
Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.
Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.
Cores, o rubro.
Meses, outubro.
Elementos, os fogos.
Divindades, o logos.
Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas."
eu te saúdo 2011. mesmo sabendo que os dias se desdobrarão em tardes sombrias e manhãs ressuscitadas. enquanto vivemos esse instante do dia primeiro, lembro Riobaldo explicando que toda saudade é uma espécie de velhice. e não é seu moço?