janeiro 21, 2011

MARIO BENEDETTI

Defesa da Alegria

Defender a alegria como uma trincheira

defendê-la do escândalo e da rotina

da miséria e dos miseráveis

...das ausências transitórias

e das definitivas


Defender a alegria como um princípio

defendê-la da surpresa e dos pesadelos

dos neutros e dos nêutrons

das doces infâmias

e dos graves diagnósticos


Defender a alegria com uma bandeira

defendê-la do raio e da melancolia

dos ingênuos e dos canalhas

da retórica e das paradas cardíacas

das endemias e das academias


Defender a alegria como um destino

defendê-la do fogo e dos bombeiros

dos suicidas e dos homicidas

das férias e do fardo

da obrigação de estarmos alegres


Defender a alegria como uma certeza

defendê-la do óxido e da sujeira

da famosa ilusão do tempo

do relento e do oportunismo

dos proxenetas do riso


Defender a alegria como um direito

defendê-la de deus e do inverno

das maiúsculas e da morte

dos sobrenomes e dos lamentos

do azar e também da alegria

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