outubro 30, 2014

BRECHT

"Não seria então
Mais fácil se o governo
Dissolvesse o povo e
Elegesse um outro?"  

DO MEU BLOQUINHO

.o sistema mediocriza. o consumo, imbeciliza. entre margens solitárias, busco preservar minha essência. q também não é lá essas coisas. é isso, em tempo de malhas sociais, o adubo é raso.

SERÁ?


À FLOR DA TERRA



“O que será, que será?
O que não tem certeza, nem nunca terá”

               Já fui mais fã do Chico. Assim como já fui Caetana... Rodava sem rumo pelo interior do Vale do Taquari tratando a alma de verde. Comigo uma garrafa de tinto, uns “cacetinhos” e um pedaço de queijo. Entrei por Forquetinha e fui me extraviando sem marcar ponteiros de espécie alguma. Na curva, uma ponte velha protegia a sanga mirrada, quase seca. Parei no meio e desci do carro. Olhei para baixo. Um homem pescava insignificâncias no filete d’água. Vi minha sombra lá embaixo e fiquei com medo de me jogar atrás dela.

“O que será, o que será?
que andam combinando no breu das tocas
que estão falando alto pelos botecos
que todos os avisos não vão evitar?”

               Entrei no carro, andei mais uns dez quilômetros. Num barranco, a sombra deliciosa - do que suponho ser uma Tipuana -  se refestelou para consagrar o primeiro cálice. Liguei o som  e me acomodei na intenção de curtir o momento como se vivesse una película Argentina, com direito a trilha sonora e fotografia. Cantava Simone, música do Chico Buarque. E tudo seria perfeito, se não fossem as conexões imagéticas que me transportaram para o bairro Americano onde moro, durmo, cozinho, penso, lavo roupa, transo, leio, troco lamúrias, arroz e risos com a vizinha.

“O que não tem certeza, nem nunca terá
O que não tem conserto, nem nunca terá
O que não tem tamanho”

               Um pedaço guloso de queijo entalou no esôfago. Bebi dois, três, cinco goles de vinho,  enquanto que a plantação de feijão do outro lado da estrada diluía-se aos poucos e as inconformidades se alteravam no peito. Só a música do Chico não se conformava ao Tempo. Era a canção um sopro fresco no mormaço do meio-dia. 
O que não tem remediação, o que não tem tamanho, é a estupidez dos sujeitos que empossados por cargos de comissão se outorgam o direito de impor a sua visão medíocre a respeito do meio-ambiente, da construção imobiliária e outras urbanidades. “Mutiladores de árvores e vândalos oficiais”, como se referia o ambientalista José Lutzenberger, em uma de suas cartas à prefeitura de Porto Alegre e de Estrela.

“Em todos os sentidos, será que será?
O que não tem decência, nem nunca terá
O que não tem censura, nem nunca terá
O que não faz sentido”
Não temos certeza de nada. Os caminhos são duvidosos. As contas bancárias são hipotéticas. E os indivíduos com formação universitária, de sexo feminino e masculino, vacinados, com título de eleitor em dia, se mostram autoritários e corruptos. Na espreita, aguardam seu próximo golpe...ópi...ópi...

Zonza, acordo com o som de uma carroça abastecida de pasto.
Uma mulher de idade vacilante cumprimenta com um aceno. Retribuo. Minha cabeça dói. Tem formigas no pão. O queijo azedou e o vinho fecundou a terra. 
Preciso urgentemente de uma água mineral gelada.